data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Mateus Bonomi
O Brasil vive, mais uma vez, um delicado e perturbador momento: quando um deputado federal, eleito por voto popular, fala em um "novo AI-5", temos, aí, a demonstração de um desvio comportamental e um flerte perigoso com a tirania e, principalmente, um desejo pelo fim da democracia. Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) vê na mordaça a saída para dar uma resposta mais contundente à esquerda.
Esquerda e direita hoje no Brasil rivalizam e também radicalizam, o que é próprio e a essência de um ambiente de enfrentamento político-partidário de quem está em campos opostos. O fato de o PT, PC do B, PSol e similares, estarem sedentos para que a gestão bolsonarista fracasse, não justifica um gosto de ver opositores empalados. Bem verdade que a esquerda não assimilou a derrota no pleito de 2018. Mas é, como dizem, "do jogo". Até porque ela imaginou que conseguiria se perpetuar no poder ad infinitum, o que não aconteceu.
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Tão ou mais radical tem se mostrado a direita, liderada por um PSL fragmentado e pelo clã Bolsonaro, que vive com uma mentalidade presa aos tempos da Guerra Fria. Até aqui, Bolsonaro e seus filhos mostram que são bons em causar tumulto e ameaçar instituições por meio das redes sociais. Enquanto isso, a equipe econômica e alguns (sérios) militares técnicos - a exemplo do que ocorre na Infraestrutura - trabalham para apresentar resultados à nação. A direita, representada pela família Bolsonaro, é como o cachorro que corre atrás do carro e, quando entra nele, não sabe o que fazer.
Ao ter sido eleito pela maioria dos brasileiros, gostando ou não, Bolsonaro é o presidente dos brasileiros, ainda que demonstre um despreparo fora de qualquer régua possível de medição. O filho dele ao defender um AI-5 debocha dos próprios eleitores e da nação, já que o AI-5 foi considerado o "golpe dentro do golpe" em decorrência do recrudescimento, sem precedentes por parte dos militares, com a sociedade.
A exemplo de Frankstein, em que a ideia do cientista era criar um ser humano, mas que acaba dando vida a um monstro, Bolsonaro foi gestado no ninho petista e alimentado por um PSDB insosso que, desde FHC, jamais teve um nome competitivo à presidência. Petistas gostaram do poder e fizeram o que fizeram. Tucanos seguem, bem acomodados, junto ao muro daqueles que não se posicionam por nada.
Em meio a isso tudo, há um DEM que quer posar de bom moço e ponderado no famoso Centrão, que se move conforme os ventos sopram (muito parecido com o MDB, pai do fisiologismo). Para colaborar o quadro dos que não ajudam em nada, há o Novo que acha que a receita do bolo, para administrar um Brasil complexo, está no "entreguismo" desmedido e em um Estado mínimo, que é a antessala para um estágio de convulsão social.
Não temos quem se apresente hoje como uma voz sensata e que, verdadeiramente, represente os anseios de uma sociedade que só é lembrada e penalizada ao pagar tributos asfixiantes e que não recebe, absolutamente, nada em troca.
O fato é que, infelizmente, no Brasil de hoje há quem alimente o sonho por um novo AI-5 como que se a supressão de direitos constitucionais, o fim das eleições diretas, a censura e a tortura fossem algo a ser comemorado. Um dos mais sérios e íntegros políticos brasileiros, Ulysses Guimarães, disse há mais de 30 anos que deveríamos sempre "amaldiçoar a tirania". Sigamos lembrando e, mais, querendo que essa maldição seja duradoura.