Caso gabriel

Depoimentos contraditórios, comoção e pedidos de justiça da comunidade marcam a reconstituição do Caso Gabriel


Nem a chuva impediu que moradores do Bairro Independência e de outros bairros de São Gabriel acompanhassem a reconstituição do caso Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, encontrado morto após uma abordagem de policiais da Brigada Militar (BM). O trabalho foi realizado por peritos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) do departamento de criminalística de Porto Alegre, que foram à São Gabriel para realizar a reconstituição. Além dos três policiais acusados da morte do jovem, cinco testemunhas prestaram depoimento aos peritos do IGP e participaram da parte prática.

Após quase 14 horas de trabalho, a perita criminal que coordenou as ações afirmou que os três policiais deram relatos praticamente idênticos e negaram qualquer agressão. Já as testemunhas deram várias versões, inclusive de que Gabriel foi agredido com um tapa e a golpes de cassetete. O laudo pericial não tem data para ser divulgado.

O trabalho solicitado pela Polícia Civil foi dividido em duas etapas, a primeira, foram os depoimentos. Cada um contou como tudo aconteceu na noite da abordagem e do desaparecimento do jovem. O objetivo é apurar as circunstâncias da morte do jovem, e apontar se as versões apresentadas pelos envolvidos são compatíveis com as demais provas periciais.

As duas adolescentes que estavam na casa em que Gabriel foi abordado em frente e viram a abordagem foram as primeiras a falar. A terceira foi a mãe de uma delas, que é a dona da casa. Logo em seguida foi uma vizinha e fechando as testemunhas, o trabalhador rural Paulo Roberto Medina dos Santos, 57 anos. As duas adolescentes foram ouvidas em uma sala especial, apenas com a presença da responsável e das duas peritas. Os últimos a darem a versão sobre o que aconteceu foram os três policiais militares acusados pelo homicídio.

A segunda parte foi a da reconstituição em si nos locais citados nos depoimentos, a Rua Sete de Setembro no Bairro Independência e a estrada que vai à barragem na localidade do Lava Pé.

Na etapa da fase presencial, as testemunhas demonstraram para as peritas criminais, separadamente, as suas versões sobre os fatos envolvendo a morte de Gabriel. Todos os passos foram registrados pelo fotógrafo criminalístico da equipe. Os acusados apresentaram versões similares, e por isso, a execução dessa fase foi realizada conjuntamente. A maior parte da ação aconteceu em frente à casa onde Gabriel foi abordado. Já a parte final aconteceu na localidade de Lava-pé, onde os policiais afirmaram que deixaram o rapaz ainda com vida.

Nove policiais civis representaram a vítima e as demais pessoas citadas durante as oitivas e a Brigada Militar fez o isolamento do local. Um policial vestido com bombacha, alpargata e com uma camiseta parecida com a que Gabriel vestia quando desapareceu fez o papel do jovem durante as encenações na frente da casa. A mãe, se emocionou ao ver o policial e imaginar o filho.

Público

Com gritos de assassinos e pedidos de justiça, os moradores acompanharam todos os detalhes pela madru O gada a dentro. De tempos em tempos, a rua silenciosa cheia de olhos curiosos aglomerados nas fitas de isolamento, nas portas das casas ou nas calçadas davam lugar a gritos bem altos de desabafo. Para a dona de casa Adriana Dias Ribeiro, 44 anos, foi muito grave o que aconteceu.

- Eu não conheci ele e nem a família, mas quero justiça por ele. A gente tem filhos. Queremos justiça e que eles paguem pelo que fizeram. Todas as mães querem justiça - diz Adriana.

Já a comerciante Viviane Lara, 47 anos, afirma que o que aconteceu assustou toda a cidade e que ela tem medo pelos filhos.

- Eles já estavam acostumados a fazer isso daí (se referindo ao policiais agredirem pessoas). Eles misturam pessoas de bem com marginais. Já estava passando dos limites. A gente que tem filhos, não se sente segura mais. Não sabe se os filhos vão voltar vivos para casa. Eles (policiais) pegavam na rua, eles batiam, faziam e aconteciam e a gente não sabia o que esteva acontecendo. Espero que agora a justiça seja feita e toda história seja esclarecida por que esta tudo abafado - conta a moradora.

Anderson Cavalheiro, 40 anos e Rosane Marques, 47, pai e mãe do Gabriel, acompanharam toda a parte prática da reconstituição. Para eles, deu para entender algumas coisas, mas ainda há muito o que esclarecer.

- Foi bem dolorido, machucou a gente bastante por que a encenação relembra muito o Gabriel. Foi uma mistura de coisas que não é verdade tudo aquilo que a gente viu ali. Tem muita coisa a ser esclarecida, e precisa ser esclarecida. Eles foram bons atores os PMs. Para mim, para o meu marido e para a família foi muito difícil. Eu acho que também valeu por que vai ajudar a entender o que aconteceu com o Gabriel e a justiça vai ser feita por ele. Eu tenho certeza. Isso tudo foi para ajudar ele. Agradeço à Polícia Civil, ao delegado e a todo mundo que tem ajudado. Foi tudo uma encenação. Ele foi brutalmente morto a paulada e eles continuam dizendo que não fizeram nada. Meu filho não está mais aqui para dizer a verdade, e agora, quem vai dizer a verdade. A versão que eles falam é totalmente diferente do que as testemunhas contaram - desabafou a mãe.

O pai Anderson, diz que ainda há muito o que esclarecer.

- Era uma expectativa que a gente tinha e precisava para entender o caso. A dinâmica que tudo aconteceu. Muitos pontos de interrogação ficaram - desabafou o pai.

Trabalho

Ao final das atividades, a perita criminal Barbará Cabedon concedeu uma entrevista e contou como foi o trabalho e que um laudo será emitido após o estudo.

- As versões apresentadas pelos acusados foram bem semelhantes e das testemunhas temos versões distintas. Então, agora, a gente passa para a etapa da análise técnica dessa material, fazendo essas comparações para verificar a análise técnica desse material para verificar no laudo pericial as conclusões que nós encontramos em relação às incongruências e congruências que foram apresentadas no trabalho de hoje. Houve testemunhas com relatos de agressão e outras que não relataram agressão - explica a perita.

Entenda o caso

Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, desapareceu por volta da meia-noite do dia 12 de agosto, no Bairro Independência, em São Gabriel. Segundo o relato de uma moradora, ela teria chamado a Brigada Militar (BM) após o jovem ter forçado a grade da casa dela e tentado entrar no local. Os policiais foram até o endereço, abordaram, algemaram Gabriel e o colocaram no porta-malas da viatura. Depois disso, o jovem não foi mais visto.

O corpo de Gabriel Marques Cavalheiro foi encontrado no dia 19 de agosto, em uma barragem na região conhecida como Lava pé. Os três policiais militares que abordaram o jovem foram presos na noite do dia 19 de agosto, e foram encaminhados ao Presídio Militar de Porto Alegre, onde estão presos desde então. O laudo do exame de necropsia apontou que Gabriel morreu devido a uma hemorragia interna na região do pescoço, provocada por uma agressão, e que não haviam indícios de afogamento.

Os soldados Cleber Renato Ramos de Lima e Raul Veras Pedroso e o sargento Arleu Júnior Cardoso Jacbosen são réus na Justiça Militar pelos crimes de ocultação de cadáver e falsidade ideológica.

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Maurício Barbosa

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