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Ex-prefeito Farret relembra trajetória política em Santa Maria

Foto: Rafael Favero (Diário)
Farret é um nome histórico da política santa-mariense

Formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em 1969, o médico José Haidar Farret, 77 anos, é o político que comandou Santa Maria durante mais tempo. Ele foi prefeito da cidade de 1983 a 1988, de 1993 a 1997 e nos últimos três meses de 2016, após Cezar Schirmer renunciar ao mandato no Executivo para ser secretário de Segurança Pública do Estado. Além disso, o pai dos gêmeos Daniele e Daniel foi vereador, vice-prefeito e deputado estadual, sempre eleito pelos votos do Coração do Rio Grande. Farret foi casado com Carmem Claudete Farret, que faleceu há dois anos. Atualmente, ele ainda tua como médico, sendo especialista nas áreas de dermatologia e clínica geral. Atualmente, não é filiado a nenhum partido político. Nesta entrevista, Farret faz um balanço sobre a sua vida pública, que começou ainda nos tempos de estudante do Colégio Manoel Ribas, o Maneco.  

Diário - Quando o senhor se interessou pela política?

José Haidar Farret - Quando era aluno do Colégio Maneco. Estudei lá durante o período científico e ginasial. O período primário fiz no colégio Cícero Barreto. No Maneco, os alunos pediram que eu concorresse à presidência do Grêmio Estudantil. Concorri e tive uma votação maciça. Tive 1715 votos contra 73 do concorrente. Depois, me reelegi com mais votos ainda. Mais tarde, no curso de Medicina da UFSM, fui diretor cultural da turma de 1969.

Foto: arquivo pessoal
Em 1975, no casamento com Carmem Claudete Farret, na Igreja Santa Catarina

Diário - Qual foi seu primeiro emprego na Medicina?

Farret - Foi em 1970, quando fiz um concurso para ser professor na UFSM. Fui aprovado. Depois, fiz um concurso para o Ministério da Saúde, para trabalhar no antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Trabalhava em um posto que ficava na esquina das ruas Silva Jardim e Serafim Valandro. Trabalhava no Inamps e dava aulas no curso de Medicina da UFSM. Trabalhei durante 35 anos como médico do Ministério da Saúde e, em 1998, me aposentei da UFSM. Além disso, também trabalhei como professor de ciências e biologia, no Maneco, no Colégio Franciscano Sant'Anna e no Instituto São José.

Foto: arquivo pessoal
Os filhos Daniele e Daniel Farret

Diário - Nas suas duas administrações como prefeito, nos anos 1980 e 1990, quais foram suas contribuições?

Farret - Na área da saúde, o povo reconhece até hoje. Na educação, construí mais de 25 escolas e mais de 80 salas de aula foram ampliadas. Calçamos as ruas de várias vilas. Ao todo, nas duas gestões, foram mais de 300 obras. Houve também as obras ocultas, que são as merendas para as escolas, por exemplo. Não faltava merenda, sobrava. Atuei fortemente no saneamento básico, na compra de remédios, que não faltavam também. Além disso, construí cerca de 24 creches. Quando assumi, na primeira gestão, Santa Maria só tinha duas creches filantrópicas. Eu tinha limitações financeiras, mas conseguia administrar bem porque tive comigo grandes secretários. O Cirilo Costabeber foi o melhor secretário de finanças que eu tive. Ele administrava as contas da prefeitura como se fossem da casa ou das firmas dele.

Diário - Foi mais fácil administrar no século 20, como prefeito, do que no século 21, como vice-prefeito?

Farret - Foi mais fácil por conta da Lei de Licitação, que foi madrasta para todos os prefeitos. Eu sou a favor da licitação, mas hoje ela é mais rígida do que no passado. Às vezes, tem que fazer três ou quatro licitações para uma mesma obra. Burocratizou demais. Em todas as minhas administrações, nunca se levantou um dedo para questionar qualquer licitação, até porque eu sempre soube qual era o caráter dos meus secretários. Entretanto, tenho certeza que a modernização de Santa Maria ocorreu principalmente nos dois mandatos do prefeito Schirmer. A industrialização avançou muito nos mandatos dele. O Tecnoparque é um exemplo e projetos federais, como o Minha Casa Minha Vida, vieram para a cidade nessa época.

Foto: arquivo pessoal
Em um encontro com o então governador do Rio Grande do Sul Silval Guazelli (à esq. de Farret, com terno claro)

Diário - O período mais difícil dos seus mandatos foi como vice-prefeito, quando ocorreu o incêndio na boate Kiss, em 2013?

Farret - Foi. Porque a prefeitura e parte da cidade ficaram paradas. O povo ficou atônito e a administração também. Houve declínios no comércio, na indústria, nos serviços públicos, na confiança da cidade.

Diário - Como o senhor recebeu a notícia do incêndio?

Farret - Eu estava na minha casa, no Bairro Rosário, e senti um cheiro forte de fumaça. Eu disse para um dos meus filhos "isso é cheiro de queimado". Eles não sentiam. Aí eu fui para a frente da casa e comecei a ver a correria. Acompanhei pelo rádio, no início. Depois, comecei a ligar para os secretários e perguntei para o Schirmer sobre onde ele iria, para eu ir junto.

Foto: arquivo pessoal
Solenidade de inauguração da escola municipal do Passo do Verde, na segunda gestão de Farret como prefeito

Diário - De que forma o senhor encarou a saída do Schirmer da prefeitura para assumir a Secretaria de Segurança Pública do Estado?

Farret - Na última vez, quando ele decidiu ir para Porto Alegre, não foi mais um convite do governador José Ivo Sartori, foi uma imposição. Ele me comunicou que sairia em 8 de setembro. Era uma honra para Santa Maria, pois era uma área que estava mal em Porto Alegre. Naqueles três meses, encerramos a administração sem déficit. O próprio Jorge Pozzobom reconheceu quando assumiu.

Diário - Como o senhor avalia sua vida pública?

Farret - Eu tenho que agradecer Santa Maria. Iniciei em 1968. A cidade me elegeu vereador, três vezes vice-prefeito. Fui prefeito em dois mandatos e, depois, mais três meses quando Schirmer saiu. Santa Maria também me elegeu duas vezes deputado estadual. Então, eu não tenho do que reclamar. Isso tudo sem nunca ter deixado a Medicina. Mesmo quando deputado estadual, eu atendia duas vezes por semana em Santa Maria. Como prefeito, também atendia duas vezes por semana.

Foto: arquivo pessoal
No aniversário dos filhos Daniel e Daniele, que, segundo Farret, sempre era comemorado com as crianças da Creche Padre Orlando

Diário - O senhor acredita que foi um bom prefeito para Santa Maria?

Farret - Minha consciência está tranquila. Eu não posso dar a nota, porque seria se exibir demais. Graças a Deus, cumpri a minha missão.

Diário - Faltou fazer algo para Santa Maria?

Farret - Nem Jesus Cristo conseguiu fazer tudo.

*colaborou Rafael Favero

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