Alô, é a Dani? Alô, é a Queia? Alô, é a Raquel? Vocês vêm almoçar aqui hoje? Chamada telefônica de “Pai Mario e Mãe Rene Abençoados”

Licença para uma escrita que me afeta e me move
Eu poderia aqui, neste espaço nobre que me é confiado com tanto respeito, falar apenas sobre as competências das minhas áreas de formação, que são a educação física e as artes da cena (teatro e dança), que por sinal são presentes dos meus pais, de ter podido estudar e continuar buscando esta sede pelo conhecimento que tanto nos transforma; mas sinto que devo, enaltecer a presença e o papel dos meus pais na minha vida e na vida dos que me são caros, como meus filhos, minhas irmãs e meus amigos. 


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Tenho tido a feliz bênção de poder conviver com as transformações que a idade vem promovendo nos meus pais, o senhor Mario Minello com 88 anos e a dona Rene com seus 84 anos de vida.


As transformações com a idade
Tenho buscado ressignificar os valores familiares e os afetos que vamos agregando e priorizando em nossas vidas com ações simples de empatia, lembrando que um dia, com as bênçãos de Deus, estaremos também ocupando estes lugares. É difícil mensurar, através das boas lembranças, o quanto o corpo vai passando pelas transformações que nos tornam dependentes de outros para realizarmos ações simples do cotidiano. 


É moroso aceitar, mas faz parte do ciclo da vida, nascermos dependendo dos cuidados de alguém para sobrevivermos, chegando ao auge da nossa vitalidade, independentes e, voltarmos a necessitar dos cuidados de alguém na velhice. E, que bom se estes cuidados, pelo menos afetivos, possam ser dos próprios filhos.

Quer vir almoçar aqui? Eu fiz polenta
Quantas vezes, na correria dos meus dias, recebo ligações em horários aleatórios e, por ora inoportunos com um convite regado de sabores e afetos como esse, para além das polentas. Confesso, que por muitas vezes, sem entender o tempo deles, agradeci tais convites de forma não muito elegante. O convite para comer a polenta e os pratos decorados em formato de flores, sempre foi um pequeno pretexto para poderem dizer: “eu te amo e estou com saudades”. 


Quantos filhos gostariam de ser tratados assim, ou melhor, ter ainda seus pais em suas vidas? Quantos pais gostariam também, de ainda ter seus filhos para fazerem tais convites? Tenho aprendido cada vez mais sobre a palavra empatia e, os valores que realmente importam em nossas vidas. Claro que tenho feito uns combinados quanto aos horários para eles me ligarem, kkkkk, o que não me exime de agradecer e expressar todo amor que tenho por eles em ações que parecem tão simples, mas repletas de significados.


Cada dia a mesma história, e que bom, suas memórias estão vivas e presentes
Quando chego na casa dos meus pais, os assuntos se repetem como se nunca tivessem sido ditos. Antes eu falava: “vocês já falaram isso”! Hoje, me permito ouvir como se fosse a primeira vez que estivesse escutando, sem fingir como se não soubesse, mas com a sensibilidade de quem aprendeu que a velhice é o tempo das lindas memórias e da ressignificação do passado que um dia já foi presente e ainda permanece. Não temos o controle diante do tempo, mas temos o controle sobre o que podemos fazer com o tempo que nos cabe viver com os nossos. 


Hoje, além de os escutar mais e validar suas memórias, tenho buscado salvar estes afetos nos meus “HDs” internos chamados espaços de morada do amor. Nossos corpos podem até passar por transformações que nos limitam aos movimentos no decorrer das nossas vidas, mas nossas emoções e sentimentos deveriam ser o passaporte de empatia para todas as fases das nossas vidas. E, quanto a polenta? Aaaaa, a polenta do seu Mário e da dona Rene, fizeram morada afetiva na vida de muitas crianças, hoje já adultos, da Rua Doze de Outubro. 


O biju que é a casca da polenta que se forma no fundo da panela de ferro, é hoje, a ligação das memórias afetivas mais linda que tenho com meus queridos amigos de infância. Meus pais, em suas simplicidades, nos ensinaram e nos ensinam, que para expressar o amor é preciso de muito, de muito amor em seus corações.

 
Obs: se você ainda recebe uma chamada em seu telefone escrito: “Pai Mario e Mãe Rene Abençoados”, atenda. Pode ser o “amor verdadeiro” querendo falar com você!!!!!

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