repercussão

VÍDEO: 10 dias após a eleição, correligionários elencam motivos da derrota de Cechin

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data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Pedro Piegas (Diário)

Pouco mais de uma semana após o término do segundo turno, ainda é possível ouvir pelas ruas de Santa Maria, em rodas de conversa aqui e ali, a repercussão do resultado das eleições municipais. E o que não faltam são diagnósticos sobre a derrota de Sergio Cechin (Progressistas), que enfrentou o vitorioso Jorge Pozzobom (PSDB).

O candidato que estampou o número 11 nas urnas foi derrotado por uma diferença de 18,3 mil votos, mas não se arrepende de nenhuma decisão tomada ao longo da campanha. Pelo menos, foi o que Cechin afirmou em entrevista ao Diário, um dia após o pleito, em 1º de dezembro. "Faria tudo de novo", garantiu ele.

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Por outro lado, na opinião de presidentes municipais dos partidos, assessores e vereadores eleitos pelas siglas da chapa, que, além do Progressistas, tinha o MDB, do vice Francisco Harrisson, alguns momentos da caminhada deveriam ter sido conduzidos de forma diferente.

MUDANÇA DE RUMO

A reportagem conversou com pessoas ligadas à campanha para mapear os motivos que, no entendimento delas, foram decisivos para o resultado. Entre os fatores elencados, estão, por exemplo, a guinada dos votos da esquerda a favor de Pozzobom e o clima acirrado dos últimos dias de campanha, com acusações e denúncias.  

Ainda disso, há quem acredita que o apoio conquistado pela chapa, de todos os outros candidatos à prefeitura e a vice do primeiro turno, com exceção de Luciano Guerra (PT), pode ter tido um efeito negativo, afinal, a negociação entre partidos não é vista com bons olhos por parte da população.

OS APONTAMENTOS

  • Os motivos da derrota, elencados  a partir da conversa com correligionários
  • Apoio dos eleitores da esquerda a Jorge Pozzobom
  • União a outros candidatos no segundo turno não foi bem aceita pela população
  • Denúncias nos últimos dias de campanha
  • Vantagem de Pozzobom por ir para a campanha no comando da máquina pública, como prefeito
  • Alto índice de abstenção e falta de interesse da população em ir votar
  • Receio de mudar o comando da cidade em meio à pandemia
  • Eleitor mais independente, que não direciona o voto baseado apenas na orientação do partido

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VEJA, ABAIXO, O QUE CADA UM DISSE

"Essa eleição foi atípica. O eleitor acaba votando por muitos motivos e, alguns, acabam não condizendo com o pensamento dele. Vai muito mais pela emoção do que a razão. Foi uma campanha bem suja. Pessoas que a gente não consegue controlar, de ambos os lados, atacaram a vida pessoal dos candidatos. Além disso, uma parte dos nossos apoiadores colocaram na nossa campanha uma característica mais de direita e extremista, que prejudicou um pouco, pois, quando a gente leva uma campanha municipal para o cenário nacional, corre o risco de aumentar a rejeição na cidade" - Francisco Harrisson, vice da chapa 

"Hoje em dia, o eleitor participa do processo eleitoral pelas redes sociais. Antigamente, não tinha isso. Muitos candidatos fazem política nas redes sociais. Portanto, o eleitor está mais independente também. Na campanha para a prefeitura, creio que tenha faltado mais contato com a população, ir mais para a vilas. Ficou muito só em cima de caminhões e carreatas. Tinha que ter contato mais próximo" - Adelar Vargas, vereador eleito do MDB 

"Pelo que temos conversado, houve uma mobilização muito grande da esquerda para apoiar o Pozzobom. O motivo da derrota não foi só esse, mas foi preponderante. O Cechin abraçou algumas coisas da agenda liberal que são difíceis de encaixar com a esquerda. Ao mesmo tempo, a campanha do PP/MDB foi vitoriosa no primeiro turno, com uma linha mais propositiva, e creio que ela tenha sido o caminho correto. Quanto aos apoios, talvez a população tenha entendido que foram vários espectros diferentes que se juntaram, os quais, de repente, não poderiam convergir um com o outro" - Pablo Pacheco, vereador eleito do PP 

"Nós fomos procurados pelos candidatos que não tiveram êxito. O nosso entendimento era que Santa Maria precisava de união. Não foi uma construção feita por cargos, mas pelos projetos, que eram interessantes. Infelizmente, a população não entendeu por esse lado. Circulou muita coisa como 'vão lotear a prefeitura de cargos'. Hoje, não tem mais espaço para isso. As pessoas querem resultado, trabalho. Tínhamos pesquisas registradas, em que os resultados eram concretos. Teve o trabalho do prefeito, que contava com uma estrutura maior, com a máquina do município. É difícil ir para uma eleição em que o vice está contra o prefeito. O prefeito já larga em vantagem. Tivemos uma chapa na qual os nossos vereadores acabaram nos ligando mais à direita e os votos da esquerda se movimentaram a partir disso. O que a nossa chapa tinha, e vamos continuar tendo, é uma relação muito boa com o governo federal e outros apoiadores em nível nacional. A eleição de 2020 teve uma batida muito pesada. A gente poderia, junto aos outros candidatos, ter tentado acalmar, além de ter tentado ir mais na busca dos votos dos indecisos, tentar diminuir a abstenção, mostrar às pessoas que elas tinham que escolher alguém. Também, quando foi colocado que o Sergio seria um negacionista, deveríamos ter respondido e mostrado que não. Ele tem uma preocupação muito grande com a saúde. A gente tinha um projeto para conciliar comércio, estendendo os horários de funcionamento, mas nunca desprezando a ciência. De resto, faríamos tudo da mesma forma" - Rafael Dulor, coordenador da campanha 

