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Áudio e documento geram polêmica quanto ao uso da cloroquina em Santa Maria

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Tão crescente quanto os casos de contaminados e de mortes pelo novo coronavírus, é o número de mensagens que são propagadas sem um lastro de confiança. Em meio à pandemia, muitas pessoas têm se apegado à necessidade de um placebo ou, ainda, da adoção de algum tipo de programa profilático. 

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Acontece que, como já foi noticiado, um estudo de três instituições - Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia - recomenda que a cloroquina não seja utilizada no tratamento da Covid-19.

Nos últimos dias, circulou um áudio de pouco mais de 2 minutos de autoria do padre Xico Bianchin em que ele lamenta uma possível recusa do prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) para que Santa Maria receba um lote de 50 mil medicamentos. A gravação feita pelo religioso, ainda no último fim de semana, viralizou.

Padre Xico, na gravação, defende que se coloque à disposição os medicamentos e diz ser "incompreensível (...) privar os mais pobres dessa oportunidade" de tratamento. Soma-se a isso, o fato de, ainda na manhã de quarta, a bancada de vereadores do Progressistas ter ingressado com pedido para que a prefeitura faça a aquisição de medicamentos para viabilizar tratamento precoce nos casos da Covid-19 no município.

No documento, que também é assinado pelo vice-prefeito e pré-candidato à prefeitura, Sergio Cechin (PP), é solicitada a aquisição de hidroxicloroquina, azitromicina, zinco e ivermectina para serem disponibilizados à população por meio de prescrição médica. 

O QUE DIZEM
À coluna, o religioso limitou-se a dizer que o assunto é algo "ultrapassado". E acrescentou que a conversa "foi em âmbito privado". Já o vice-prefeito Cechin lamentou "o uso político-partidário" do tema:

- O que estamos propondo é que o município dê à sociedade uma oportunidade de tratamento ao cidadão. Os relatos dão conta de que muitas pessoas, ao terem utilizado um desses medicamentos ou, até mesmo, uma combinação desses remédios, tiveram melhoras. E o médico é quem prescreve. Há respaldo técnico. E tudo que vier a agregar, neste momento, não pode ser ignorado. 

AS 50 MIL DOSES DO MEDICAMENTO
A questão das 50 mil doses de cloroquina para Santa Maria, sem custo algum ao município, já vinha sendo tratada há quase um mês entre o prefeito Pozzobom e o general Manoel Luiz Narvaz Pafiadache, que ocupa a Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa. O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército já produziu mais de 3 milhões de comprimidos de cloroquina. 

O chefe da Casa Civil, Guilherme Cortez, explica que a vinda do lote está sendo pactuada junto à 4ª Coordenadoria Regional de Saúde (4ªCRS) e Associação dos Municípios da Região Central (AM Centro). Contudo, ele ressalva que o Executivo municipal manterá o que vem sendo preconizado pelas autoridades de saúde do município, do RS e do Brasil, que convergem para o entendimento de que não há nenhum protocolo para o tratamento da Covid-19.

Entendimento, aliás, que é o mesmo do MPF. A procuradora da República Bruna Pfaffenzeller, que tem acompanhado o tema da pandemia no município, salienta que "a opção pelo tratamento do paciente é ato médico".

- Conversei com médicos infectologistas que compõem o Conselho Estratégico de Gestão de Crise de Santa Maria, que externaram preocupação com a utilização indiscriminada destes tipos de fármacos para a obtenção de efeitos off label - diz Bruna.

FALTA VALIDAÇÃO
Pozzobom diz que não empregará dinheiro público para a compra de medicamentos sem comprovação científica: 

- Todos do conselho estratégico de saúde não validam a utilização de um tratamento precoce. Os médicos têm nos dito que não há comprovação da eficácia, sendo que há até um risco maior no emprego disso a um paciente dependendo do quadro em que se encontra. Da parte do poder público, não haverá tratamento precoce nem emprego de dinheiro público para compra desses medicamentos. Não haverá, contudo, uso em massa de algo que não tem comprovação científica e respaldo técnico. Porém, é bom que se diga que nunca nos recusamos a receber a cloroquina. Tanto é que estamos agilizando a vinda da remessa por meio da AM Centro junto com a 4ªCRS. Porém, não posso interferir no que um médico venha a receitar a um paciente.

O prefeito, contudo, lamentou o uso político para atingir os rumos do governo frente à pandemia:

- Há, e o que me entristece, é o uso político de alguns que estão agindo de má-fé de forma leviana em um momento tão grave e delicado. Mas não vou entrar neste jogo baixo e sujo.

TESTES E HOSPITAL REGIONAL
Em live na noite desta quinta-feira, Pozzobom tratou sobre outros temas além dos comprimidos de cloroquina e o repasse do medicamento pelo governo federal. O prefeito e o chefe da Casa Civil, Guilherme Cortez, falaram sobre os repasses de verbas da União para o enfrentamento da pandemia. Segundo Cortez, o município está recebendo um total de R$ 36,6 milhões, pagos em quatro parcelas. Até agora, foram recebidos R$ 18,3 milhões, empregados na compra de insumos, equipamentos de proteção individual, pagamento da folha do funcionalismo público municipal e nas atividades desempenhadas pelos Centros de Referência em Assistência Social (Cras). 

Pozzobom também abordou o número de testes rápidos realizados na cidade (mais de 11 mil), assim como os RT-PCR (mais de cinco mil), com apoio da Universidade Federal de Santa Maria, do Hospital Universitário e da Universidade Franciscana.

Por fim, o prefeito falou sobre a disponibilização de mais 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o tratamento de Covid-19 no Hospital Regional nos próximos dias. Ele afirma que o hospital aguarda a chegada de equipamentos para inaugurar a ala.

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