Em meio a investigação judicial e pedido de cassação, Silvio Weber retorna à prefeitura de Itaara e afirma ter "consciência limpa"

Foto: Nathália Schneider (Diário)

No último ano, a população de Itaara acompanhou muitos conflitos e mudanças na política local. Nesta segunda-feira (13), ocorreu mais um capítulo deste cenário. Isso porque o prefeito Silvio Weber (sem partido), que havia sido afastado do cargo em novembro de 2022 por supostas irregularidades, retornou ao comando da prefeitura. Apesar de voltar ao trabalho, padre Silvio, como é conhecido, segue respondendo a denúncias do Ministério Público e, também, a um processo de cassação que está em andamento na Câmara de Vereadores.

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Os ânimos, contudo, são otimistas para a retomada do cargo. Nesta segunda-feira (13), logo cedo pela manhã, por volta das 7h30min, cerca de 30 apoiadores aguardavam Weber em frente à prefeitura. Uma hora depois, o padre Silvio chegou no local. Ele foi recebido com entusiasmo e cumprimentou a todos. 

Em seguida, o prefeito concedeu entrevista à imprensa, a primeira vez desde que foi afastado, em 2022. Nesse momento, ele reforçou o que os advogados que atuam na sua defesa já vem manifestando há um ano: negou as acusações, disse que é inocente e que, ainda, sofre perseguição política.

– Hoje, se não fosse a chuva, ia ter uma multidão muito grande aqui. Agradeço a Deus e a minha família. Também quero agradecer a todo esse povo que, diariamente, nesse ano me deram força e coragem, não me deixaram desanimar.  Quero dizer que não existe nada, não tem uma vírgula de prova. Não há nenhuma irregularidade, tudo são boatos para tentar me incriminar. Isso faz parte de uma armação política que foi pensada e planejada há praticamente dois anos. Enquanto estávamos trabalhando, eles estavam armando. Criaram uma narrativa para me tornar um criminoso e um bandido – afirmou  Weber.

Durante a conversa, o prefeito comentou com mais detalhes sobre a investigação do Ministério Público, denominada “Operação Santidade” em alusão ao trabalho que desempenhou na Igreja Católica antes de ingressar na política da qual está licenciado. Também ressaltou que o pedido de cassação na Câmara de Vereadores foi um “ato de desespero” porque algumas pessoas pressionaram os políticos a abrir o processo após um vídeo circular na cidade. Weber indicou que o material compartilhado é uma montagem utilizada para incriminá-lo. Veja a entrevista completa ao final da matéria.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

– Esse retorno demonstra que o prefeito vem respondendo os atos processuais e cumpriu as medidas que foram estipuladas. O prefeito Silvio é muito incisivo nessas questões. O que pedimos para ele é a verdade, porque a defesa precisa saber a verdade nesses processos. Ele sempre disse que era inocente e que se cercou de pessoas erradas, que usaram o nome dele. Por ser o gestor do município, muitas situações recaíram sobre ele, apesar de não serem atos praticados por ele. Esse retorno também faz com que o prefeito Silvio tenha mais força para não ter a cassação (na Câmara) – afirmou Bruno Paim, advogado de Weber.

Na sequência, o prefeito fez um discurso rápido. Na oportunidade, ainda chamou o amigo e também político José Haidar Farret (União Brasil), que é pré-candidato a vice do deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) na eleição municipal de Santa Mariapara falar aos presentes.

– Estou aqui como cidadão, morador, amigo e porque sempre digo que a gratidão é a memória do coração. Eu acredito (na inocência do prefeito). Não sou jurista ou advogado, mas acho que se, hoje, na nossa casa não sabemos o que acontece, muitas vezes, imagina em uma prefeitura, Estado ou nação. Acho que aqui o que precisa, mais do que nunca, é paz. Acho que está na hora de colocarem o trabalho acima dos interesses pessoais na cidade. Itaara precisa crescer porque tem um povo muito bom que precisa de um futuro melhor – destacou Farret, emocionado.

José FarretFoto: Nathália Schneider (Diário)

Após, Weber, junto com o restante do grupo, entrou na prefeitura e seguiu para o gabinete do prefeito. No espaço, encontrou a vice, Salete Desconzi (sem partido), conhecida como Tita Desconzi, que estava, até então, à frente do Executivo. Ambos assinaram o documento de transmissão do cargo, oficializando o retorno de padre Silvio. Depois de discursar novamente, o prefeito e os presentes fizeram uma oração para marcar o encerramento do ato e dar início às atividades na administração de Itaara.

