Noite Cultural promove a volta do carnaval de rua em Santa Maria

​Quem pisa na avenida sabe que o coração segue o ritmo da batucada. O corpo se enche de Carnaval e a alegria transborda no sorriso e na dança. Mas não são apenas os amantes do samba e da folia que se beneficiam desse momento. O Carnaval movimenta o turismo, a economia e a cultura da cidade. Em 2015, ocorreu o último desfile de rua em Santa Maria e, desde então, a alegria das escolas de samba não tem mais ecoado na Avenida Liberdade e muito menos na cadeia produtiva da cidade.

A boa notícia é que esse ciclo se encerra neste fim de semana. A “Noite Cultural”, que ocorre no sábado, dia 26 de novembro, a partir das 20h, na Gare, é uma retomada simbólica do retorno do Carnaval de Rua. A atividade fora de época coincide com o Mês da Consciência Negra e foi idealizada pela Associação Aliança pelo Samba (AAPS) e pelas Escolas de Samba do município. O intuito do evento é transformar a Gare da Estação em um sambódromo com a estrutura necessária para proporcionar a festividade com segurança e relembrar os tempos em que as escolas levavam música, samba e alegria para as ruas do Coração do Rio Grande.

De acordo com o presidente da AAPS, Leonardo Ribeiro, 43 anos, o evento vai ser um espetáculo a céu aberto:
– Estamos falando de recomeço. Temos que estar cientes de que estamos dando o pontapé inicial no Carnaval. O dever que temos é de mostrar para a nossa comunidade que Santa Maria ainda respira Carnaval – fala.

Com o intuito de resgatar a tradição do Carnaval de Rua, o novo formato da celebração vai contar com o formato de desfile, e, que quatro escolas de samba vão se apresentar: Arco-íris, Mocidade Independente das Dores, Unidos de Camobi e Vila Brasil.

Nesta edição, serão avaliados os quesitos carnavalescos pré-estabelecidos pela AAPS, como tema enredo, comissão de frente, bateria, carro alegórico, harmonia, duas alas, casal mestre sala e porta bandeira, estandarte, baianas, velha guarda e ala de convidados. Além das atrações carnavalescas, a “Noite Cultural” também vai celebrar outros ritmos, como hip hop e pagode. Para participar, basta doar um quilo de alimento.


O grande retorno da folia de Momo

Depois de um jejum de Carnaval de Rua que durou 7 anos, as Escolas de Samba de Santa Maria estão empolgadas com o retorno da festividade. O Diário conversou com representantes de cada uma das entidades carnavalescas envolvidas na “Noite Cultural” para saber o que cada escola preparou para o carnaval fora de época.


Unidos de Camobi


Nós vamos reeditar um samba-enredo de 2012, que tem como tema a fênix. Só que construímos tudo novo em tempo recorde. Estamos também em um momento de reconstrução da escola. A fênix renasce das cinzas, então vamos fazer um bom trabalho. Vamos contentar e alegrar quem estiver na arquibancada lá.

João Luiz Xavier, presidente da Escola de Samba


Vila Brasil

Muito mais do que resgatar o Carnaval, resgataremos a memória da própria escola. Vamos representar o Carnaval em si, desde a Grécia, Roma, as festas de Baco… Toda a mitologia, até chegar no Carnaval no Brasil, de Santa Maria e da Vila Brasil.
É uma homenagem ao nosso próprio Carnaval e a todas as escolas que não puderam estar presente, bem como trazer um pouco do Carnaval de clube, que tem diferença nas fantasias que as escolas usam na avenida. Resgatamos um samba-enredo antigo da escola, que já está na boca da nossa comunidade Vermelho e Branco.

Sérgio Marques, assessor de Comunicação da Escola de Samba


Arco Íris

Vamos falar sobre o Carnaval antigo das colombinas, sobre um pouco da arte do Carnaval que se perdeu. Vamos levar mestre-sala, porta-bandeira, comissão de frente e algumas novidades artísticas que serão mostradas na avenida. No samba, vamos falar sobre colombinas, pierrots e das baianas, que antigamente se vestiam sem muitas plumas. O último Carnaval que tivemos, falamos sobre os orixás, resgatamos nossas origens. São lembranças ótimas. Não fomos para disputar e ganhar, mas conseguimos apresentar nosso carnaval na avenida brincando e se divertindo.

