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Democracia e virtude

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Em 2020, teremos eleições municipais e, mais uma vez, colocaremos em xeque, não apenas nossas instituições, mas também nossas crenças democráticas. Crenças estas que, convenhamos, nunca foram exatamente uma unanimidade. Não é novidade que por aqui viceja com certa força a ideia de que o exercício da política deve se restringir a um pequeno grupo de pessoas supostamente mais conscientes e letradas, aptas a tomar as melhores decisões em nome de todos.

Getúlio Vargas, Oswaldo Aranha, Borges de Medeiros, Júlio de Castilhos, além de toda uma patota que assumiu o poder em 1964, estão entre aqueles que fizeram pouco caso da democracia, seja por realmente não acreditarem nas suas vantagens, seja por puro cálculo egoísta para atingir o poder.

Em comum, uma única tese: a de que populações são irracionais e, portanto, incapazes de decidir por si quanto a seus próprios destinos. Essa premissa, no entanto, é parcialmente correta. Sim, é verdade que multidões são irracionais, mas não é verdade que isso as torna incapazes em absoluto de decidir quanto ao seu próprio futuro.

As populações são, sim, irracionais, mas não por serem compostas por pessoas idiotas, e sim por serem constituídas por milhões de pessoas com racionalidades distintas. Isso não faz com que a democracia seja impossível, mas, sim, que o modelo democrático seja complexo, custoso e, por vezes, até mesmo frustrante.

Alexis de Tocqueville, lá no século XVII, já dizia que não existe garantia de que decisões democráticas sejam boas. Se a multidão é irracional, nada mais óbvio que algumas de suas decisões também sejam. Isso não significa, no entanto, que temos que abrir mão de um sistema democrático. Se a democracia é ruim, a ditadura é muito pior.

Primeiro, porque sem democracia não há participação e sem participação não há controle. Não há como saber quem são ou como atuam os iluminados a ocupar o governo. Aceitar o autoritarismo é dar um cheque em branco a um estranho na ingênua expectativa de que ele o utilize para o bem de todos.

Segundo, porque modelos autoritários são instáveis. Para cada ditador no poder existirão sempre dezenas de opositores tentando derrubá-lo. Aquele que é alijado do poder pela força, automaticamente se sentirá legitimado a tomar o poder também pela força. Assim, mesmo que um regime autoritário proporcione algum período de prosperidade econômica (o que é muito comum), tenderá a ruir assim que encontrar uma oposição que também aja pela força (o que é mais comum ainda).

A democracia é, sim, muito custosa, lenta e é natural que isso gere impaciência. Ela é, porém, necessária e sua qualidade depende do espírito cívico dos cidadãos, de sua disposição de participar da vida política, de sua capacidade de decidir de maneira consciente e, sobretudo, de uma eterna e trabalhosa vigilância. Como já escrevi em artigo anterior: a democracia é uma virtude e nenhuma virtude se exerce com facilidade.

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