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Fordismo


style="width: 100%;" data-filename="retriever">Em 1903, ano em que foi inaugurada a Ford Motor Company, a fabricação de automóveis era uma função altamente qualificada. Cada carro era montado por um certo número de mecânicos altamente treinados. Por volta de 1908, quando a Ford lançou o modelo T (o famoso "Ford Bigode"), o processo de fabricação mudou um pouco, mas as alterações eram poucas em comparação com o que viria logo a seguir.

A demanda pelo modelo T foi tão grande que obrigou a companhia a mudar radicalmente o seu método de produção. Assim, em 1914, a Ford inaugurou a primeira esteira rolante na linha de montagem, através da qual os componentes do carro eram transportados e, à medida que passava, com paradas periódicas, os trabalhadores executavam operações simples.

Rapidamente, o tempo de montagem do modelo T havia sido reduzido a um décimo do que era gasto anteriormente. O aumento da produtividade do trabalho foi tanto que, em 1925, eram produzidos tantos carros por dia quantos era fabricados num ano inteiro. Ocorreu o que, cerca de meio século antes, Marx antecipara em "O Capital" (1867): o aumento da "mais-valia relativa" e a perda de qualificação do trabalhador. O operário agora torna-se um "apêndice" da própria máquina, uma vez que não cabe mais a ele ditar o ritmo do movimento de produção. O genial Carlitos, de Chaplin, passou por esta experiência no filme "Tempos Modernos".

A intensificação do trabalho, por outro lado, só servia, inicialmente, para aumentar os lucros da Companhia. Os trabalhadores, extenuados, continuavam recebendo os mesmos 2,34 dólares por dia, que era padrão no ramo. A insatisfação dos trabalhadores com essa nova tecnologia levou ao abandono do emprego e aumento da sindicalização. A reação da Ford a essa dupla ameaça foi mais do que dobrar o salário na fábrica, que passou a 5,00 dólares por dia.

O sonho do magnata Henry Ford era fazer com que os seus próprios trabalhadores pudessem consumir os carros que fabricava. A iniciativa da Ford logo se espalhou pela indústria automobilística como um todo. Os ganhos de produtividade passaram, em parte, a ser repassado também aos salários, com melhora no padrão de vida da classe trabalhadora norte-americana. Na medida que se espalhou pela economia, essa prática passou a ser conhecida como "fordismo". Após a Grande Depressão de 1930, passou a fazer parte do conjunto de políticas econômicas intervencionistas do governo Roosevelt - o chamado Welfare State.

Inaugurada em 1º de maio de 1919, a Ford foi a primeira fábrica de automóveis no Brasil. Instalou-se em São Paulo para produzir o modelo T. Na ocasião, as peças eram importadas e a montagem era feita no país. Depois de um século no Brasil, no início do ano, a empresa anunciou o encerramento de suas operações com o fechamento das fábricas de São Paulo e Bahia. A Ford ocupa a 5ª posição pelo volume de vendas e uma fatia de mais de 7% do mercado. Embora afirme que irá manter outras atividades no Brasil, a empresa deixa atrás de si um rastro de destruição de 5 mil empregos diretos, um número muito maior de empregos indiretos, e um destino incerto de mais de 6 mil colaboradores.

Vários foram os motivos citados como causa: perdas significativas nos últimos anos que vinham sendo suportadas pela matriz nos EUA, desvalorização cambial, redução das vendas e até a pandemia. Bolsonaro disse que não foi nada disso - a Ford queria subsídios. E ainda deu uma aula de capitalismo. "Quem não consegue concorrer, tem que fechar mesmo", disse o presidente. Isso sim é que é saber se colocar no lugar do próximo!

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