plural

PLURAL: os textos de Juliana Petermann e Eni Celidonio

18.398


Caetano na sala de casa
Juliana Petermann 
Professora universitária

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">

Cresci com Caetano Veloso na sala de casa. Minha mãe costumava ouvir, cantar e dançar ao som dos LP`s. Gostava de me explicar as letras e recuperar o contexto das canções. Falava-me sobre a importância de cada música na vida dela. Verso por verso, decifrava "Alegria, Alegria". Para ela, uma ode à liberdade, que lhe servia muito bem: no ano de lançamento dessa música, ela, com 17 anos, também sofria o período da ditadura militar. Contava-me sobre o exílio de Caetano e as canções que foram fruto desse tempo. Anos depois, herdei tanto o toca-discos, quanto os LPs e Caetano veio para casa comigo.

Na última sexta, 7 de agosto, nos encontramos de novo, eu e meus Caetanos aqui de casa, Caetano na casa dele. Esse encontro foi na live, que, de tão esperada, ganhou a alcunha de Live A Lenda. Fruto da insistência de Paula Lavigne, ocorreu no mesmo dia em que Caetano completou 78 anos e contou com a presença dos seus filhos Tom, Zeca e Moreno. Tanto a minha casa, quanto a de Caetano reconfiguradas pelos meses de isolamento social e pelas saudades dos encontros. Na estante dele, Gil, Bethânia, Chico, Tarsila do Amaral e Tom Jobim.

Na minha estante, o LP Outras Palavras, lançado por Caetano no ano em que eu nasci, 1981. Fico pensando no quanto a obra de um artista pode costurar a nossa existência: desde a casa em que nasci até a que vivo hoje, Caetano sempre esteve e sempre ocupou lugares de honra. Fito Paez muito bem o definiu: "Caetano Veloso é um bairro da nossa vida. Lá, retornaremos em algum momento entre uma caminhada, para refazer seus caminhos de flores".

A VIDA É A AMIGA DA ARTE

Como diz o próprio Caetano, a vida é amiga da arte e vê-lo cantar em tempos tão áridos é um oásis. Daqui do meu sofá, penso na honra que é viver no mesmo tempo e no mesmo planeta que vive esse artista. Um patrimônio público em forma de pessoa. Pelas tramas da vida, encontro-me novamente com Caetano e dou a meu filho o nome de Moreno, tal e qual seu primogênito.

Durante a live, Caetano fez apelos pelos povos indígenas e lamentou: "O negócio é duro mesmo, o Brasil não tem um ministro da Saúde que tenha chegado como tal. E o Ministério do Meio Ambiente parece ser contra o meio ambiente (...) São situações muito graves que nós, os brasileiros, estamos enfrentando. Mas a gente vai? A gente vai, o Brasil é o Brasil". Aqui da sala de casa, nos exclamamos também. Os tempos são duros, mas com Caetano, a gente vai. O Brasil é o Brasil.

Óculos nem sempre melhoram a visão
Eni Celidonio 
Professora universitária

style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Sabe quando você usa um sapato apertado e mal consegue caminhar? Pois é...

Quando eu era menor (porque pequena eu ainda sou), minha mãe é que escolhia as minhas roupas. Era uma época em que havia festas de aniversário, a gente amava essas festas, mas as roupas... Eu me lembro de um vestido que me espetava como se fosse feito de alfinetes e adivinha que vestido minha mãe sempre escolhia para eu vestir nas festas? Exatamente... E o sapato e as meias brancas, lavadas com anil? Cabelos presos com um laço horroroso, que fazia com que a gente parecesse uma boneca humana... Credo!

Aliás, as festas eram totalmente diferentes das festas infantis de hoje. Primeiro, que minha mãe fazia a gente comer pra não ficar atacando cachorro-quente e salgadinhos, já que ninguém tinha coragem de pegar um docinho antes de cantar o "parabéns". Segundo que a gente ia o caminho inteiro ouvindo "nada de sujar o vestido", "cumprimenta os donos da casa", "nada de entrar nos quartos ou na cozinha" etc. Era uma desgraça! Parecia que eu e minha irmã éramos figurantes da Globo: a gente entrava muda e saía calada.

O pior é que todas as crianças faziam o mesmo: todos sentados e, o que mais se ouvia, era "não, muito obrigado"... Mamãe só olhava e a gente já sabia o que deveria fazer. Era a educação pelo olhar, nem precisava falar. E se a gente por um acaso saísse da linha, quando chegasse em casa, o bicho pegava.

Eu nunca entendi qual a graça de ir numa festa e ficar sentado, sem se sujar, sem brincar, correr e chegar em casa em frangalhos. Acho que era um campeonato para ver qual a mãe educava melhor seu filho, só pode. Eu vejo hoje as crianças se divertindo e penso se não era possível a gente se divertir também. Puxa, não custava nada, né?

TIPO SCARLETT O'HARA? 

Mas o pior era o maldito vestido. Não é que eu não me levantasse porque minha mãe me obrigava a ficar sentada. Não... Eu não me levantava porque o maldito vestido me espetava na cintura de maneira enlouquecida se eu me levantava, então, o melhor a fazer era ficar paradinha na cadeira, fingindo ser a menina mais obediente do mundo.

Eu pensei, nessa época que, quando eu crescesse, eu jamais usaria nada que me incomodasse, é tipo a Scarlett O'Hara e o "jamais passarei fome novamente". Mas aí veio a pandemia e com ela o uso da máscara. Até aí, tudo bem. Mas gente! Usar máscara usando óculos faz com que a gente acabe fazendo a seguinte escolha: ou tiro o óculos e não enxergo nada, ou fico de óculos e não enxergo nada do mesmo jeito, porque as lentes ficam totalmente embaçadas. Dirigir, então, é quase um ato de coragem. Eu estou sozinha no carro e puxo a máscara para o pescoço, uso como um colar, totalmente errada, mas enxergando tudo.

Tem gente que diz que as máscaras vieram pra ficar, logo fica a pergunta: alguém tem alguma notícia sobre isso? É sério? Valei-me, São Tomé das Máscaras Arriadas!

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli Anterior

PLURAL: os textos de Márcio Bernardes e Rony Cavalli

PLURAL: os textos de Giorgio Forgiarini e Rogério Koff Próximo

PLURAL: os textos de Giorgio Forgiarini e Rogério Koff

Colunistas do Impresso