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Reengenharia do voto exigirá dos partidos, pela primeira vez, repensar as estratégias

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A cinco meses das eleições municipais, os partidos estão frente ao maior desafio desde a redemocratização, quando os brasileiros voltaram a ir às urnas e a eleger, sem nomes biônicos, os mandatários para cargos públicos. A pandemia, que já matou mais de 55 mil brasileiros, mexeu com o calendário do pleito. Ao que tudo indica, iremos às urnas nos dias 15 e 29 de novembro, datas do primeiro e segundo turnos, respectivamente.

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Porém, os efeitos vão muito além do que a data propriamente do voto, o maior selo de uma sociedade democrática. Como será o corpo a corpo em tempos de pandemia? 

Ao observar o presente momento, podemos imaginar que teremos uma eleição, no mínimo, atípica. O aperto de mãos, o abraço, o beijo, o pegar no colo a criança para aquela já manjada foto, a selfie (novo nome para tietagem)... Tudo isso, certamente, entrará em modo avião neste pleito. Todos esses comportamentos e práticas ficarão, a exemplo dos e-mails e compromissos de trabalho, na nuvem. Ou seja, em pouco tempo, perdem a validade.

APENAS NO IMAGINÁRIO
Bandeiraços, panfletagens, comícios, ao menos para este pleito, devem ficar no imaginário: distante e sem qualquer chance viabilidade. Qual será a saída? A campanha presencial migrará de um só vez, sem qualquer tipo de transição, para o modo online. Para quem queria um AI-5, aí temos um praticamente: um arbítrio imposto pela vírus da pandemia. É o que se desenha.

Partidários, apoiadores, adversários terão de turbinar o pacote de rede móvel e a wi-fi para acompanhar o que o aliado e, principalmente, o oponente estará dizendo na live. Engraçado será quando, na transmissão do candidato A, o candidato B aparecer na timeline. Será que os oponentes irão mandar abraço um ao outro ou agradecerão pela audiência? Ou, quem sabe, farão um debate improvisado em tempo real?

REDE INVADIDA
Frente às restrições impostas pela Covid-19, é bem provável que o candidato aborde o eleitorado por meio de grupos de mensagens e, também, através das redes sociais. Um novo meio de importunar e de ser inconveniente surge, é bom o eleitor já ir se acostumando... 

RANKING
É de se imaginar que aquele candidato que menos se expuser, em andanças por aí, ganhe uma espécie de "iso" de político comprometido com as medidas de distanciamento controlado.Neste ranking, pontuará também aquele que não sair produzindo materiais (folderes e semelhantes) que implicam em três problemas.

O primeiro é que quem entrega, o fará ao estender as mãos (por óbvio), e, aí, haverá proximidade e toque para entregar o "santinho". Ou seja, risco de contaminação. O outro é que o candidato, minimamente esperto, não irá querer contribuir para forrar, as já sujas, ruas da cidade. Já o terceiro, e não menos importante, é que as caixas de correspondência das nossas casas passam a ser uma espécie de QG multipartidário.

As campanhas ficarão mais baratas? Haverá necessidade de militância (seja paga ou por convicção), e que faz a insuportável panfletagem, ou ainda os bandeiraços, nas principais ruas do centro, que engessam nossa mobilidade? Frente a tudo que estamos vivendo, e ao que ainda há por vir, se você não tem dúvida, é porque está mal informado, já dizia Millôr Fernandes. 


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