Uma soma de anos? Não só...

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Há poucos dias, uma jovem amiga surpreendeu-me ao revelar ter ido a um bar que frequentava e ter-se percebido velha. "Como velha?", logo me manifestei. Aos trinta e poucos anos, ela só encontrara gente de menos idade, fato que a fez dar-se conta de que o lugar não lhe cabia mais. Terminado o papo, saí pensando no que ouvira e me perguntando como funciona a percepção pessoal da idade em cada fase da vida.

Não foi diferente o que, algum tempo depois, experimentei ao ouvir outra amiga, próxima dos cinquenta anos, dizer algo semelhante em outras circunstâncias. Conversávamos sobre namoro. A idade não era apenas uma soma de anos, era mais, muito mais, na busca de um novo amor.

Um primo da família Sangoi, anos atrás, veio de Porto Alegre para visitar parentes em Santa Maria. Como de costume, sábado à tarde, foi à missa na Igreja das Dores. Na saída, não se contendo, perguntou à mulher: "Mas onde estão os velhos das Dores? Não vi nenhum. Deixaram de ir à missa?" Ao que a mulher, calmamente, respondeu: "Os velhos das Dores? Os velhos das Dores agora somos nós!" O casal contava com pouco mais de sessenta anos...

Até não muito tempo atrás, eu me admirava, ao ler nos jornais, a referência a "idosos de sessenta anos". Parecia-me um exagero. Agora têm sido distinguidos os idosos de 65 a 80, dos de 80 em diante....É o que está acontecendo na programação das vacinas. Os maldosos falam dos últimos como os "pés na cova". Na verdade, esquecem que só é velho quem já muito viveu, como dizem os sábios do Oriente e do Ocidente! A percepção da idade e sua avaliação exigem lucidez e sabedoria. Moacyr Scliar já dizia, quando entre nós, que "velhos são os que têm, no mínimo, dez anos mais do que nós". No dia 15 de abril deste desejado 2021, que está sucedendo ao inesquecível pandêmico 2020, comemorarei oitenta anos. A minha mãe, se presente entre nós, certamente me levaria a uma alegre, intensa e vibrante celebração. Ela sempre comemorou o Dia da Vida, anunciando a data festiva trinta dias antes e lembrando o acontecimento nos trinta dias subsequentes. Minha mãe era uma mulher extraordinária.

Na vida há desafios em todas as idades. O primeiro: aceitar cada momento! O segundo: viver todos os momentos como únicos e irrepetíveis! Há outros, mas menos importantes, sem dúvida.

Texto: Máximo Trevisan
Advogado e escritor