"Perdemos, principalmente, em razão das denúncias, várias fake news que foram criadas e, de certa forma, não tivemos recursos para combater isso. As fake news não vieram só dos adversários, mas de grupos independentes também. A população inteira de Santa Maria tem certeza que os votos da esquerda foram para o Pozzobom. Está mais que explícito. Eles tinham que escolher um lado e, nós, de fato, não os procuramos. Pensando em todo o grupo que esteve envolvido na campanha, eu não mudaria nada. Temos que entender que todos os apoios trazem ganhos e perdas. Ninguém contenta todo mundo" - Mauro Bakof, presidente do PP em Santa Maria 

"A opção de fazer uma campanha educada, sem agressão, foi bem-sucedida. Talvez, o que as pessoas queriam ver era briga. Todos os partidos se uniram por entender que a chapa PP/MDB tinha a melhor proposta, mas é difícil conseguir êxito concorrendo contra quem tem a máquina pública. Além disso, já havia um alinhamento entre o PT e o PSDB, mas a gente respeita. Um dia ganha um e, depois, ganha o outro" - Magali Marques da Rocha, presidente do MDB em Santa Maria 

"A campanha de 2020 foi muito atípica, e a coligação não conseguiu fazer uma leitura adequada do cenário político e do que os santa-marienses esperam de um governo. Em um ano onde o temor da morte foi posto diante dos olhos da comunidade, as pessoas apostaram no que já conheciam. A parcela de transferência direta de voto pessoal é muito baixa. Com o advento das redes sociais, aliando-se às mídias tradicionais, a população está mais bem informada, fazendo suas escolhas pelas pessoas e não pelos partidos. Também, é preciso fazer uma ressalva, é uma leitura equivocada a de que a chapa do Cechin e Francisco ficou bastante associada a um pensamento conservador e de direita. Desde a formação da coligação original, foi pretendido um projeto pluripartidário que representasse a comunidade de Santa Maria em sua totalidade sem posicionamento ideológico. Mas, sim, os votos da esquerda elegeram o prefeito Jorge Pozzobom, que soube se articular estrategicamente para ter esse apoio de forma não declarada e, assim, também angariar votos do centro e de direita. Se tivesse a oportunidade, o que realmente não tive, teria assumido desde o início a posição ideológica que o Progressistas possui em sua raiz, sobretudo no Rio Grande do Sul, ou seja, a defesa da direita conservadora. O cidadão, hoje muito mais informado, rechaça as velhas práticas políticas de coligações fisiologistas e está muito bem posicionado ideologicamente. O número de abstenções, votos nulos e brancos superou o número de votos do vencedor. Esse é um recado claro da comunidade santa-mariense. Uma parcela enorme da população não se sentiu representada e essa parcela é exatamente o público de direita e conservador. O Progressistas tem como um de seus principais líderes políticos o senador Luis Carlos Heinze, extremamente atuante na defesa da cidade com a viabilização de vultosos recursos para as mais diversas áreas. O senador foi eleito com 57 mil votos em Santa Maria. Certamente, sua presença mais efetiva na campanha teria garantido muito mais segurança e confiabilidade às propostas defendidas" - Roberta Leitão, vereadora eleita do PP 

"Cerca de 80 mil pessoas não escolheram nenhuma proposta no segundo turno, entre votos brancos nulos e abstenções. Os cidadãos não se empolgaram com a eleição de Santa Maria no segundo turno porque teve muita agressividade de parte a parte e muita vaidade. Santa Maria precisa passar por um processo de amadurecimento político. Houve muita pessoalização e muita briga, e as pessoas não gostam disso" - Tubias Calil, vereador eleito do MDB 

"Acredito que as pessoas têm um certo receio da mudança. A gestão do PP/MDB seria uma nova aposta. E, talvez por estarmos em um ano atípico, com esse novo normal, as pessoas preferiram por não mudar. Pois uma reviravolta política talvez tornasse a cidade um caos. Creio que as pessoas pensaram nisso. O povo é soberano na nossa democracia. O movimento político democrático tem desses fatores que tornam decisivos os destinos da cidade. Acho que a esquerda foi decisiva, sim, por entenderem que politicamente a coligação do Pozzobon representa mais suas demandas" - Rudinei Rodrigues, vereador eleito pelo MDB 

"O número de abstenções e de votos brancos e nulos surpreendeu a todos. Outro motivo importante de ser analisado foram os diversos apoios no segundo turno que, em tese, a comunidade julgou como "velha política". Quem era eleitor do Cechin não aceitou alguns apoios e, assim, se absteve ou votou em branco ou nulo. Eu teria mantido o planejamento inicial do partido, com suas características fundamentais, que identificam o candido Cechin ao longo de sua história pública de serviços prestados a Santa Maria" - João Ricardo Vargas, vereador eleito pelo PP

*Colaborou Rafael Favero

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