João Erberti Ribeiro, presidente da Escola de Samba Arco Íris


Mocidade Independente das Dores

O tema da Mocidade vai falar sobre a miscigenação dos povos e vai trazer uma retrospectiva de todos os carnavais. Já são sete anos que estamos em jejum de carnaval. Sabemos que muitas escolas não têm espaço público para ter os ensaios, para fazerem festas, por isso quem coloca as escolas na rua já pode se considerar vitorioso. Antes da pandemia, ficamos o ano todo em função do carnaval para resgatar esse pessoal da bateria, as baianas e a nova guarda. Encontramos uma maneira de fazer um resgate de todas essas pessoas e de construir um novo tema porque a Mocidade vem sempre inovando. Independente de ser uma noite cultural, queremos que seja uma apresentação e não um campeonato entre todas as escolas.

Luiza Barros, diretora Social da Escola de Samba Mocidade Independente das Dores


“O que acontece na Avenida Liberdade, vai acontecer na Noite Cultural”. Essa é a promessa de Leonardo Ribeiro, presidente da Associação Aliança Pelo Samba (AAPS), que comenta sobre a inspiração no Carnaval do Rio de Janeiro:
– Vamos fazer o evento em forma de cortejo, vai ter toda a estrutura e proteção. Temos preocupação com segurança, por isso, a Gare vai ser toda fechada. Vai ter arquibancada e camarote – relata.

Além do desfile das Escolas de Samba, que é um dos pontos altos da programação, o evento ainda vai contar com homenagens às pessoas envolvidas no Carnaval e vai receber diversas atrações culturais, como: Vani, Cia Hip Hop Mecanic Street Dance, MC GD, Ritmo de Camobi, Missionários da Rima, Escola Clemenciano Barnasque, Paulo e Ruti Afro-dança, DJ PC afro-music e pagodinho Campiol.

O artista Vani Félix tem realizado shows em todo o Estado e conta que vai levar um repertório bem especial para a Gare:

– Vai ter muito pagode e samba para aquecer antes da apresentação das escolas. Tocamos muitas músicas atuais como Mumuzinho, Menos É Mais e também os clássicos, Só Pra Contrariar, Raça Negra. Tudo que o pessoal gosta de escutar – finaliza.

A realização da “Noite Cultural” é da AAPS, com o apoio da prefeitura de Santa Maria. O financiamento do evento foi feito por meio das emendas dos deputados federais Paulo Pimenta e Maria do Rosário e dos vereadores locais Rudys Rodrigues, Marian Callegaro, Werner Rempel e Maria Rita Py Dutra. Para adquirir ingresso, basta levar 1kg de alimento nos seguintes pontos de troca: Cebratec, Theatro Treze de Maio e nas escolas de samba. Na hora do evento, os ingressos também estarão disponíveis.

Expectativa

Se a saudade de quem conheceu o Carnaval em Santa Maria é imensa, para quem trabalhava como carnavalesco ou com vendas de adereços para essa grande festa, ela é ainda maior. Alcione Flores do Amaral, 69 anos, vice-presidente da AAPS, relembra que entre os prejuízos da ausência da festa de rua, estão questões econômicas e culturais. Como representante também da Escola Vila Brasil, ela relembra que as crianças santa-marienses não conhecem mais o Carnaval e afirma que faltam baianas nas escolas. Para ela, o resgate do Carnaval é urgente:

– Na nossa opinião, é uma abertura para que o Carnaval de 2023 aconteça. Que alguém se sensibilize e realize o Carnaval de forma integral, na Avenida Liberdade, no potencial total das escolas. Eu não posso dizer que vai haver Carnaval de rua em 2023. Estamos refazendo para relembrar a Folia de Momo e sensibilizar a população, o Poder Público. Vamos torcer para que tudo dê certo, não só aqui em Santa Maria, mas em várias cidades do Rio Grande do Sul que estão com o carnaval prejudicado. Não vamos ficar de braços cruzados. Essa é nossa expectativa.

Programação da Noite Cultural​

  • 20h – Abertura oficial e apresentação de hip hop
    21h – Show de pagode e samba com Vani
    21h30min – Homenagens
    22h – Desfile
    Escola de Samba Unidos de Camobi
    Escola de Samba Arco-Íris
    Escola de Samba Mocidade Independente das Dores
    Escola de Samba Vila Brasil
  • O quê? – Noite Cultural de Carnaval
  • Onde – Gare de Estação
  • Quando – Neste sábado, 26 de novembro, às 20h
  • Quanto – 1kg de alimento não perecível. Pontos de troca na Cebratec, Theatro Treze de Maio, e com as Escolas de Samba










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