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Segunda mais antiga feira do livro da América Latina tem recorde de autores

Eduardo Ramos (Diário)

A história da segunda feira do livro mais antiga da América Latina começa nos anos 1960. Em número de edições, ela só perde para a de Porto Alegre, que está na 69ª edição e fica à frente da de Buenos Aires, por exemplo, que está na 47ª. E a Praça Saldanha Marinho, que recebeu a primeira edição da Feira do Livro, em 1962, permanece como casa oficial da grande festa literária da Cidade Cultura até hoje. Naquele ano, 13 pequenas bancas abrigavam as obras, ofertadas por poucas editoras e livreiros. Agora, mais de seis décadas e 49 edições depois, a mesma praça recebe 32 bancas – e falta espaço!

A 50ª edição da Feira do Livro de Santa Maria contará com 16 dias de uma extensa programação cultural, que inclui mais de 20 espetáculos teatrais e musicais no Theatro Treze de Maio e no Coreto da Praça, 15 intervenções culturais na praça e oito bate-papos literários e apresentações musicais no espaço Livro Livre. Nos lançamentos de novas obras, um recorde: 210 livros serão lançados por mais de 400 autores! Mas foi preciso muita paixão coletiva pela literatura para chegar até esses números de hoje...


Primeiras páginas da história

Passado esse período embrionário com edições do evento em 1962, 1964, 1967 e 1968, com envolvimento da prefeitura municipal, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Câmara de Vereadores de Santa Maria, a Feira do Livro fez uma pausa. O retorno do evento ocorreu em 1973, já na maneira que conhecemos hoje. Chamada Feira Universitária do Livro, a retomada da festa, com o slogan “Quem não lê, mal ouve, mal sente, mal vê”, foi uma iniciativa de alunos do curso de Comunicação da UFSM.

Na época, Santa Maria possuía poucos livros, então eles precisavam ser enviados da capital Porto Alegre. O sucesso foi tão grande, que no quarto dia de feira, o então aluno Adelmo Genro Filho precisou ir até a capital buscar mais um caminhão de livros.

Em 1975, na 3ª Feira Universitária do Livro, foram colocados 10 mil exemplares à venda. O sucesso continuou, mesmo com dificuldades financeiras e, em 1976, o slogan já falava: “Livro é cultura. E livro na praça é cultura mais perto do povo”. Em 1985, uma das várias grandes presenças ilustres que passariam pela Praça Saldanha Marinho ao longo das edições: Caio Fernando de Abreu lançou o clássico livro de contos Morangos Mofados em Santa Maria.

No mesmo ano, o chargista Elias Monteiro foi o responsável por ilustrar o cartaz da edição, que trazia o chafariz da Praça com as famosas tartarugas leitoras. Em 1992, 1993 e 1994, a Feira do Livro não foi realizada.


Por sua dedicação ao evento, a professora Eugênia Maria Mariano da Rocha Barrichello foi homenageada como patronesse da 40ª edição da Feira


Retomada e consagração

A história da professora Eugênia Maria Mariano da Rocha Barichello, diplomada na primeira turma de Comunicação Social da UFSM, em 1975, está entrelaçada com a da Feira do Livro. Segundo ela, como aluna, participou das edições realizadas nos anos de 1973 e 1974, carregando livros e ajudando a vendê-los nas bancas. Mas o seu conhecido papel como mentora da festa literária começou 20 anos depois.

Em 1994, Eugênia ingressou, por concurso público, como professora da Faculdade de Comunicação Social da UFSM, a Facos. Ela conta que lecionava para cinco turmas, “com alunas e alunos inesquecíveis”:

– Uma das primeiras coisas que perguntei nas aulas foi sobre os preparativos para a Feira do Livro daquele ano. A resposta mais frequente foi: “a Feira do Livro não é realizada há pelo menos dois anos”, mas na verdade não era realizada há cerca de quatro anos. Comecei então a trabalhar para retomá-la. O Diretório Acadêmico, cujo presidente era o Max Ratke, e os estudantes, apoiaram, bem como os professores Paulo Roberto Araújo, do curso de Jornalismo, e Jocelia Mainardi, do curso de Relações Públicas.

Eugênia descobriu, por meio de pesquisas e conversas, que a Feira havia sido realizada sob a responsabilidade dos alunos do Curso de Comunicação Social de 1973 a 1989. Ela conta que, em quatro anos sem ser realizado, o evento estava praticamente “morto”.

– Acredito que a palavra “retomada” possa representar o esforço empreendido para colocar a Feira do Livro novamente na Praça em 1995, em sua 23ª Edição. Passei o ano anterior planejando com os alunos a retomada. É difícil citar todos os estudantes que trabalharam naquela 23ª Feira, foram todos, eu esvaziei a Faculdade. Resolvemos que a Feira tinha que voltar forte, para nunca mais parar e precisaríamos do apoio da comunidade santa-mariense – relembra Eugênia.

Na hora de colocar o número da Edição, 23, Eugênia conta que se optou por não considerar as três feiras realizadas nos anos 1960, das quais só foi ter certeza da existência após pesquisa e escrita de seu livro História da Feira do Livro de Santa Maria: memórias e registros, publicado e lançado na 40ª Feira, em 2013, quando foi patronesse.

