Caso Gabriel

Diário tem acesso a inquérito e laudo de necropsia, que apontam novos detalhes da causa da morte de Gabriel

Pâmela Rubin Matge e Deni Zolin


Corpo de Gabriel foi achado no açude na localidade de Lava Pé, quase uma semana após seu desaparecimento. Foto: Maurício Barbosa, 19/08/2022

O inquérito da Polícia Civil, que será divulgado a qualquer momento desta quinta-feira (1°), pode tanto corroborar com o relatório do Inquérito Policial Militar, da Brigada, bem como esclarecer alguns aspectos que nem sequer foram mencionados. O relatório do IPM não informa, por exemplo, como a mulher que testemunhou as agressões ao jovem Gabriel havia chamado antes a Brigada Militar (se foi mesmo pelo 190) nem mesmo traz quaisquer mensagens do celular da denunciante.

O Diário teve acesso ao conteúdo do IPM. O documento, de 103 páginas, menciona que 21 testemunhas foram ouvidas e traz o laudo detalhado da causa da morte do jovem, além do itinerário de três viaturas policiais de São Gabriel naquela noite. O inquérito da Brigada reproduz ainda as trocas de mensagens entre os três investigados, além de já mencionar, no dia 17 de agosto, que um dos policiais que abordaram Gabriel, na noite de 12 para 13 de agosto, envia uma mensagem pelo Whatsapp ao colega dizendo: “Temos que ligar pra Vanea. Temos que se mecher”. Isso indica uma referência à advogada deles, Vânia Barreto. No dia 17, as buscas ao corpo de Gabriel estavam intensificadas, e o caso já tinha grande repercussão na imprensa estadual.

No inquérito da Brigada Militar, em que os três policiais militares são indiciados por homicídio qualificado (com 4 qualificadoras), ocultação de cadáver e falsidade ideológica, consta um relato completo do laudo do IGP sobre a causa da morte de Gabriel.​

O laudo da necropsia

O laudo de necropsia informa, em detalhes, como foi a hemorragia que provocou a morte do jovem:

“Abertura da cavidade pericárdica mostra presença de grande volume de sangue acima do coração migrando da região cervical e abertura do coração mostra sinais de coágulos dentro da cavidade e dos grandes vasos acima. Prosseguindo com a dissecção para cima vemos sinais de lesões traumáticas de vasos cervicais com rupturas vasculares principalmente em ramos vertebrais a esquerda, e vasos cervicais anteriores, mas com extensão de sangramento  e envolvimento de tecidos musculares com infiltrado hemorrágico em meio a musculatura cervical e com acúmulo de sangue bilateralmente no pescoço (imagem 4) e grande volume de sangue presente em ambas as cavidades pleurais por drenagem da região cervical e sinais de dissecção pelo avanço do conteúdo hemático.”

Na sequência, o perito do IGP conclui o resultado da necropsia:

“O Laudo Pericial nº 220040/2022, de 20 de agosto de 2022, onde materializado o exame cadavérico de GABRIEL MARQUES CAVALHEIRO, excluiu definitivamente a possibilidade de morte por afogamento apontando a causa mortis por choque hipovolêmico secundário a trauma por objeto contundente em região cervical que provocou ruptura de vasos cervicais levando a um grande sangramento com drenagem para a cavidade torácica".

Segundo as conclusões do perito, de acordo com o trecho acima, aponta que as agressões praticadas contra a vítima, conforme relatos testemunhais, perpetradas junto à região superior do corpo (cabeça, pescoço) foram a causa determinante do óbito de Gabriel.”

O que dizem os advogados

Os advogados dos três PMs (Raul Veras Pedroso, Cleber Renato Ramos de Lima e Arleu Junior Cardoso Jacobsen) vêm afirmando que eles são inocentes.

Ivandro Bittencourt, que defende o sargento Jacobsen:

"Não vislumbramos nada de relevante nas conversas de pessoas que surpreenderam-se a respeito do desaparecimento do menino ao passo que ele foi deixado com vida na localidade, deixado em condições. Claro, obviamente, que com o turbilhão de notícias sendo divulgadas, preocupações e uma série de circunstâncias, conversaram (os policiais) sim, trocaram mensagens, acho que é excremamente natural. O que me chama muita atenção, mais uma vez comprova aquilo que o sargento já vem falando há bastante tempo. Hoje, nós só temos imagens da viatura passando no local conseguida na casa de um morador porque o sargento solicitou autorização ao tenente, ao comandante do esquadrão de São Gabriel para ir até aquele local e fazer essa apreensão. Revelou muito mais a participação ativa na investigação do desaparecimento do menino por parte do sargento Jacobsen (Arleu Júnior Cardoso Jacobsen) do que qualquer outra informação que poderia ocorrer. Então, com muita tranquilidade, com muita responsabilidade, nós recebemos essas mensagens, esse conteúdo com bastante confiança no que o sargento vem falando desde o início. Não é novidade. O próprio comandante do esquadrão poderia fornecer essas informações ao passo que ele trocou essas mensagens com o tenente. O que me revelou mesmo que é importante é isso. O restante não vi como prova fundamental. Até porque em todo momento se fala do rapaz deixado com vida, eles se esforçando para achar o caminho eventuais câmeras, eventuais informações e óbvio que as informações estavam sendo cruzadas naquele momento tanto pela imprensa, quanto pela Polícia, quanto pa própria Brigada Militar e dessa informações algumas fake news, uma delas que o rapaz estaria bebendo no Bairro Brasil, a outra que teria sido encontrado o corpo, depois não era. Esse momento é de bastante tensão dos órgãos segurança. Portanto, o sargento também acaba recepcionando essas informações. Recebemos co muita naturalidade"

O Diário entrou em contato com a advogada Vânia Barreto, que defende os soldados Lima e Pedroso, mas ela não quis se pronunciar.​

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