Slow Medicine, a medicina sem pressa

José Carlos Campos Velho

Neste último final de semana de setembro, a Liga Acadêmica de Psiquiatria da UFN – a LAPSIQUE – UFN, realizou seu primeiro simpósio, denominado “Saúde Mental e Desafios Contemporâneos”. Com temática abrangente, falou-se de dor, de trauma, de psicanálise, de psiquiatria do estilo de vida, sono, depressão, o mundo digital e as relações interpessoais e sobre Slow Medicine. 


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O evento foi organizado pelos alunos da faculdade de Medicina, com o apoio do professor Fábio Martins Pereira, atual docente vinculado à Liga.

 
Coube-me falar sobre Slow Medicine, assunto ao qual tenho me dedicado nos últimos anos, e que tive a oportunidade de ser colaborador do movimento desde seu início no Brasil, quando do lançamento do site www.slowmedicine.com.br em 2016. Você conhece a Slow Medicine?


Movimento Slow Food
Em 1986, na icônica Piazza de Spagna, em Roma, foi inaugurado um restaurante de Fast Food no local. Um grupo de manifestantes, liderados por Carlo Petrini, jornalista e ativista, fizeram um protesto contra a presença de um restaurante de Fast Food ali no coração da capital italiana, uma nação com uma longa cultura gastronômica e onde a alimentação sempre teve um papel essencial na convivialidade das pessoas e onde não cabia a pressa nem no preparo, nem no consumo dos alimentos. 


Estava lançada a semente que gerou o Movimento Slow Food, consolidado em 1989 numa convenção em Paris, com o lançamento do Manifesto Slow Food, que propunha “um alimento bom, limpo e justo para todos”. Alimentar-se é um ato político, afirmam. 


E nisso questionam a produção dos alimentos em escala industrial, sua qualidade nutricional, estimulam a produção artesanal e orgânica e os alimentos tradicionais, através de uma série de iniciativas organizadas em mais de 100 países. Hoje o Movimento Slow Food tem expressão internacional e sua sede é em Bra, uma pequena cidade próxima de Turim, no Piemonte, na Itália.

Desaceleração do processo
Em 2002, o cardiologista Alberto Dolara publicou um artigo na revista Italian Heart Journal, hoje descontinuada, chamado “Un invito ad una Slow Medicine” – um convite à uma Slow Medicine, onde ele sugeria que os princípios que norteavam o pensamento do Movimento Slow Food, em relação à alimentação, não poderiam ser aplicados à algumas áreas da Medicina. 


Ele propunha que uma desaceleração do processo de tomada de decisões poderia ser uma atitude benéfica em uma série de situações clínicas, onde o imperativo tecnológico que caracterizaria a medicina contemporânea teria pouco a oferecer, podendo até ser deletério, causando mais dor e sofrimento e auxiliando pouco pacientes e familiares. Uma conversa franca, um cuidado mais humanizado e compassivo, poderiam contribuir de forma mais suportiva, por exemplo, na velhice e em situações de final de vida.

Sóbria, Respeitosa e Justa
Ao longo das duas primeiras décadas do século XXI, foram publicados vários livros, em língua inglesa e italiana, com diferentes visões sobre o tema, em várias áreas da Medicina, mormente a Geriatria e os Cuidados Paliativos. 


Em 2011, foi organizado um Congresso em Turim, o I Congresso Italiano de Slow Medicine, com a fundação de uma Sociedade – hoje uma organização não-governamental – Slow Medicine ETS e o lançamento de um Manifesto por uma medicina sóbria, onde fazer mais não significa fazer melhor, respeitosa, em que os valores, expectativas e desejos da pessoas sãopessoais e invioláveis e justa, que propõe cuidados adequados e de boa qualidade para todos.

Sem pressa para cuidar bem
No Brasil, o Movimento é bastante ativo desde 2016, quando foi lançado o site do Movimento Slow Medicine Brasil. O Movimento está presente nas redes sociais, onde conta com alguns milhares de seguidores. Recentemente, a oncologista Ana Lucia Coradazzi e o médico gaúcho André Islabão lançaram o livro Slow Medicine, sem pressa para cuidar bem, que explora os princípios da Slow Medicine através de casos clínicos reais, tornando claro que estes princípios não estão distantes da prática cotidiana, ao contrário, estão profundamente inseridos no dia a dia do fazer médico.

 
A Geriatria é uma das especialidades em que os preceitos da Slow Medicine são muito bem-vindos, expressos em seus 4 pilares: o tempo, o compartilhamento de decisões, o uso parcimonioso da tecnologia e o foco na relação médico-paciente.



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