O que diz o Ministério Público

"O afastamento do prefeito foi concedido por decisão judicial da 4ª Câmara Criminal do TJRS pelo prazo de 180 dias em medida cautelar. Com o oferecimento pelo MPRS de duas denúncias contra o gestor (processos 70085736478 e 70085769339), foi renovado o pedido cautelar e concedida prorrogação do afastamento por mais 180 dias, que findaram na data de ontem (12/11/2023). As denúncias ainda não têm decisão de recebimento pelo TJRS, estando em fase de notificação dos denunciados para respostas escritas. Foi deferido o compartilhamento das provas produzidas com a Câmara de Vereadores de Itaara, para análise quanto ao processo de cassação do mandato do gestor, que é de atribuição exclusiva do Legislativo, e somente foi instaurado há cerca de 15 dias pela Casa Legislativa".

Procuradoria da Função Penal Originária

Entenda o caso

  • Em novembro de 2022, foi deflagrada a “Operação Santidade” pela Procuroradoria da Função Penal Orginaria do Ministério Público   para investigar supostas irregularidades e superfaturamento em serviços prestados por terceirizadas ao município de Itaara. Também havia suspeitas do pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos, com consequente desvio de verbas
  • O suposto esquema que seria capitaneado pelo prefeito Silvio Weber (PSB) teria desviado R$ 471 mil
  • Outro foco da investigação era verificar um assalto à casa do ex-presidente da Câmara, Mano Zimmermann (PSB), do mesmo partido do prefeito à época, mas hoje adversário político. O “autor intelectual” do roubo seria Weber, segundo o Ministério Público
  • Na época, mandados judiciais de suspensão cautelar do exercício do cargo foram expedidos contra o prefeito, Silvio Weber, secretários e assessores.
  • A vice-prefeita, Salete Desconzi (sem partido), assumiu o Executivo
  • A suspensão era válida por 180 dias. Quando o prazo acabou, em maio deste ano, a medida foi prorrogada por mais 180 dias
  • O novo prazo terminou no último domingo (12). Nesse período, não ocorreu novo pedido de prorrogação por parte do Ministério Público. Com isso, a medida cautelar (liminar) sobre o afastamento foi arquivada. Isso permitiu que Weber voltasse ao cargo de prefeito nesta segunda-feira (13)

Na Câmara de Vereadores

Além de enfrentar seis CPIs na Câmara de Vereadores entre 2021 e 2022, em agosto deste ano, um processo de cassação contra Silvio Weber foi aberto no Legislativo. O pedido protocolado e acolhido pelo plenário foi de Robertson Tatsch (PSB), Mano Zimmermann.

Ex-presidente da Casa, ele baseou o pedido, em grande parte, na denúncia feita pelo Ministério Público. Um dos fatos envolve, justamente, o próprio vereador, uma vez que o MP acusa Weber de ser, supostamente, o "mentor intelectual" do assalto à casa de Zimmermann, que guardaria na residência provas de irregularidades na prefeitura.

Uma comissão processante foi instalada e testemunhas estão sendo ouvidas. Na terça-feira (14), duas pessoas vão prestar depoimento. O prefeito também deve ser ouvido na sequência.

– Não acho bom, mas é um direito dele (retornar à prefeitura). O processo de cassação vai continuar. Depois de fazermos as oitivas, será feito um relatório final e encaminhado ao plenário para votação. Estamos fazendo nosso trabalho, somos muito criticados por isso, (falam) que vamos cometer um erro. Não vamos cometer erros, estamos vendo e analisando –  afirmou o vereador Paulo Gilmar Garcia (MDB), que integra a comissão processante.

Confira, na íntegra, a entrevista com o prefeito Silvio Weber

Silvio Weber – Hoje, se não fosse a chuva, ia ter uma multidão muito grande aqui. Agradeço a Deus e minha família. Também quero agradecer a todo esse povo que, diariamente, nesse ano me deram força e coragem, não deixaram eu desanimar. Uma corrente de oração inédita em toda a região, dia e noite, as pessoas me dando força, rezando e me dizendo “não desiste, vamos lá, o bem vai vencer o mal”, e venceu. É um momento muito aguardado não só por mim, mas pela grande maioria do povo de Itaara e da região.

Diário – Conversamos com o seu advogado e ele disse que chegou a orientar o senhor a pedir a renúncia, mas, agora, ele está ciente de que essa não seria a melhor alternativa porque o senhor conseguiu retornar e a população está aqui.

