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Era dos extremos

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Vive-se hoje, no Brasil, uma "Era dos extremos", copiando o título do livro do Hobsbawm, já que "copiar e colar" está na moda. Com o pêndulo pendendo mais à direita do que à esquerda, a julgar pelo que é destaque diário nas redes sociais. O que faz todo o sentido, considerando-se que a extrema direita se encontra no poder e a esquerda ainda "não radicalizou". Antidemocrática, a extrema direita "saiu do armário" e ataca os meios de comunicação supostamente críticos a Bolsonaro. Casos como o da suspensão da propaganda na TV Globo (pela Havan) e a retirada do nome da Folha de São Paulo de licitação oficial servem de exemplo. Esse tipo de chantagem atenta contra a imprensa livre - um dos pilares da democracia. Para se ter uma ideia do estágio do pensamento da nossa extrema direita, basta dizer que o seu ideólogo, Olavo de Carvalho, recentemente publicou um vídeo em que discorda da teoria da relatividade e do heliocentrismo (teoria científica que tem o sol como centro do universo).

A crise das ideologias levou alguém a afirmar, espirituosamente, que esquerda e direita ainda existem só nas placas de sinalização de trânsito. O que não é verdade, pois a "árvore das ideologias está sempre verde". É fato que ninguém pode ser de esquerda e direita ao mesmo tempo. Porém, ser de esquerda ou de direita não é problema. Deve haver espaço para ambas as posições numa democracia. Tanto é verdade que os termos "direita" e "esquerda" surgiram com a Revolução Francesa de 1789, cujo lema era "liberdade, igualdade, fraternidade". O que um extremismo de direita e um extremismo de esquerda têm em comum é a antidemocracia (alimentam-se do ódio). Neste caso, os extremos se tocam.

Fico com a distinção mais abrangente de esquerda e direita de Bobbio. Segundo o pensador italiano, "o critério mais frequentemente adotado para distinguir a direita da esquerda é a diversa postura que os homens organizados em sociedade assumem diante do ideal de igualdade". A esquerda parte do princípio de que a maior parte das desigualdades são sociais e, portanto, passíveis de serem eliminadas. A direita, ao contrário, tem convicção oposta, ou seja, as desigualdades são naturais e, enquanto tal, não podem ser eliminadas. Daí se segue a visão de que a esquerda é progressista e a direita conservadora.

Quando a esquerda luta por direitos sociais - como o direito à educação, o direito ao trabalho, o direito à saúde, etc. - procura reduzir a desigualdade entre quem tem e quem não tem. Já a direita enfatiza mais o ideal de liberdade. Bobbio lembra que os termos liberdade e igualdade não são simétricos. Enquanto a liberdade é um bem individual, a igualdade é sempre um bem social. A liberdade privada dos ricos é muito maior do que a liberdade privada dos pobres, pois estes últimos têm restrições de escolha, não por uma imposição pública, mas pela sua precária situação econômica privada. Em resumo: a esquerda é mais igualitária e a direita mais libertária.

Esquerda e direita não são apenas ideologias; indicam programas opostos com relação aos diversos problemas cuja solução depende da ação política. A alternância do poder entre esquerda e direita faz parte de qualquer regime democrático. Bobbio inclusive acredita que, quanto mais para o centro do espectro político o indivíduo pertencer, mais democrático ele é. Isso porque é mais suscetível a escutar argumentos de ambos os lados. Infelizmente, hoje, no Brasil, por causa das posições extremadas, ninguém escuta ninguém. Estamos diante de um diálogo de surdos!

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