relembrar e celebrar

Santa Maria celebra o Dia Nacional da Mulher Negra e de Tereza de Benguela; confira a programação


A líder quilombola Tereza de Benguela, homenageada do Dia da Mulher Negra no Brasil


Desde 2014, no Brasil, é celebrado no dia 25 de julho, o Dia Nacional da Mulher Negra, data inspirada no Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha (31 de julho), criado em julho de 1992. Aqui em Santa Maria, a inclusão do Dia da Mulher Negra no calendário do município foi uma proposta apresentada pelo mandato da vereadora, escritora e professora Maria Rita Py Dutra (PCdoB) na Câmara de Vereadores, em 2022.

– Nós, comunidade afro-brasileira, estamos em um processo de contar, de visibilizar a nossa história. O racismo existente no Brasil escondeu os nossos heróis, a nossa coragem, nossos feitos, e o quanto afro-brasileiros contribuíram na construção desse país. Inclusive no Rio Grande do Sul é muito mais forte. Por muito tempo, inclusive, os setores ligados à política e à história oficial negavam a escravidão existente no Estado – conta Maria Rita.

Foi em 1992, em Santo Domingo, capital da República Dominicana, que ocorreu o primeiro encontro de mulheres negras, latino-americanas e caribenhas. Desde então, elas combinaram de se reunir todos os meses de julho no mesmo local, e o encontro entusiasmou as mulheres de todas as Américas. Na época, o objetivo já era denunciar o racismo o machismo enfrentado por mulheres negras, não só no continente, mas também no mundo.

– No Brasil, foi somente em 2014, através da lei 12.987, que foi criado o Dia Nacional da Mulher Negra, e já aproveitamos para batizar a data com uma heroína negra pouquíssimo conhecida na história do país, a Tereza de Benguela – explica Maria Rita Py Dutra.

Em Santa Maria, várias programações estão marcadas em virtude do Dia da Mulher Negra. Coletivos, entidades e instituições contam com atividades para relembrar e, sobretudo, empoderar as mulheres que, dia pós dia, fazem a história do Brasil e do mundo.


Quem foi Tereza de Benguela?

O local de nascimento de Tereza de Benguela é desconhecido. Ela pode ter nascido em algum país do continente africano ou no Brasil, mas sua vida faz parte da história pouco contada do nosso país. Escravizada fugida de um capitão, Tereza viveu no século 17 e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho, o maior do Mato Grosso, até ser assassinado por soldados do Estado. Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu bravamente à escravidão por duas décadas.  

O quilombo abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”. O quilombo, território de difícil acesso, foi o ambiente perfeito para Tereza coordenar um forte aparato de defesa e decidia em grupo as ações da comunidade, que vivia do cultivo de insumos como algodão, milho, feijão, mandioca e banana.

– Outra coisa interessante é a forma como ela administrava o quilombo. Ela se tornou a chefe do local depois que o marido morreu, mas não mandava sozinha, ela tinha um parlamento que se reunia, parece-me que semanalmente, para tomar as decisões. E ela, sobretudo, liderou a importante resistência contra os portugueses, não é? O quilombo também foi um lugar que teve uma atividade econômica muito interessante para a época – explica Maria Rita.

Não se tem registros de como Tereza de Benguela morreu. Uma versão é de que ela se suicidou depois de ser capturada por volta de 1770; outra afirma que a líder foi assassinada. Em homenagem a Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra no Brasil.


CONFIRA A PROGRAMAÇÃO EM SANTA MARIA

JULHO DAS PRETAS

O “Julho das Pretas”, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), em parceria com o Grupo de Pesquisa e Extensão em Gênero, Interseccionalidade e Direitos Humanos (GIDH) e com a Egbè Osun Ilé Àse Íya Omin Órun. O evento conta com o apoio do Observatório dos Direitos Humanos da UFSM, do projeto Daruê Malungo e do Movimento Negro Unificado de Santa Maria.