– Comemoramos hoje a realização e a existência da 50ª Feira do Livro de Santa Maria. Sucesso e vida longa a essa grande paixão da Cidade Cultura – finaliza Eugênia.

Télcio Bresolin está envolvido com a Feira do Livro desde 1982. Acima, com a secretária de Cultura, Rose Carneiro, que atua na organização da festa literária desde antes de integrar a equipe do ExecutivoPedro Piegas


A CÂMARA DO LIVRO


Em 1996, é criada a Câmara do Livro, ideia de Télcio Bresolin, outro nome que se confunde com a história da Feira. A entidade impulsionou a participação dos livreiros e foi um passo importante para firmar a feira como um evento cultural e viabilizá-la economicamente. Os livros ainda vinham de Porto Alegre, mas agora em maior número, sob responsabilidade de Eugênia e mediação de Télcio.

A participação efetiva de Télcio Bresolin começou em 1982, quando ele foi contratado pela Cesma para ser o gerente da cooperativa. Naquele momento, a feira ainda era organizada pelos alunos do curso de Comunicação da UFSM e não existia internet, logo, a pesquisa dos livros que viriam para a praça para comercialização era feita por intermédio da Cesma, que tinha os catálogos das editoras e contatos com distribuidores.

– Nós ajudávamos também emprestando o nome da Cesma, porque as distribuidoras confiavam na cooperativa e em mim, por mais que estivessem receosas em largar os livros nas mãos de estudantes. Então ficávamos nos bastidores, mas já tinha essa participação importante no evento – relembra Télcio.

Por decisão dos organizadores, a Feira do Livro não ocorreu em 2000. Em seguida, as livrarias da cidade começaram a se juntar ativamente ao evento. Conforme Télcio, os alunos não conseguiam mais fazer a feira sozinhos, assim como a Cesma também não conseguiria. Então foram chamadas a 8ª Coordenadoria Regional de Educação, as secretarias, as livrarias da cidade. A Universidade Franciscana (na época, Unifra) também começa a participar ativamente da organização.

– Poucas feiras reúnem tantas pessoas e entidades na sua organização como aqui. É uma força coletiva que permite que ela exista nesse formato há tanto tempo. E não é só a venda dos livros, tem toda a programação cultural, que traz debates e diversidade. E acesso livre. Isso enriqueceu a feira e fez com que ganhasse a projeção que tem. Penso, inclusive, que já tem elementos suficientes para que a Feira seja declarada patrimônio imaterial da cidade – avalia Télcio Bresolin.

Em 2010, surge o Livro Livre, espaço da Feira dedicado a bate-papos com escritores e personalidades culturais, bem como apresentações de música e teatro. E a estreia já foi em grande estilo. Nomes como Guilherme Fiuza, autor de Meu Nome Não É Johnny, Caco Barcelos, Thedy Corrêa e Moacyr Scliar já compunham a programação. Em 2012, um recorde de vendas: 54.190 exemplares vendidos em 16 dias.

Rosângela Rechia, responsável pelos lançamentos, comemora a Feira deste anos ter 400 autores inscritos. Serão 210 novas obras, sendo 33 infantisClaudio Vaz

OS LANÇAMENTOS


Falando em recordes, a 50ª Feira do livro tem um bem importante. Serão 400 autores lançando e autografando 210 livros durante o evento, sendo 33 infantis. 95 a mais que no ano passado. A responsável pela programação dos lançamentos é a servidora da secretaria da Cultura Rosângela Rechia, que atua na Feira do Livro há 37 anos. Ela conta que, este ano, os destaques são as antologias, ou seja, obras que reúnem produções de vários autores.

– Teremos a da Academia Santa-Mariense de Letras (ASL), obras das Casas do Poeta de Santa Maria, Santiago e São Pedro do Sul, coletâneas da Alpas 21, de Cruz Alta, e uma sobre a História Platina, organizada pelo curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Destaco também o lançamento dos livros da Editora UFSM, no espaço da Pró-Reitoria de Extensão, e de editoras aqui de Santa Maria, como a Rio das Letras e o Recanto do Escritor. A feira está bem regada de lançamentos este ano – conta Rosângela.

Nos lançamentos de literatura infantil, Rosângela antecipa que terão obras organizadas por alunos e professores da cidade, como coletânea de livros da pré-escola do Colégio Santana, por exemplo, crônicas do colégio Riachuelo e também uma produção da escola Municipal Júlio do Canto. A servidora também destaca a grande participação de escritores de fora da cidade e do Estado:

– Além dessa gama de autores que nós que temos em Santa Maria, teremos a participação de nomes de outros municípios: Ivorá, São Sepé, Restinga Sêca, São Pedro do Sul, Santiago, Cruz Alta, Três de Maio, Caçapava do Sul, Uruguaiana, Itaara, São Vicente do Sul, Santa Cruz do Sul e Itaqui, além de Porto Alegre. Também temos autores de Santa Catarina e de São Paulo, além de uma escritora de Brasília. Quanto aos temas dos livros, são bem diversificados, desde História até Tecnologia – finaliza Rosângela.

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Bernardo Abbad

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