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Até nuvem de gafanhoto

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A semana iniciou com a notícia: nuvem de gafanhotos (Schistocerca cancellata) deslocou-se por terras argentinas e se dirige para as proximidades do Rio Grande do Sul e do Uruguai.

São vorazes, comem tudo o que é verde nos campos e causam outros danos na sua passagem. Combatê-los significa usar agrotóxicos que também produzem efeitos nocivos e nem sempre se revelam eficazes.

Só faltava essa! Logo pensa este idoso já preocupado com tantos retornos de coisas antigas nas primeiras décadas do novo milênio e, ainda agora, confinado como membro de um dito "grupo de risco" diante de impactante pandemia. As lembranças da infância e histórias familiares tomam conta do pensar.

Consta que pelo final de 1945 na propriedade rural do interior de Quaraí onde o pai era capataz, uma nuvem de gafanhotos passou, escurecendo o dia e dizimando plantas. O bebê engatinhante foi deixado aos cuidados da irmã, criança de 6 anos, sobre um pano no pátio, enquanto os adultos travavam o embate contra a praga. No retorno encontraram o pequeno lambuzado pelas fezes dos insetos, com o rosto tingido pelo matiz denunciante! Quando um professor elogiava algum talento, a mãe apressava-se em rir e explicar: é porque comeu cocô de gafanhoto! Imagino que se fosse agora, um vídeo iria "viralizar pelas redes sociais" com a inusitada cena.

Quanto à irmã, Eloá, tem sido sempre líder e cativante ser humano que os "meninos", seus irmãos, respeitam e chamam carinhosamente de chefe do clâ.

Daqueles anos primevos há ainda a narrativa familiar da vez que o pai levava o pequeno na garupa da montaria e uma carga pesada. Quando desceu para abrir porteira, o carregamento entornou a encilha e lá se foi o garoto de cabeça numa pedra, desacordando e causando apreensão. Daí teria vindo a absoluta falta de vocação para cavalgar. Ou, esta sim lembrança pessoal, quando um vulcão em erupção no Chile tornou gris os dias e povoou de cinzas o arame farpado das cercas.

Há ainda a memória de doenças que angustiavam progenitores: sarampo, rubéola, varíola, catapora ou varicela, crupe, coqueluche e a terrível "paralisia infantil" (poliomielite). Aos poucos, a vacinação livrou-nos delas. Embora hoje algumas, como o sarampo, retornem.

Assustou minha infância a narrativa sobre chá de "jasmim de cachorro" para tratar coqueluche e sarampo! Resolvo consultar o professor Google e não é que a Wikipédia diz: remédio popular produzido a partir de fezes de cães ou de outros canídeos, secas e embranquecidas, usado na forma de chá para tratar afecções nas vias respiratórias superiores.

Até nuvem de gafanhoto!  O século 21, era de Aquário, ainda não nos apresentou suas novidades positivas. Insiste em assustar com repetições negativas. Penso nos netos, cidadãos deste novo tempo, agora enriquecidos por uma caçula com poucas semanas e que já inunda os avós com seu charme: o que lhes reserva este tempo desafiador, com o qual nossa geração tanto sonhara?

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