tradição em são gabriel

VÍDEO: conheça Atos Quinhones, um dos últimos carreteiros do Estado

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: arquivo pessoal
As fotos de Nelto Atos Quinhones (à dir.) ao lado do presidente da 18ªRT, Marcio Davila, chamaram atenção nas redes sociais do MTG

"Piazito carreteiro, que ainda de madrugada, sai repontando a alvorada, lá pro fundo da invernada, pra onde a noite se ausentou". Esses versos do gaúcho Luiz Menezes servem muito bem para retratar a vida de Nelto Atos Langendorf Quinhones, 57 anos. O morador de São Gabriel ganhou destaque nas redes sociais nessa semana, após a página do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) compartilhar uma foto dele "carreteando" pelas ruas da cidade e vendendo batata-doce, a uma de suas fontes de renda.


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Seria Quinhones o último dos carreteiros? A prática antiga, comum no interior do Rio Grande do Sul, em que se usa uma espécie de carroça puxada por bois, está em extinção, segundo a percepção do próprio comerciante. Ele conta que aprendeu a profissão, a partir dos 7 anos, com o pai, Gregório Langendorf Quinhones.

- De carreta, meu pai levava batata-doce, galinha, amendoim, queijo e até melancia para a cidade - lembra ele.

O carreteiro conta que leva dois dias para chegar até a Zona Urbana. No meio do caminho, dorme na propriedade de um amigo. Ao entrar nos bairros, ele vai de porta em porta para vender o que produz na localidade de Lagões, onde reside.

- Geralmente, saio na segunda-feira e chego terça-feira, de tardezinha. Estou vendendo bastante. Então, não tenho me demorado muito na cidade - diz.

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NOVOS TEMPOS
Quando questionado sobre as dificuldades da jornada até chegar à casa dos clientes, Quinhones lembra das décadas passadas e, com descontração, diz que hoje está "bem mais fácil". As vezes em que dormiu na estrada, na própria carreta, ainda estão vivas na memória do agricultor. Ele garante que jamais trocaria os bois por uma caminhonete, por exemplo.

- O "brabo" era quando chovia. Os bois disparavam, e cansei de acordar de madrugada para impedir que fugissem. Faz parte do instinto deles voltar para casa. E não tinha luz. Hoje em dia, a carreta chama muita atenção. As pessoas pedem para tirar foto, se aproximam, me ajuda a vender - alegra-se.

INTERNET
A nostalgia tomou conta dos comentários da publicação do MTG, que chegou a 1 mil reações. O que mais se lê são usuários comentando "meu pai era carreteiro", "que saudade de ver um carreteiro", "isso que é tradição raiz", e outras frases do tipo. Nas fotos, ele aparece ao lado do presidente da 18ª Região Tradicionalista (RT), Marcio Davila.

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HISTÓRIA
A historiadora e publicitária Tainá Severo Valenzuela, mestre em Patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), explica que os carreteiros, ao longo da formação social do Rio Grande do Sul, eram aqueles percorriam distintas localidades, formando uma rede de comércio e comunicação.

- Os produtos comercializados eram variados, desde alimentos e tecidos até materiais de guerra. Os carreteiros serviam como mensageiros, já que os recursos de comunicação eram escassos - pontua Tainá, que também é a idealizadora do canal História no Boteco da Tai, no YouTube.

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As contribuições desses homens foram perpetuadas. O arroz a carreteiro, por exemplo, era um prato feito por eles que está na mesa dos gaúchos até hoje. Os carreteiros abriram estradas e ligaram o Estado com outras regiões do país e do continente. Tainá diz que a atividade não desapareceu, mas tornou-se rara, sendo exercida especialmente no interior.

Gaiteiro nas horas vagas, Quinhonez compôs uma música para falar do seu ofício, Apetrechos de Carreteadas, que trata de lidas e foi gravada por Marcelo Lagarto. A música está disponível no YouTube.

- A gurizada não quer mais trabalhar com isso. Falta uns três anos para eu me aposentar, mas, se Deus me der saúde, vou seguir trabalhando. Eu gosto do que faço - comenta o carreteiro.

*Colaborou Rafael Favero

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