Há expressões que são ditas e perpetuadas, mas nem sempre se sabe o significado delas. Uma dessas é a chamada "vitória de Pirro", que é quando se vence sob um alto custo. E, provavelmente, com danos irreversíveis que só serão sentidos logo ali adiante. Digo isso porque a disputa à prefeitura de Santa Maria ganhou, nos últimos dias, contornos que vão além do que se imagina e se preconiza dentro de um embate eleitoral, que é essencialmente político-partidário.
Leia mais colunas de Marcelo Martins
O plausível e o aceitável foram deixados de lado. O caminho seguido foi o da beligerância e, não raro, o da leviandade. Dentro do contrato do que se prevê um embate, ainda que duro e incisivo, foi colocado um aditivo com cláusulas nada republicanas: a disseminação de fake news, discursos de ódio e a preocupante fala de terra arrasada.
O que se vê, nesta reta final, é uma execração - seja velada ou aberta - de trajetórias de vidas (pessoal e política) entre os dois concorrentes. Agravante ainda maior é a falta de lucidez e de razoabilidade de ver o básico, e que está descortinando para todos (ao menos, para o público geral): Jorge Pozzobom e Sergio Cechin são, sim, adversários. Mas, antes de tudo, são colegas siameses que integram o mesmo governo.
SEM MUNDOS PARALELOS
Não há realidades paralelas. Ambos orbitam o mesmo nicho: a prefeitura de Santa Maria. Os gestos de negação e de quererem se dissociar do que eles são - parte do mesmo governo - fazem parte das estratégias de campanha. Tudo válido, tudo certo. Ainda que isso cole apenas aos partidários.
O que não podia, mas agora já aconteceu, é o aceno de gestos que, infelizmente, colocaram a apresentação de propostas e de saídas para o enfrentamento dos mais variados problemas em segundo plano.
A capitulação do processo eleitoral foi uma escolha. Assim como é uma escolha dos santa-marienses irem ou não às urnas no próximo domingo.
Esperamos que, independentemente do resultado, o candidato vencedor não carregue o sentimento da célebre frase de Pirro que, ao fim de uma das extenuante batalhas, admitiu "mais uma vitória como esta, e estou perdido." No caso, quem também perde com o jogo sujo é a sociedade que se desmotiva - e erra - ao abdicar de ir às urnas.