Existem conceitos econômicos que já foram provados empiricamente, fornecendo dados e interpretações que são suficientes para que se confirme qual o caminho que deve ser escolhido - práticas eficientes que levaram ao desenvolvimento. No Brasil (e em quase toda a América Latina, lamentavelmente), entretanto, o que se vê é que a lógica infelizmente é deixada de lado e a realidade é distorcida para se enquadrar em argumentos teóricos incorretos.
Exemplifico: desde a teoria das vantagens comparativas de David Ricardo, descrita em 1817, é evidente que o comércio internacional e a abertura comercial são essenciais para que um país se desenvolva. Primeiro porque promovem a especialização da economia nos fatores de produção disponíveis; em segundo lugar, porque nenhum país têm todos os fatores disponíveis para o seu desenvolvimento. Assim, cooperar é essencial para que uma sociedade se torne mais rica.
Mas aqui o paradigma é contrário: desde os anos 30 subsidiamos fortemente a indústria nacional através de barreiras tarifárias e regulamentações, resultando em produtos piores e mais caros para os consumidores (que perdem poder de compra dos seus salários), concentrando ganhos nas mãos apenas de um grupo de empresários. Essa é a pior concentração de renda que existe, mas não vemos nenhum dos teóricos de esquerda batendo nela, pelo contrário, o incentivam, tudo em nome da "indústria nacional".
Além do comércio internacional, aqui ainda se discute o papel dos investimentos estrangeiros. Dado que o nosso país tem uma taxa de investimento baixa, atrair investimentos externos é um modo de amenizar parte dos efeitos da nossa baixa poupança, visto que é o investimento privado o motor do desenvolvimento econômico.
Outra vez aqui tudo é tratado de forma distorcida. Por puro populismo, governos incentivam estatais e "campeões nacionais" ao invés de atrair investimentos externos, argumentando que os lucros das multinacionais são enviados ao estrangeiro, ou seja, que essas empresas viriam somente para se aproveitar das riquezas do Brasil. Outra vez estamos errados: por mais que os lucros sejam remetidos ao exterior, as empresas que aqui se instalam não são carrapatos que apenas drenam a riqueza do Brasil. Para que a empresa remeta lucros a sua matriz, elas tem antes que realizar investimentos, montar indústrias, etc. Logo, além de todos os salários pagos aos funcionários e o desenvolvimento de uma cadeia produtiva, se a empresa encerrar suas atividades no país, ao menos ela deixará aqui todo o capital físico investido, ou alguém acha possível que a GM transporte toda a estrutura da sua fábrica de Gravataí para algum outro país?? Como carregaria um prédio, por exemplo?
O Rio Grande do Sul é um exemplo bastante entristecedor nesse sentido: aqui, figuras que esqueceram todas essas evidências foram lideranças fortes, como Getúlio Vargas, João Goulart, Leonel Brizola, Tarso Genro e Olívio Dutra. O último conseguiu a proeza de expulsar a Ford de Guaíba, fazendo com que essa investisse em Camaçari, na Bahia. Já pararam pra imaginar o volume de empregos e logo, de renda, que um empreendimento dessa magnitude não geraria no nosso estado?
Infelizmente, apesar das inúmeras riquezas naturais, o Brasil ainda é um país pobre, em grande parte pelo caminho errado que tomamos. Ao invés de promovermos a produtividade e a riqueza, seguimos presos à ideologias atrasadas que só atrapalham a melhoria da qualidade de vida do brasileiro. Por mais que muitas vezes o discurso da esquerda pareça bonito, no fim ele só gera pobreza e estagnação. Recentemente temos visto uma nova onda liberal, mas ela ainda é pequena perto do que precisamos: que o Brasil abandone o terraplanismo econômico e adote as ideias que tornaram o Chile o país mais rico do nosso sub-continente, um oásis no meio da mediocridade latino-americana.