colunista do impresso

Desenraizamento

style="width: 100%;" data-filename="retriever">

A humanidade, ao longo da história, jamais registrou mobilidades geográfica e social como atualmente. Hoje, ao nascer, as possibilidades de mudar de bairro, cidade, Estado ou mesmo país, emprego ou atividade econômica são incomparáveis àquelas até meados do século passado, quando a regra era o sujeito viver do nascimento até a morte num mesmo lugar em geralmente mantendo a mesma atividade ao longo da existência.

As oportunidades geradas pelo desenvolvimento tecnológico facilitaram os deslocamentos, reduzem distâncias e condições, bem como permitem mudanças culturais, econômicas e sociais, sejam elas positivas ou negativas.

A mobilidade geográfica dá possibilidade de alguém sair do seu lugar de origem em busca de oportunidades em outros. As correntes migratórias, em especial de refugiados, que fogem de seus países em busca de vida melhor, são um exemplo disto. Imigrar é uma solução para o imigrante, mas, por outro lado, pode ser um problema para o país que o acolhe. Nascem aí os conflitos e o recrudescimento do nacionalismo e xenofobia, como se vê na Europa e EUA.

Também a mobilidade termina sendo fonte de conflitos, quando aqueles que estão em posição privilegiada começam a se sentir ameaçados pelas pessoas que estavam nos estratos sociais inferiores e que pelo estudo, trabalho e esforço próprio competem pelas melhores posições sociais. É um novo conflito social entre os emergentes e os que já ocupavam os melhores lugares em termos econômicos e sociais. Este conflito fica evidente quando, como no caso brasileiro, se estabelece um clima de confronto político exacerbado que ultrapassa os limites da civilidade.

O enraizamento dá sensação de segurança para uns e de resignação a outros, garantindo relações pessoais e sociais estáveis e duradouras. As mudanças decorrentes da mobilidade causam o desenraizamento do indivíduo, em decorrência das mudanças de status quo, como alterações de emprego, moradia, e cultura, situação econômica pessoal ou familiar. Há uma perda do sentimento de pertencimento e, em razão disto, um acerbamento do individualismo, que  traz desconforto pela perda das raízes e o sujeito se sente só e preocupado somente com seu mundo particular.

A história de cada um permite reconhecer seu caráter, virtudes e defeitos. O desenraizamento pode levar a uma postura niilista, quando o indivíduo considera crenças e valores tradicionais infundados e que a vida não tem nenhum valor, devendo ser vivida no presente sem qualquer compromisso com quem quer que seja. Tem dificuldades de gerar vínculos com sua própria história, que é fragmentada em capítulos que muitas vezes são descontínuos ou até mesmo contraditórios.

Talvez isto explique (mas não justifique) alguns atos de pessoas perturbadas, como dos agressores de enfermeiros que silenciosamente homenageavam, em frente ao Palácio do Planalto, a memória de 55 colegas mortos pelo Covid-19.


Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Cai número de siglas, mas correlação de forças políticas se mantém na Câmara Anterior

Cai número de siglas, mas correlação de forças políticas se mantém na Câmara

Inaceitável Próximo

Inaceitável

Colunistas do Impresso