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Subtenente Atalibinha e a cruel dúvida da volta

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Por convicção avesso ao confessionário, o subtenente Atalibinha de Souza não se furtou, entretanto, do alto da sua patente, a oferecer algumas diretrizes mundanas ao vigário Francisco Bolzan, que, ao seu ver, seriam de grande valia se encaminhadas ao comandante supremo da Abóboda Celestial. Assim, como se ajoelhado em busca do sacramento da penitência, encaminhou por escrito as seguintes ponderações ao reverendo chegado faz pouco na paróquia de São Carlos das Águas Dançantes:

"Sem querer dar uma de urubulino, amigo Padre Francisco, mas acho que a gente já pode ir tirando o cavalinho da chuva - ou da aragem, tanto faz. Deus não volta tão cedo. Nem adianta esperar na rodoviária com banda de música. É trabalho perdido. Talvez só lá pelo juízo final, isso caso se confirme o que está escrito na Sagrada Escritura, do que tenho minhas interrogações. E por esta luz que me alumia, não tiro a razão do Dono do Mundo. Se já se mandou faz tempo, horrorizado com tanta brigalhada grameando entre os seus filhos, voltar pra quê? Se for pra se incomodar mais do que padeceu com os açoites dos soldados romanos no Monte das Oliveiras, é até melhor que fique assim, na ressolana, só anotando no caderninho de espiral o que se passa por aqui. Dando de barato, estará a salvo de ser confundido com o velho do saco e corrido da praça pública a pedradas pela gurizada dos vícios mais fortes.

Mas caso insista no retorno, por teimoso que possa parecer, sugiro ao meu bom vigário Bolzan que mande daqui pro além onde Ele nos observa desolado algumas recomendações de ordem prática ao Messias. A primeira delas é que, se descer pelo Rio de Janeiro, venha de colete à prova de bala por debaixo da túnica puída, pois a encrenca lá no Morro do Cantagalo não está de se laçar com sovéu curto. Caso queira dar uma conferida na estátua do Cristo Redentor - afinal, serviu de modelo para a obra, que nem o Paixão Côrtes pro Laçador - diga encarecidamente ao Salvador para subir o morro de patinete ou de bicicleta. É que a recrutama do tráfico atira em tudo que avoa, de pandorga com rabo de pano ao avião de rosca.

Brasília, então, nem pensar na ideia duma visitinha de cortesia. Vá que um político influente queira audiência com o Todo Poderoso e acabe lhe batendo a carteira, pois "o vício é que nem sarnoso, nunca para e nem se ajeita"!

Acho bom também um conselho desse batina tarimbado ao Nazareno para evitar uma passada nos templos onde gritam adoidados pelo nome Dele. Não é por nada não, mas tenho medo que, sem dinheiro ou cartão de crédito para a oferenda do dízimo, fique retido na clausura, até que apareça algum fiel mais condoído para saldar o débito e erguer pela cola o alvará de soltura.

Pra terminar essa nossa conversa, que mais parece um presságio, me lembrei do soneto dum poeta de São Sepé, o Afif Filho, que já tinha cantado a pedra quando moço sobre o que aconteceria com a volta do Ungido.Bombeia só a clarividência do turco:

"Viu-se a riqueza em pânico e perigo

Quando Jesus ao povo apareceu,

Com sua barba de profeta antigo

E seu poder de agitador plebeu.

Falou. E todo mundo o compreendeu.

Os pobres o quiseram para amigo.

Condenou o esplendor do fariseu,

Teve frases de amor para o mendigo.

Viesse Cristo outra vez viver com o povo,

E os pobres o fariam senador,

Seriam seus discípulos de novo.

Mas logo a grei sem fé que nos conduz

Chamaria Jesus de traidor,

Cassaria o mandato de Jesus."

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