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No Brasil, vive-se em 'banho-maria'

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Estamos aturdidos, como se vivêssemos a pior realidade já enfrentada. Revisando o passado vamos ver que esta é nossa sina: viver em crise política/econômica/social parece ser a regra no nosso país. Aqui, sempre vivemos sob tensão, em clima de incerteza, com raros intervalos de harmonia. O drama é o mesmo, com características, circunstâncias e personagens diferentes.

Em 1904, o Rio de Janeiro enfrentou a pandemia de varíola. Houve revolta popular contra a vacinação. No Congresso Nacional, "uniram-se na oposição à vacina monarquistas, militares, republicanos mais radicais e operários. Era uma coalizão estranha e explosiva", segundo o historiador Jaime Bechimol.

O período colonial e do Império foram pontilhados de revoltas e violência. A República nunca foi republicana. Ao contrário, é pontilhada de escândalos de corrupção, sequência de revoluções e golpes de estado exitosos ou tentados. Deodoro e Floriano, no primeiro mandato do regime presidencial, se desentenderam e Floriano governou sob estado de sítio. Daí, até 1930, quando Getúlio tomou o poder pelas armas, o clima sempre foi de instabilidade.

Os paulistas foram às armas em 1932 para destituir Vargas e chamar uma constituinte, mas a revolução foi sufocada. Nova constituição foi promulgada em 1934 para ser reformada em 1937, dando poderes ditatoriais a Getúlio. Em 1945, Vargas é deposto pelos militares, mas voltou ao poder cinco anos depois eleito pelas urnas, suicidando-se em 1954. Assumiu o vice, até a eleição de JK. A eleição foi contestada e um golpe é tentado para evitar sua posse. Durante seu governo houve a Revolta de Jacareacanga e Aragarças. JK foi sucedido pelo histriônico Jânio Quadros, que assumiu e renunciou em 1961. No mesmo ano novas escaramuças e indícios de golpe; o país quase foi às armas e, ao fim, foi negociada a adoção do parlamentarismo para que Jango pudesse assumir a presidência.

Dois anos depois um plebiscito fez retornar o presidencialismo. No ano seguinte os militares tomam o poder e permanecem até 1986, quando Tancredo é eleito, morre sem tomar posse, assume Sarney, depois dele Collor e o impeachtment. Houve normalidade no período de 1992 a 2016, quando novo impeachment recolocou o país em "banho-maria" e os brasileiros a cozinhar em fogo indireto.

Isto tudo em síntese muito apertada, pois há inúmeros outros episódios que mostram que a turbulência é a regra.

Como visto, andamos em círculo nada virtuoso. A política conturbada, a economia em frangalhos, o fortalecimento das milícias e do crime organizado, mais o medo trazido pela pandemia e falta de critérios objetivos e eficazes de enfrentá-la, é assustador. Mas acredito que iremos sobreviver, chamuscados é verdade. Não é fácil ser cozinhado em banho-maria, mas o brasileiro já demonstrou que pode resistir. O perigo é colocarem o país a cozinhar em panela de pressão. 

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