Dia 22/07 - Sábado

  • 12h, no Egbe Osun / Ilé Àse Íya Omin Órun (Bairro João Goulart, Rua João Brunhauser, 112). Encerramento, com diversas atividades culturais e artísticas, como samba de roda e slam, além de feijoada, brechó e trocas de saberes.
  • 14h – Roda de conversa sobre “Empoderamento de Mulheres Pretas”. Convidada: Deborá Evangelista – Advogada, mestre em Direito, professora e coordenadora da Ulbra Santa Maria, afro-coaching e apresentadora do programa Viva Ubuntu da TV Diário de Santa Maria.
  • 16h – Resgate ancestral, nos caminhos de um terreiro. Convidada: Olùkọ́ Ṣọla – Micaela Severo – Faz parte do culto/cultura dos àwọn òrìṣà e, também, às divindades desta terra. É formade em Ciências Sociais e Mestrade em Ciências Sociais. Integra o Neabi, Labis e o GIDH.


OBINRIN


O Comitê Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil apresenta um grande evento, rodas de conversas, oficinas, lançamentos, desfile, show e muito mais,que acontece de 21 a 30 de julho no Shopping Praça Nova, em frente ao Cinépolis.

Obirin significa “mulher” na cultura Yorubá e pode assumir vários papéis; uma mãe, uma esposa, uma filha, uma sacerdotisa, ou mesmo uma bruxa. O caminho trilhado depende da percepção da posição por ela ocupada. E, essas diferentes percepções se refletem através das mais variadas manifestações como arte, canções, linguagem, música, religião entre outros.

O evento é gratuito, aberto ao público, e as inscrições para as oficinas são feitas no site do shopping


 22/07 – Sábado

  • 16h – Roda: Força, Ancestralidade e Valorização – Deborá Evangelista – Advogada e Professora Universitária
  • 17h - Roda: Cotidiano das acadêmicas Negras da UFSM - Daniela de Souza - Graduanda em História licenciatura
  • 18h – Roda: Grana Preta “ organização financeira” – Giovana Rosa - Bacharel de Administração
  • 19h – Roda: Como deixei de ser colaboradora para ser gestora do seu próprio negócio – Rosana Cristina Mença – Bacharel em Contabilidade


23/07 – Domingo

  •  16h – Oficina: O exercício do autoamor – Valéria Maia – Coach – Analista comportamental - Facilitadora de Barras Access – Estudante de Psicologia ULBRA
  • 17h – Roda: Estereótipos que rotulam a Mulher Negra - Maria Py Dutra – Pós- Doutora em Educação
    18h – Roda: Reconhecendo nossas multipotências: realidade de mulheres negras - Meiridiane Domingues de Deus – Psicóloga - Dra. em Psicologia
    19h - Roda: Empreendedorismo da Mulher Negra “ Personale Biscoitos” - Glauci Gularte

24/07 – Segunda-feira

  •  18h – Roda: Mulher Negra empresária “Santos e Ribeiro- Limpeza e Soluções” – Elisangela Ribeiro - Empresária
  • 19h30min: Oficina de Trança Afro – Paola Rosa – Trancista


25/07 – Terça-feira

  • 15h – Lançamento Videocast “No quilombo nasce uma rosa, Isabel Cristina Genelício, o resgate da memória da líder do Quilombo Chácara dos Rosa” – ULBRA NEABI
  • 19h – Sarau Poético: Mulheres Negras em poesia - Geovana Elin- Estudante de medicina veterinária, mestre de cerimônia na Batalha da Roraima e fomentadora da cultura Hip Hop, trancista e poetisa

26/07 – Quarta-feira

  • 16h Oficina: Turbante Faixa para Cabeça - Ana Cristina Paz – Arte Educadora
  • 18h Roda: Projeto de extensão “Diálogo sobre as relações étnico-raciais na Educação Infantil - Jovaneli Lara Xavier Siqueira da Rosa - Pedagoga - TAE da UEIIA - UFSM
  • 19h Roda: A Mulher Trans e Negra no Mercado de Trabalho - Cilene Rossi – Assessora Parlamentar

