coluna marcelo martins

Nem a caserna está imune à crise

Foto: Renan Mattos (Diário)

A Santa Maria da cidade universitária e da capital dos blindados se vê frente a um mesmo cenário: o dos cortes promovidos pela gestão Jair Bolsonaro (PSL). Do lado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o contingenciamento se faz presente desde o primeiro trimestre e a instituição tem retido R$ 74 milhões por parte da União. Agora, ao que tudo indica, a baioneta atingirá os militares. Ainda na última sexta-feira, o militar alçado à Presidência da República avisou que "o Brasil todo está sem dinheiro" e complementou: "o Exército vai entrar em meio expediente", já que "não se tem comida para dar para o recruta". Porém, até agora, as 20 unidades da cidade - que somam mais de 9,5 mil militares - não reduziram expediente nem tiveram de dispensar recrutas por falta de comida.  

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O saldo disso tudo é que a economia de Santa Maria - calcada no dinheiro que orbita em torno da UFSM e do Exército Brasileiro - será severamente atingida. Basta uma revisão contratual, a exemplo do que a UFSM fez, para que tenhamos demissões de terceirizados e, assim, o dinheiro deixa de circular. Da mesma forma que, uma vez o Exército revendo demandas contratuais, ou, hipoteticamente, dispensando recrutas, a economia local é minada. Uma obra interrompida ou que não saía, seja no Exército ou na universidade, é recurso que deixa de fazer a economia girar e, aí, se cria uma estagnação. Um verdadeiro jogo de soma zero em que ninguém ganha, exceto aqueles que fazem deste cenário trampolim político.

Prova maior que Santa Maria é movida pela "indústria do contracheque" são os números em torno da União. Mais de 90% do orçamento da UFSM, de R$ 1,3 bilhão, fica com folha de pagamento. Já os militares injetam mais de R$ 500 milhões - entre salários de ativos e inativos - e demandas com terceirizados. A efeito de comparação, o orçamento projetado da prefeitura para este ano é de R$ 785 milhões.   

Por tudo que está sendo visto e vivido neste 2019, até mesmo a "indústria do contracheque", sempre nossa tábua de salvação, está sendo colocada em xeque. Parte deste problema de hoje, bem verdade, se dá por jamais a cidade ter feito o seu dever de casa. Ou seja, Santa Maria - nos últimos 20 anos - não conseguiu se reinventar economicamente e segue presa a uma matriz econômica fadada a ciclos de altos e baixos. Agarrada a um comércio, em sua maioria (há exceções), provinciano e que deu certo nos anos 1980 e meados dos 1990. Atrelada a um setor de serviço deficitário e nada competitivo. Somos uma cidade que, eventualmente, alça voos de galinha. Mas que nunca experimentou um período de crescimento efetivo e sólido.

Gestores e as chamadas forças vivas da cidade seguem agarrada às bengalas e a receituários que deram certo no passado. Mas que hoje são obsoletos. Exemplos elucidam bem essa capacidade de Santa Maria "andar para trás" como caranguejo: uma cidade que não é capaz de abrir os mercados aos domingos e sequer consegue promover uma mudança no centro da cidade (como a ampliação da 2ª Quadra da Bozano). Continuamos sendo incapazes de fazer com que cases de sucessos, nascidos dentro de incubadoras da UFSM e do Tecnoparque, se mantenham aqui. Aqueles que ainda se mantêm aqui, o fazem por uma questão meramente de conveniência e porque, certamente, ainda não surgiu melhor oportunidade de sair.

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