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OPINIÃO: O problema não somos nós

Santa Maria acordou mais triste essa semana. A universitária Fernanda, de 22 anos, foi morta. Apresentava sinais de perfuração no pescoço e enforcamento com fio de computador. Principal suspeito? Um rapaz, com a mesma idade. Era seu namorado. O crime aconteceu no centro da cidade, próximo da Delegacia da Mulher.

Notícias de crimes de ódio contra as mulheres crescem na Região. Quem não lembra do recente caso da jovem de 24 anos que foi imobilizada pelo seu cônjuge, em uma rua central em São Gabriel, tendo recebido um golpe de faca no pescoço, vindo a falecer? Nesse mesmo município, outra senhora, a qual já contava com medida protetiva contra o ex-companheiro, foi morta, por ele, em dezembro. Na pequena cidade de Lavras do Sul, no mês de fevereiro desse ano, um homem que já havia sido denunciado matou a ex-companheira e logo depois se suicidou. Esses são apenas alguns dos últimos casos de feminicídio no centro do Estado. O que há de comum entre as situações? Geralmente eles não aceitam ser contrariados e o término de um relacionamento. A cada uma que morre, morremos um pouco. Mas não podemos perder as forças. Se preciso for, iremos gritar pelo direito à vida. Mas não qualquer vida. Queremos a vida com qualidade, justiça, direitos e alegrias. Deveres já temos, muitos. Todos empurram obrigações para as mulheres. A responsabilidade do cuidado com os filhos, da casa, com os idosos da família, além, é obvio, de que muitas estão no mercado (desigual) de trabalho e necessitam conciliar todos esses afazeres. Tudo isso sem reclamar, deprimir ou ter algum ataque de fúria, pois seremos chamadas, no mínimo, de loucas.

Os dados assustam. A Agência Brasil divulgou que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) manifestou preocupação quanto à elevada incidência de assassinatos de mulheres no Brasil, no início deste ano. Segundo a comissão, 126 mulheres foram mortas em razão de seu gênero no país desde o início de 2019, além do registro de 67 tentativas de homicídio.

Enquanto crescem os números de violência de gênero, ouvimos o depoimento de um vereador de Nova Petrópolis sobre esse assunto, referindo que "mulher que se preste, decente, não dá problema". Sinceramente senhor vereador, creio que o problema não somos nós.

Apesar das muitas notícias de mulheres queimadas, esfaqueadas e enforcadas, é bom lembrar que morremos de muitas outras maneiras. Tão grave quanto o fim físico é a morte social imposta ao feminino. A violência do cotidiano, que desvaloriza a voz e ações femininas, precisam urgentemente serem deslegitimadas.

Mas o que há de errado com os meninos? Talvez seja necessário refletir sobre a educação recebida ao longo da vida. Os guris podem tudo e as gurias quase nada? Enquanto ele corre livre, as pequenas já estão ajudando as mães com os cuidados da casa? É assunto recorrente, mas ainda assistimos essas cenas no cotidiano dos lares. Importante pensar nas violências praticadas contra eles no momento que, ainda crianças, ouvem, repetidamente, as frases: "meninos não choram", "homens são fortes", "não podem falhar", "vai lá e bate também".Precisamos desconstruir essa cultura machista. Meninos podem embalar bonecas e chorar ao ver um filme. Isso não abalará sua masculinidade. Talvez os tornem mais sensíveis, o que seria ótimo. Provavelmente na hora de não concordar com o posicionamento de algum amor no futuro, não sejam violentos. Saibam argumentar e entender que a hora do fim de um relacionamento não é tão desesperadora.

É urgente que o Estado repense mecanismos de prevenção. Fundamental implementar redes de apoio para meninas e mulheres que denunciam casos de abuso. Sabemos que muitas não protestam pelo medo das reações. Não sejamos omissas(os). Façamos alguma coisa, já!

No último domingo, mais um caso, dessa vez no centro de Santa Maria. Uma universitária de 22 anos perdeu a vida pelas mãos do namorado, que também cometeu suicídio logo após o ato.

É preciso refletir também sobre a violência praticada contra os meninos. Essa cultura de que "menino não chora", "menino é forte", "homem que é homem aguenta", pode ter reflexos nos comportamentos futuros desse homem. Como ele vai aguentar algo que foi treinado a não suportar? Uma simples ideia que contrarie sua vontade pode ser fatal. Que tal dizer aos guris que sim, é possível sentir afeto, carinho...

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