Silvio Weber – Na verdade, se eu renunciasse, estaria assumindo algo que não tenho culpa. O povo sempre acreditou que iríamos dar a volta por cima porque o meu afastamento foi uma grande armação política. Saí daqui dizendo isso e volto reafirmando. Houve várias ações, inclusive, criminosas contra mim. A última delas foi um vídeo montado e um PDF, que circularam em Itaara e Santa Maria. Foi uma última cartada de desespero dos adversários para tentar me tirar de vez. Já está aberto um inquérito policial na Delegacia de Itaara e a polícia, com certeza, vai chegar a esses criminosos, que cometeram crimes gravíssimos. Vamos tomar todas as providências jurídicas porque foram ações criminosas em um ato de desespero e de medo do meu retorno. A população de Itaara me conhece. Trabalhei aqui 25 anos, rezando missa, fazendo primeira eucaristia, batizado, casamento, enterrando os mortos e visitando os doentes. Foram anos de trabalho junto a comunidade. Isso não se desfaz com mentiras.

Diário – Com relação às irregularidades que constam na denúncia do Ministério Público, sobre uma troca de mensagens entre o senhor e um ex-secretário que tratariam de propina, e sobre a acusação do senhor ser o “mentor intelectual” de um suposto roubo na residência do ex-presidente da Câmara de Vereadores, o que o senhor tem a dizer?

Silvio Weber – Quero dizer que não existe nada, não tem uma vírgula de prova e de irregularidades. Quanto ao fato do roubo, houve uma reviravolta nessa situação com um depoimento que foi dado ao tribunal. Isso também foi uma armação para tentar me incriminar perante a população, que sabe que eu jamais faria uma coisa dessas. Isso faz parte de uma armação política que foi pensada e planejada há praticamente dois anos. Enquanto estávamos trabalhando, eles estavam sempre armando. Criaram uma narrativa para me tornar um criminoso e um bandido. Será provado que não tem nada. Temos esse depoimento muito importante que já está no tribunal. Depois, vamos tomar as medidas jurídicas sobre essas graves acusações injustas.

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Diário – O que o senhor espera agora da comissão processante da Câmara de Vereadores, na qual o senhor vai ter que prestar depoimento?

Silvio Weber – Esse pedido de cassação foi do mentor de toda essa situação, o ex-presidente da Câmara (Robertson Tatsch, Mano Zimmermann) . Eles já estão sabendo que não tinha mais nada em Porto Alegre para me manter afastado, partiram para um ato de desespero que foi pedir minha cassação. Foi usado um vídeo criminoso e um pdf para inflamar algumas pessoas que foram para cima dos vereadores pressionar para eles tomarem uma atitude. Naquele momento, acho que aceitaram porque criaram uma situação muito desconfortável para os vereadores. Hoje, os próprios vereadores sabem que o vídeo foi uma montagem caseira e amadora, o pdf também, que foi algo criminoso, o último cartucho que eles tinham para me tirar fora do cenário político. Hoje, há um outro entendimento na Câmara de Vereadores sobre isso. Já estamos tendo um bom diálogo com os vereadores, que estão cientes sobre as ações criminosas e gravíssimas.

Diário – Como fica a situação entre o prefeito e a vice já, que vocês estão falando de um governo de conciliação para os munícipes de Itaara?

Silvio Weber – Eu não acompanhei muito o trabalho que foi feito pela vice e seu secretariado. A nossa posição é de conciliação, é de agregar para trabalharmos para a população. Sempre estive com a consciência muito tranquila quanto às acusações. Nosso foco é somar forças e pensar em projetos para a população. Vamos trabalhar, manhã, tarde e noite, sábados, domingos e feriados para esse povo que aguardava com muito ansiedade meu retorno porque sabe das nossas intenções.

Diário – Nesse contexto, quais vão ser as principais medidas no seu retorno à prefeitura?

Silvio Weber – Vamos conversar com a vice-prefeita. Tínhamos vários projetos que foram parados, vamos ver para dar seguimento. Só para terem uma ideia, na educação, nesse momento, estaríamos executando dez projetos agora. Também na área da saúde, queremos comprar um veículo de sete lugares para levar o pessoal para consultas em outras cidades, queremos trocar móveis, ter uma ambulância nova, toda equipada. Assim nas outras secretarias tem vários projetos e vamos vendo como dar sequência de imediato. Não há nenhuma irregularidade, tudo são boatos para tentar me incriminar. Fui acusado de ter desviado quase R$ 500 mil. Nesse período, tinha alguns compromissos financeiros e quem me ajudou, e está me ajudando, a pagar minhas contas é a minha família. Então, onde está o dinheiro que teria sido desviado? Tenho pendências financeiras e se não fosse minha família me ajudar, não sei como iria fazer. Então, onde está o dinheiro que eu ganhei em supostas propinas? Eu também quero saber.

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