Fotos: Eduardo Ramos (Diário)
27 de setembro é o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Instituída pela Lei 11.584/2007, a data busca conscientizar a população sobre a importância do ato que pode salvar até oito pessoas. Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul tem avançado na pauta, embora tenha enfrentado adversidades como a pandemia de Covid-19 e as enchentes de maio deste ano.
+ Receba as principais notícias de Santa Maria e região no seu WhatsApp
Em 2023, foram realizados 2.240 transplantes de órgãos, o que representa um aumento de quase 20% nos números, em comparação com 2022. Segundo a Central Estadual da Saúde, vinculada à Secretaria Estadual da Saúde (SES), o índice é um dos maiores registrados na série histórica gaúcha.
Em 2024, a tendência também é de números significativos. No período de 1º de janeiro até 19 de setembro, 1.149 procedimentos foram feitos. O aumento dos transplantes também traz esperança para as mais de 2,5 mil pessoas que encontram-se na fila de espera.
Cenário
A confirmação de morte encefálica do paciente marca o início do processo. Em seguida, uma notificação é emitida pelo hospital para a Central Estadual de Transplantes. Caso a retirada dos órgãos seja autorizada, uma equipe será encaminhada para a instituição. Enquanto isso, o receptor (que aguarda na fila de espera) é avisado e encaminhado para uma instituição autorizada para o procedimento. Em poucas palavras, é isso. Mas o processo é mais complexo, porque nem sempre o número de notificações é o mesmo de doadores efetivos.
Em entrevista ao Diário, o médico regulador e coordenador adjunto da Central Estadual de Transplantes, Rogério Caruso, analisou o cenário gaúcho:
– O Rio Grande do Sul vinha em uma crescente desde a fundação da Central de Transplantes. Durante a pandemia, tivemos uma perda muito grande por diversos fatores: a rede hospitalar ocupada, Unidades de Terapia Intensiva ocupadas com pacientes com Covid-19 em recuperação, fora a própria contaminação que não permitia fazer o transplante. Isso principalmente em 2020 e 2021. Mas a partir de 2022, retomamos e em 2023, não apenas fizemos isso como passamos das melhores marcas da história do Rio Grande do Sul.Esse ano, seguimos. Tivemos um problema muito sério em maio com a catástrofe climática, mas já estamos conseguindo recuperar o ritmo. Tanto que projetando para o segundo semestre, manter o ritmo, vamos passar os números de 2023.
Demanda
Atualmente, rim e córnea representam a maior parte da demanda da lista monitorada pela Central Estadual de Transplantes (veja abaixo). Segundo o coordenador adjunto da instituição, a lista de espera é maior devido a algumas características desses órgãos e tecidos, que não são vitais:
–No caso da córnea, enquanto a pessoa não recebe um transplante, ela continua sem enxergar, mas está viva. Então, permanece na lista por mais tempo. A mesma coisa no caso dos rins. Enquanto aguarda o transplante, o paciente pode fazer hemodiálise. A demanda é maior, mas esses são os procedimentos que mais fazemos. O órgão sólido que é mais transplantado no Rio Grande do Sul é o rim. Dos tecidos, é a córnea.
Atualmente, 18 equipes estão habilitadas no Rio Grande do Sul para realizar transplante de rim e 29 para córnea. Com relação ao último, um dos objetivos do Estado é zerar a fila por transplantes.
– Dos transplantes que fizemos em 2024, mais de 600 são de córnea. A lista é grande, mas o número de transplantes também é. Agora, estamos procurando aumentar o número de equipes que sejam habilitadas para o transplante de córnea. Esse é um compromisso nosso. No Programa Estadual de Doação de Órgãos, a meta até 2027 é voltar a um patamar anterior à pandemia, quando a lista de espera para córnea era zero. Não chegava a acumular, porque fazíamos um transplante a cada 15 dias – afirma Caruso.
Respeitando o desejo
Após o diagnóstico, a decisão de autorizar a retirada de órgãos e tecidos é da família. Normalmente, o diálogo sobre o processo é feito por integrantes das Comissões Intra-Hospitalares de Doações de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT). Mas antes disso, é importante que a pessoa fale em vida sobre esse desejo.
Conforme dados da Central Estadual de Transplantes, uma das principais causas de não efetivação do transplante é a negativa familiar. Segundo Caruso, mesmo que ainda impactam nos números, a justificativa tem apresentado queda no Rio Grande do Sul nos últimos anos. O principal motivo é a conscientização.
– Dentro das causas de não efetivação do transplante, a negativa familiar é maior. A recusa familiar sempre foi em torno de 50% dos motivos. Esse ano, está em 40%. Então, já diminuiu com comparação com que era antes e vemos isso como um sinal de que iremos melhorar cada vez mais nesse aspecto.
No site da SES, é possível saber mais sobre uma iniciativa do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: Doar é legal. O projeto possibilita emitir uma certidão atestando a vontade de ser doador de órgãos. O documento não tem validade jurídica, mas serve para deixar o desejo registrado.
Atualmente, já foram emitidas quase 40 mil certidões. O documento está disponível em site do Tribunal de Justiça do Estado.
Campanha estadual
Na busca por estimular pessoas a se tornarem doadoras, a Central Estadual de Transplantes lançou em 2023 a campanha O Amor Vive. A iniciativa ganhou o apoio de diversos artistas nacionais, além de grupos e instituições. Conforme Caruso, é preciso falar cada vez mais sobre o assunto e avançar nesta demanda.
– A cada setembro, renovamos o esforço. Mas é uma campanha que precisa ser permanente. Precisamos falar e colocar em discussão, lembrando que o mais importante é que haja uma mudança de cultura na sociedade. Que as pessoas confiem no processo e saibam que doar órgãos é um todo de solidariedade muito grande. Cada doação pode salvar a vida ou trazer qualidade de vida para até oito pessoas. Então, isso é muito importante – conclui Caruso.
Lista de espera por transplantes de órgãos no RS
- Coração –11 receptores ativos
- Pulmão – 65
- Fígado – 151
- Rim – 1.177
- Córnea – 1.130
Total – 2.534
Dados atualizado até 19 de setembro de 2024
Fonte: Central Estadual de Transplantes