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'A morte é um dia que vale a pena viver'

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Talvez uma das coisas mais difíceis não é saber como agir, mas sim o que dizer perante um ente querido em estado terminal da vida orgânica. Imagino não ser uma tarefa das mais fáceis entre todas que se nos apresentam durante a nossa jornada neste planeta escola onde todas as experiências pelas quais passamos são lições preciosas contidas no nosso planejamento espiritual, ainda que, muitas delas, não somente não conseguimos entender a razão de atravessarem no nosso caminho como, principalmente, nos julgamos não merecedores delas.

Pois, para quem tem em casa ou internado em um hospital um familiar considerado pela medicina como doente terminal, atrevo-me a indicar um livro publicado recentemente e que, apesar de não estar na lista dos mais vendidos da revista Veja, é, com certeza, um dos mais lidos da atualidade. Escrito pela médica paulista Ana Claudia Quintana Arantes (não espírita), especialista em Cuidados Paliativos, ele possui um título um tanto quanto excêntrico: A morte é um dia que vale a pena viver. É uma preciosidade literária quase que obrigatória para quem tem em casa ou internado em um hospital um familiar no corredor da morte da vida. Talvez você, assim como eu, antes de ler o livro, nunca tenha, sequer, ouvido falar e muito menos, ainda, saber para que serve essa especialidade chamada de "Cuidados Paliativos". Aliás, caso, um dia, eu me tornar um doente terminal, eu gostaria de ter ao meu lado um profissional com essa especialização médica.

Gostei tanto do livro que vou pedir licença a você que me lê para transcrever aqui algumas das tantas coisas que a Drª. Claudia escreve a respeito do assunto. Diz ela a folhas tantas: "Dizem que falar a verdade para o paciente com uma doença grave pode mata-lo antes da hora. Essa é uma das maiores mentiras que ouço, e ouço quase sempre. Enfrento dilemas frequentes diante de familiares que me imploram para não falar a verdade sobre a doença dos meus pacientes, pois acreditam cegamente que a verdade fará com que fiquem deprimidos e morram antes da hora. Comportam-se como crianças que não querem abrir o armário com medo do monstro imaginário, sem se dar conta de que a casa está caindo. E o armário vai ruir com a casa."

 Continua ela: "O que mata é a doença, e não a verdade sobre a doença. Claro que haverá um momento de tristeza ao saber-se doente, gravemente doente. Mas essa tristeza é a única ponte até a vida que pode ser vivida verdadeiramente, sem ilusões ou falsas promessas de cura. O que mata a esperança não é saber-se mortal, mas sim perceber-se abandonado." Ainda sobre algumas passagens do livro, destaco uma que reputo como uma verdade insofismável que diz o seguinte: "Pessoas que não gostam de falar sobre a morte são como crianças brincando de esconde-esconde numa sala sem móveis: elas tapam os olhos e acham que ninguém as vê. Pensam de um jeito ingênuo: Se eu não olho para a morte ela não me vê. Se eu não penso na morte, ela não existe."

 Lendo o livro, fiquei com mais certeza de que não estamos nem um pouco preparados para quando esse momento chegar para nós, tampouco, para quem amamos. Mesmo que a morte seja o único acontecimento certo nas nossas vidas, além de não nos preocuparmos com ela, vivemos como se fôssemos imortais. Pela nossa exacerbada materialidade, não compreendemos que o processo de morrer é o final de uma etapa importante na evolução e aperfeiçoamento no processo de aprendizagem do espírito imortal, matriculado nesta gigantesca escola chamada Planeta Terra. E esse final de "ano letivo espiritual" será menos amedrontador na medida em que entendermos que a vida do corpo é temporária e finita, mas a do espírito é permanente e imorredoura. Ao entendermos isso, talvez nos desapeguemos das coisas materiais que damos tanto valor e passemos a dar mais importância aos valores morais que levaremos conosco.

Encerro com um pequeno parágrafo do livro: "Permanecer ao lado de alguém que está morrendo fará com que experimentemos muitas vezes essa sensação de estar perdidos. Não é o caso de fugir. É nesse espaço de tempo que conheceremos caminhos totalmente inéditos dentro de nós mesmos para chegar a um lugar incrível: a vida." Pois, para você que tem um doente terminal em casa e mesmo para você que não tem, esta e outras verdades ainda submersas no nosso inconsciente, são encontradas nesse livro de título meio estranho, mas de conteúdo maravilhoso chamado "A morte é um dia que vale a pena viver".

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