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A corrida eleitoral

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Embora ainda faltem mais de seis meses para as eleições, não se fala em outra coisa. A cristalização das pesquisas eleitorais, com Lula, há meses, possuindo 48% das intenções de voto, e com chances de decidir a fatura ainda no 1º turno, e Bolsonaro estacionado nos 25%, por ora, inviabilizam a tese da terceira via. Num provável 2º turno, Lula também venceria em todos os cenários. A persistirem esses números, tudo indica que teremos pela frente, por parte de Bolsonaro, a campanha eleitoral mais mentirosa de todos os tempos.

Há algo muito errado com um país que substitui as boas práticas de civilidade pelo discurso do ódio. Refleti sobre isso noutro dia, ao assistir a um filme antigo (de 1957), mas, ao mesmo tempo, muito atual. Em preto e branco, o filme "Doze homens e uma sentença" tem muito a nos ensinar sobre a arte do diálogo e do convencimento. Praticamente, todo o filme foi rodado na sala do júri, onde 12 jurados, inicialmente dispostos a condenar o réu, um a um, mudam de posição, quando um deles admite ter dúvidas. A lição do filme é que, quando se escuta a opinião do outro, nos tornamos menos propensos a erros.

Voltando para a corrida eleitoral, existe um fator que pode ser determinante para viabilizar uma terceira via. Trata-se do Instituto das Federações de Partidos, que será testado nestas eleições. Ao contrário das coligações, em que partidos sem nenhuma afinidade ideológica se unem apenas para ganhar as eleições, nas federações, os partidos devem permanecer unidos até o final do mandato. Por um lado, pode ser um fator que favoreça a governabilidade (como no parlamentarismo), diminuindo a influência do chamado "centrão". Por outro, evita o desaparecimento de partidos menores, que irão se fundir com os partidos maiores. Independentemente se haverá ou não uma 3ª via, dá para tentar traçar um perfil dos dois líderes nas pesquisas eleitorais.

Lula foi definido por um colunista do UOL como um pequeno-burguês, que gosta do conforto e nunca foi comunista, talvez, nem ideológico de esquerda. Ele surfa na onda, com uma visão social mais próxima da social-democracia, conforme os seus respectivos governos mostraram. Porém, acrescento eu, no jogo da política, do qual é mestre, Lula está sempre três casas à frente dos adversários. Seu pragmatismo se deve ao fato que ninguém será eleito presidente só com votos da esquerda. Quando compreendeu isso, ganhou duas eleições. Três, se colocarmos na sua conta a eleição de Dilma Rousseff. Isso explica a escolha de Geraldo Alckmin - um típico político de direita - como vice na sua chapa. Ele segue no plano A, vencer no primeiro turno, para não dar oportunidade ao surgimento de uma terceira via.

Bolsonaro é o mesmo desde que ameaçou colocar bombas nos quartéis. Seu habitat natural é a provocação e o confronto. Desde que tomou posse fez de tudo para desunir o país e abalar as instituições. O caso da acusação, sem provas, de fraude nas urnas eletrônicas é ilustrativo. Mesmo sendo processado por espalhar fake News, ele não desiste. Recentemente, voltou a insistir no assunto. A tese de que o ministério da Defesa poderia realizar uma "auditagem" das urnas, misturada com a indicação do general Walter Braga Neto para vice-presidente, constitui nova ameaça à democracia. É uma forma de intimidar o TSE e a sociedade com a mesma tentativa golpista que fracassou no 7 de setembro, tentando "colar" na sua imagem a falsa informação de que o Exército está por trás de sua candidatura. No fundo, é uma tentativa desesperada de perdedor. Ele sabe que, se perder, Lula não irá deixar barato os ataques que sofreu do clã Bolsonaro.

Por mais paradoxal que pareça, neste momento, existe uma união de interesses entre Bolsonaro e Lula. Interessa a ambos a imagem de um "país dividido". Bolsonaro quer Lula para poder usar os erros do PT ("mensalão") e as acusações ao comunismo (que sempre rendem votos em cima da ignorância do povo!) e Lula quer Bolsonaro para escapar de um debate mais aprofundado sobre a gestão petista.

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