marcelo martins

Para romper com a ignorância, leia (e muito)

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Quando o italiano Dante Alighieri percorreu os nove ciclos do inferno, na conhecida obra A Divina Comédia, ele esbarra em um recado amedrontador ao chegar na porta de entrada do mais temido lugar que habita, desde sempre, o imaginário do homem, o inferno. Lá, está fixada a seguinte mensagem: "deixai toda a esperança, ó vós que entrais". A obra do Renascimento, escrita há mais de 700 anos, se mantém extremamente atual e digo porquê.

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Abdicar da leitura ou achar que se trata de algo frívolo é como mergulhar de cabeça no Cócito, o lago congelado que fica no centro do inferno, como relata o viajante errante à procura de redenção. O que Dante viu nesse lago, que fica no nono círculo, são almas submersas no gelo apenas com a cabeça e o peito de fora. Muito semelhante ao que se vê, hoje em dia, entre jovens que, sem exagero algum, ficam o dia todo presos a telas de celulares e perdendo horas dando likes e fazendo selfies e, não raro, reproduzindo "argumentos" de blogueiros que hoje viraram formadores de opiniões. Tão ou mais, na maioria das vezes, despreparados e sem conhecimento quanto quem consome esse tipo de conteúdo. Ou seja, uma relação simbiótica de soma zero.

Ao percorrer o inferno, o purgatório e o paraíso, em uma extensa odisseia que é extremamente descritiva com inúmeras imagens do inferno e do purgatório (mas quase nenhuma do paraíso), Dante se depara com amigos, conhecidos, figuras públicas, papas e tantas outras pessoas. É tudo tão real que, se transportado fosse para as redes sociais de hoje, seria a certeza de inúmeras curtidas por dedos nervosos e sedentos por ver o mundo apenas na tela de um aplicativo.

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PRECURSOR 
Para quem acha que literatura é perda de tempo vou tentar, aqui, demonstrar o que Dante fez, para a época, seja tão assustador quanto uma obra de de Stephen King, considerado o mestre do terror. Imagine que, no século 13, Dante ao iniciar o périplo, cruza aquele que é considerado o primeiro dos rios do inferno, o Aqueronte, o mesmo rio pantanoso presente na Odisseia de Homero, e que também ilustra imagens de CDs dos metaleiros do Iron Maiden.

Em uma época em que a leitura se tornou hábito raro entre jovens, o consumo de literatura foi trocado pelo compartilhamento de bobagens por aplicativos de celular, e o saldo disso é tudo é um só: o embotamento e uma atrofia da capacidade de pensar e de leitura do mundo. O livro, seja ele físico ou na tela do smartphone, é libertador, é redentor. 

A exemplo de Dante que tem um sonho e acorda no meio de uma selva escura e frente a três feras, muitos hoje estão embretados na selva da ignorância e do desconhecimento do mundo da leitura. Então, busque conhecimento como quem vai atrás de wi-fi. 

SEM RECEITUÁRIO
Comece, apenas uma sugestão, pelos clássicos da literatura nacional e internacional. Não perca tempo com livretos que trazem os mais variados "receituários" como, por exemplo, economizar dinheiro, ter uma carreira, criar filho, ser feliz ou rabiscar em livros...Isso é, no mínimo, uma demonstração de incapacidade de lidar com a própria realidade, leia o que agrega e o que instiga.

A Divina Comédia é o que há de mais moderno em termos do que a vida é: não se trata da epopeia de um herói (seja da ficção ou da realidade). Mas, sim, da narrativa de um homem sujeito às tentações e como ele se porta e contorna as dificuldades que vão se revelando pelo curso da vida. Comece, então, por este livro a sua viagem libertadora da ignorância e do pensamento autômato. 

Confie a Virgílio, o poeta romano que serve de guia de Dante do inferno ao purgatório, e, depois, seja levado pela musa inspiradora de Dante, Beatriz, que o conduz até o paraíso. O próximo passo aí é com você neste novo mundo que se abrirá.Dante percorreu o inferno, o purgatório e o paraíso em sete dias.

É tempo mais do que suficiente para você também escolher onde quer estar.

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