27/07 – Quinta-feira

  • 18h - Oficina: Encadernação Artesanal - Ive Flores – Professora e Artista
  • 19h – Roda: Mulheres Negras nas ciências e nos espaços intelectualizados - Leonice Mourad – Pós-Doutora, Professora e membro do NEABI da UFSM
    20h Roda: Mulher Negra na Engenharia Civil - Stefane Silva Soares - Estudante de Engenharia Civil da UFSM

28/07 – Sexta-feira

  • 17h – Roda: um novo aspecto sobre criatividade: periferia e ancestralidade - Amanda Rodrigues - Artista - Graduanda em Arquitetura e Urbanismo
  • 18h – Oficina: Fotografia criativa com Celular - Bárbara Martins Pires Estudante de Publicidade e Propaganda
  • 19h – Oficina: Cuidados com a Pele Negra – Silvana Maciel – Fisioterapeuta especialista em Pele Negra
  • 20h – Oficina: Automaquiagem pele negra – Jaqueline Pena, Helo Machado e Tayane Pereira – Maquiadoras

29/07 – Sábado

  • 16h – Roda: Saúde da Mulher Negra e a Política Nacional da Saúde Integral da População Negra - Leila Coutinho – Enfermeira - ANEN (Articulação Nacional da Enfermagem Negra),
  • 17h – Roda: Políticas Públicas para a Mulher Negra e Quilombolas - Ivonete Carvalho CONEN - Coordenação Nacional de Entidades Negras
  • 18h – Roda: Mulher Negra e Representatividade nos espaços de Poder” - Dgenne Cristina Ribeiro da Silva Diretora Geral - Segundo Núcleo Cpers/Sindicato
  • 19h – Roda: Mulher Negra na Política – Alice Carvalho – Psicóloga e Candidata mais votada para vereadora em Santa Maria eleições em 2020

30/07 – Domingo

  • 18h – Exaltação e Desfile Orixás femininas
  • 18h30min - Apresentação de dança Coletivo Laba Laba
  • 19h – Show de Encerramento com as Divas do Samba “Nega Zane” e “Vera Leal” – Praça de Alimentação


MUSEU TREZE DE MAIO


Foto: Eduardo Ramos (Arquivo)

O Treze, como é carinhosamente conhecido, possui raízes por meio do antigo Clube Social Negro de Santa Maria, criado em 1903 pelos trabalhadores negros do pós-abolição. Em 2004, houve o reconhecimento do local como patrimônio histórico municipal e estadual e como um bem que integra espaço de memória, identidade e também de educação histórico-social. 

Um dos organizadores da programação do Dia da Mulher Negra do Museu Treze de Maio, o relações-públicas Serginho Marques aponta que trazer à tona a história de Tereza de Benguela, é relembrar as raízes do povo negro, além de buscar inspiração para as batalhas ainda persistentes na sociedade atual.

– Quando contamos as histórias das mulheres negras por meio de atividades culturais e sociais, estamos retratando e empoderando a história de muitas mulheres negras que , diariamente, lideram grupos, enfrentam os desafios da vida e inspiram muitas outras mulheres negras a ascender social e humanamente.Essas vivências destacadas são sinônimos de resistência!


25/07 - Terça-feira

  • 9h - Abertura
  • 9h10min - Mulher Negra e saúde: um olhar da saúde da mulher negra pelas profissionais da área - Leila Coutinho, Alice Carvalho e Daiane Tolentino
  • 10h30min - Roda de Terapia Comunitária - Raquel Kurtz
  • Em paralelo às atividades programadas, ocorrem ações de saúde e exposição de arte.
  • 14h - Autoestima da mulher negra - Maria Rita Py Dutra da Unegro.
  • 15h - A experiência do selo antirracista - Deborá Thomaz Evangelista do Comitê Igualdade Racial do Grupo Mulheres do Brasil
  • Exposição de arte

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