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A 'delação' de Moro e o começo do fim de Bolsonaro

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Gabriela Biló (Estado de S.Paulo)

O ocaso do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve início nesta sexta-feira com a saída do ex-juiz Sergio Moro, que ocupava o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Vimos, por cerca de 40 minutos, o magistrado expor os motivos que o levaram a pular de uma embarcação, que já se mostra avariada e colapsada. O ícone das investigações da operação Lava-Jato, quase sempre monossilábico e avesso a entrevistas, chamou uma coletiva à imprensa e, em bom português, lavou a roupa suja.  

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Desta forma, Moro pavimentou o começo do processo de impeachment que Jair Bolsonaro deve, muito em breve, ser submetido. Fiador desse processo, que será desgastante, mas necessário ao país - que, ultimamente, tem tido nos vices mais entrega e sobriedade do que os titulares -, Moro explicitou os crimes de Bolsonaro: a interferência política na condução dos trabalhos da Polícia Federal e, ainda, o crime de falsidade ideológica (na exoneração de Mauricio Valeixo do comando da PF).

A preocupação de Bolsonaro sempre foi uma: impedir com que as investigações da PF chegassem ao núcleo-base da família dele. Ou seja, aos filhos do presidente, que estariam, conforme a própria PF apurou, diretamente ligados a uma rede de disseminação das chamadas fake news. 

O que, aliás, é motivo de um inquérito policial - determinado pelo STF -, já que bolsonaristas em redes sociais vinham (e seguem assim) incitando atos de fechamento do Congresso e do próprio Supremo. 

A "delação" de Sergio Moro tem o efeito de uma implosão dentro do governo Bolsonaro que, agora, irá reverberar junto à classe política que vai, dentro do processo democrático legítimo e legal, pedir o impeachment do mandatário da nação. A exemplo do que se fez com Collor e Dilma. 

PRESSÃO
Moro afirmou que frente às pressões de Bolsonaro, que insistia em ter acesso às investigações e ao trabalho da PF, estava "sendo forçado a sinalizar uma concordância com uma interferência política" na PF.

Moro deixou claro que, em pouco tempo de comando do ministério, Bolsonaro evidenciou (o que não é nenhuma surpresa) que jamais teve qualquer preocupação com a manutenção e o respeito às instituições e ao próprio Estado democrático de direito. Assim, Bolsonaro que era acostumado com acordos e práticas típicas de políticos do baixo clero - ao ter quase 30 anos como deputado - tentou a todo custo manter o mesmo jeito de fazer política do lado de dentro do Planalto.  

O GRANDE ERRO
Bolsonaro, contudo, não dosou os passos tampouco se flagrou que estava brincando com fogo ao transgredir a lei e ao ferir a Constituição tendo ninguém menos que Sergio Moro no governo. O ápice desse desgaste veio quando o presidente tentou ter o total controle da PF. A exemplo de um déspota, com comportamento de um ditador, quis aparelhar e se apropriar da PF. 

O choque da saída de Moro foi ainda maior pela forma como ele expôs a sequência de crimes de Bolsonaro no comando da nação. O presidente que, no passado recente, ao anunciar Moro como ministro referiu-se a ele como um "patrimônio nacional", vê-se perdendo o pouco capital político e apoio popular que mantinha. 

E AGORA?
Se Moro, no passado, falhou e errou ao virar ministro de Bolsonaro - a alegação dele sempre foi que o presidente o deu "carta branca" à frente da pasta -, Moro agora reverte qualquer mácula que pudesse recair sobre ele. O ex-juiz ao deixar o ministério com o objetivo de "preservar a biografia" e ao escolher estar sempre do lado da lei, sai ainda maior do que entrou no governo. 

E se havia alguém, ainda, que acreditava na construção do mito (que jamais existiu), muito alavancada pelas redes sociais e seus seguidores, ele desmoronou. Bolsonaro voltou a ser o que sempre foi na política nacional: um político inexpressivo que começa a sofrer um processo de desidratação, o mesmo, aliás, que ele submeteu seus ministros que o ofuscaram. Nos 16 meses à frente do ministério, Moro adotou, e colocou em prática, o seguinte lema: fazer a coisa certa sempre. O que rende desgastes, mas confere credibilidade. 

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