marcelo martins

A noite em que o TSE abriu a janela para a volta do voto em papel

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O domingo de expectativa pela definição dos rumos dos 5,5 mil municípios brasileiros bem como dos Legislativos locais foi marcado por uma demora que, em muito, lembrou a época em que todos iam às urnas para votar em cédulas de papel. O primeiro turno das eleições municipais de 2020 foi marcado por problemas registrados na ferramenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançada com o objetivo de facilitar a vida do eleitor e lentidão da divulgação da apuração dos resultados.

Segundo o tribunal, o atraso para a divulgação dos resultados começou a ser resolvido pelos técnicos no início da noite de ontem. Porém, nada disso aconteceu em tempo. Essa foi a primeira eleição municipal em que os dados vieram direto das seções eleitorais para serem totalizados no TSE.

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O Tribunal informou, ainda na noite de ontem, que o problema não tinha relação alguma com qualquer tentativa de ataque cibernético, que aconteceu na manhã de ontem e, conforme o Tribunal, foi neutralizada, segundo afirmou mais cedo o presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso.

MUDANÇA TUMULTUOU TUDO

O TSE, quando questionado, informou que a demora na totalização de votos está relacionada à alteração promovida pela Corte para centralizar os dados no tribunal superior, e não mais nos TREs, como era até o pleito passado.

EFEITO PREVISTO

Essa situação, contudo, trará consequências gravíssimas à imagem do TSE. Infelizmente, os saudosistas do método da eleição decidida por cédulas de papel voltará a ser cogitada e, principalmente, reivindicada por uma parcela da sociedade. Até porque grupos descontentes utilizarão, com impressionante frequência, o discurso de fraude cada vez que o resultado da eleição não for a do lado pleiteado. 

DESTA VEZ, NÃO HOUVE O PREVISTO "EFEITO BOLSONARO"

O pleito municipal, nas mais variadas cidades do país, não teve o esperado "efeito Bolsonaro". Ou seja, candidatos ligados ao presidente da República não tiveram a vida facilitada para trilhar o caminho da vitória. Não raro, aqueles que tentaram, como estratégia, "apenas" ter como plataforma de governo o fato de pensar e ser do "mesmo time" de Bolsonaro, não foi suficiente para emplacar o postulante bolsonarista.

Se o 2018 foi o ano marco para a onda conservadora de direita varrer o país praticamente de norte a sul, agora se viu, ainda que a apuração não estivesse concluída até a noite de ontem, houve uma volta do centro.

ESQUERDA AVANÇA

Da mesma forma, ainda que de forma menor, a esquerda - que foi alvo de uma incineração puxada pela Lava-Jato - volta a mostrar que está se reestruturando. Exemplo disso é o avanço da candidatura de Manuela D'Ávila (PCdoB) na capital gaúcha. Também, sob a esteira de uma recomposição da esquerda, o PSol na maior cidade do país, São Paulo, mostrava até ontem estar no páreo com o nome de Boulos contra o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB). Em se tratando de São Paulo, a tarefa da chamada "esquerda-esquerda" é quase que hercúlea: tirar o PSDB do comando da maior cidade do Brasil é, no mínimo, algo inimaginável.

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Claro que, ainda é tudo muito incipiente, até porque a apuração ainda estava em aberto em praticamente todo o país. Mas, assim como a vida, tudo é cíclico e nada é perene. A direita de hoje dá lugar à esquerda, seja hoje, ou, no máximo, amanhã.

O MOMENTO EM QUE O ESTADO PRECISA DE TODOS

Um dos mais importantes e notórios políticos brasileiros, ainda que alguns não o conheçam, Roberto Campos costumava dizer que "o bem que o Estado pode fazer é limitado, o mal, infinito". Neste domingo, tivemos a possibilidade de reforçar a crença de que as instituições do país funcionam a contento. Ainda que, nem sempre tudo seja um céu de brigadeiro, a sociedade tem a, cada quatro anos, a possibilidade de rever os rumos ou, então, de apostar na continuidade daquilo que julga melhor para onde se vive: a cidade.

Entre erros e acertos, a engrenagem vai sendo azeitada. Esperamos que a sociedade brasileira, cada vez mais, reforce a crença nas urnas, que é o foro apropriado para se reivindicar o que queremos. Discursos e textos em rede social de nada valem, sem a efetiva e real participação cidadã, que é nas urnas. A jovem democracia brasileira e o eleitor devem ter a nitidez e a razoabilidade de fazer uma distinção entre os candidatos que se apresentam: não há possibilidade de esperanças em programas de governos irrealizáveis.

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Ainda que o TSE tenha deixado todos - eleitores e políticos - em compasso de espera, o sentimento de descrença foi "semeado". Entretanto, se irá, de fato, "vingar", já é outra situação. Esperamos que o ministro Luis Roberto Barroso, sempre uma voz ponderada e que joga luz em meio ao obscurantismo do fanatismo de alguns, possa reacender a fagulha da esperança em todos nós.


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