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Nosso ofensor merece a misericórdia, nunca a vingança

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Talvez estejamos, em termos de Brasil, fundamentalmente, vivendo um das fases mais difíceis no que diz respeito às interrelações do ser humano com os seus colegas de jornada, ou seja, com os outros seres humanos, afinal, para quem ainda não percebeu, estamos todos no mesmo barco. Para perceber essa transformação comportamental, para pior, não precisa muito esforço. Basta observar com um olhar um pouco mais atendo, para vislumbrar essas transformações de maneira muito nítida. Digo no Brasil porque, em aqui vivendo, é fácil observar e perceber essas grandes transformações estruturais no comportamento humano nos seus aspectos íntimo e emocional, fundamentalmente.

O Brasil e o mundo estão em crise econômica? Claro que sim, afinal uma pandemia gera estresse, gera medo e todos os outros componentes do comportamento humano que fazem do der humano um grande eletrocardiograma em que em alguns momentos está em alta e em outros está em baixa. O grande problema de todo esse estado de coisas é que, muitas vezes, deixamos aflorar em nós alguns sentimentos inferiores como o rancor e o ressentimento, fabricantes de um outro sentimento inferior, chamado mágoa. E a mágoa quando se instala pode corroer o nosso íntimo assim como a ferrugem destrói o metal.

Todos os sentimentos compostos do nosso currículo emocional têm funções corretivas, visando o equilíbrio interior. O "X" da questão é que nós não sabemos como lidar com eles, pois nos falta, pelo nosso atraso espiritual, um entendimento maior para dosar o nosso controle emocional. A ofensa, sem dúvida, é algo que dói muito no nosso íntimo. Porém, a dor da mágoa é um alerta na nossa vida emocional para repensarmos a nossa forma de olhar as pessoas com as quais temos algum tipo sentimento afetuoso, pois que não existe mágoa entre pessoas que não são ligadas a nós pelos laços do afeto.

A mágoa, sentimento este muito comum em espíritos ainda muito atrasados como somos todos nós, é um subproduto do orgulho, mais exatamente, do orgulho ferido. Este, o orgulho ferido, é um sentimento de curta duração, mas que, em contrapartida, deixa uma herança de longa duração, chamada mágoa, que vive, no nosso íntimo, por muito tempo, até mesmo, em certos casos, por toda a vida. Pois, são nesses momentos em que a mágoa se instala, é que precisaríamos perguntar (mas não perguntamos) por que esse sentimento causa em mim esse ferimento, sem sangue e que não dói no corpo, mas dói na alma a ponto de fazer eu me sentir ofendido?

Todos os sentimentos da nossa coletânea emocional, principalmente os inferiores, têm como principal função nos mostrar onde estão as nossas fragilidades. Todos eles, como o orgulho, o ódio, a inveja, e todos os outros que rotulamos como sentimentos ruins, só passam a sê-lo quando nós damos vasão a eles emergirem para fora do nosso íntimo. O dia em que conseguirmos entender que a mágoa não está no ofensor e sim no ofendido, não precisaremos perdoar porque, simplesmente, não nos sentiremos ofendidos. Contra essas pessoas que disparam tiros de mágoa, existem muitas formas inteligentes e superiores para se proteger delas, mas que, com certeza, não é revidando com outros sentimentos inferiores. Por isso, entenda que quem assim age contra alguém, com certeza, talvez não sejam pessoas maldosas, mas sim pessoas sofrendo de um vazio existencial pela falta de amor. Aprendendo a lidar com elas, você as ajuda e, ao mesmo tempo, se protege das farpas mentais de que elas vêm carregadas.

Não raras vezes quando alguém por quem temos uma admiração ou uma amizade sólida nos desaponta ou nos machuca emocionalmente, os primeiros sentimentos que afloram são a raiva e a indignação. Estes, porém, são sentimentos de vida curta e que logo se desvanecem com o passar do tempo. O que não podemos permitir acontecer em nosso íntimo é deixar esses dois sentimentos se transformarem em mágoa, esta sim, de longa duração. Por isso, é importante que, seja qual for a dificuldade que possa nos levar a ficar magoados é, também importante, não valorizarmos nem as ofensas e nem os ofensores para não ficarmos ligados emocionalmente à pessoa que nos fez sofrer, o que não significa dizer que devemos esquecer a dor emocional que nos machucou. Claro que não! O que precisamos é não manter vivo em nós, por muito tempo, esse sentimento inferior e destruidor. Por isso, procure transformar no seu íntimo esse sentimento poluente por um saudável, pela simples razão de que o nosso ofensor merece a nossa misericórdia, nunca a nossa vingança.

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