Foto: Renan Mattos (Diário)
Uma vez me foi dito, por uma fonte de fora daqui, que "Santa Maria tem pensamento de cidade grande, mas atitude interiorana". À época, não coloquei muito sentido. Mas, hoje, essa frase me veio à cabeça depois que a prefeitura recuou na retirada do estacionamento da segunda quadra da Rua Dr. Bozano. Um projeto experimental que vinha sendo executado com um propósito interessante e que é o que já acontece nos grandes centros urbanos: a valorização dos pedestres. Ou seja, restrição de estacionamento e, por tabela, de circulação de veículos no perímetro urbano.
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Isso - circulação de pedestres - é o que acontece nos centros urbanos desenvolvidos. Mas não aqui. Não se trata aqui de defender a prefeitura. Pelo contrário. O projeto, inclusive, não é lá grandes coisas: o visual - tirando o parklet (espaço de convívio interessante com apoio da iniciativa privada) - é, no mínimo, de mau-gosto. Mas mais do que se preocupar com estética, o importante é que o centro seja um espaço de circulação de pedestres e de veículos de transporte coletivo.
Lojistas daquela quadra chegaram a dizer que as vendas - com o fim do estacionamento - caíram pela metade. Como assim? As vendas são mensuradas por circulação de veículos, é? Se é assim, então, o Calçadão ou a Rua do Acampamento estariam às moscas. Até porque não há estacionamento (exceto privado) nesses locais.
Ainda em 2015, o plano diretor de mobilidade urbana mostrou o que o mundo desenvolvido já sabia (mas não aqui ainda): a prioridade é o pedestre.
Em material institucional, encaminhado pela prefeitura nesta manhã, é dito que a suspensão do projeto do Re. Viva Bozano atende um "planejamento estratégico que visa o desenvolvimento de Santa Maria". Que estratégia é essa e, mais, que desenvolvimento é esse? O material ainda traz que a população foi ouvida. Foi, é?
Os lojistas, sim, daquele nicho restrito foram ouvidos e ganharam da prefeitura no grito (e com o barulho das redes sociais). O fato é que é muito cômodo largar o carro na frente de onde trabalha ou ainda demarcar com cones - sob a justificativa de carga e descarga - suas próprias vagas de estacionamento.
Faltou ao Executivo municipal não ceder ao lobby e à pressão. Mas é aquilo: a população é, sim, lembrada. Porém, isso ocorre com um período bem delimitado: a cada quatro anos.