Diário de Santa Maria _ O que foi a Rodin?
José Fernandes - Fizeram um negócio aí em Santa Maria que é impensável. Quer dizer, uma denúncia anônima. Um cálculo de uma pessoa aqui que não poderia ter feito. E aí seguiu. Mas eu estou naquilo que dizia o Sobral Pinto, um dos maiores juristas que o Brasil teve: "Eu acredito na virtude da Justiça". Onde tudo começou, que foi a quebra de sigilo fiscal. Lá no STF, por unanimidade, eles consideraram uma prova ilícita e mandaram desentranhar as derivadas. Olha, todo o resto é derivada. Só que isso é uma questão a ser discutida pelos advogados nos tribunais.
Diário _ Como foi a aproximação da Pensant com o Detran?
Fernandes - Isso aí era um trabalho que quem fazia era a Fundação Chagas, de São Paulo, por um preço maior. Daí, o Detran, o governo do Estado, queria. Olha, a Fatec tinha feito o inventário florestal para todo o Rio Grande do Sul. Então, ela foi lembrada. Então, o que que é o exame de habilitação? É semelhante ao vestibular, mas muito mais complexo (...) E aí foi perguntando se o reitor (pausa). Ele recebeu essa questão. E licitação é uma questão vencida, pois o Enem fizeram aquela licitação. Deu R$ 100 milhões e deu aquela fraude. Eles até mudaram. O Enem custa R$ 400 milhões. Acho que o Detran tinha outros problemas. Até 1997, a carteira era feita na delegacia. (...) Nós nunca executamos nenhuma tarefa. Nos fiscalizávamos, supervisionávamos e fazíamos o relatório para dizer, inclusive fizemos, mandando suprimir o pagamento de um serviço. (pausa) Só que nós estávamos trabalhando. É aquele tipo de trabalho como se dissesse assim: "Olha a Pensant, não pode ser licitado. Ele tem que ser contratado pela fundação dentro dos parâmetros de mercado, pois ele envolve conhecimento e nós não executamos nada". Execução, a Fatec tinha 400 empregados. E, depois, a Fundae também. Pois que foi para Fundae, porque passou a ter o ganho da filantropia. (...) O nosso trabalho estava contrariando muito interesse. Estávamos começando a fiscalizar.
Diário _ E sua responsabilidade no trabalho?
Fernandes - Eu não imaginava, pois eu estava com a cabeça baixa. A responsabilidade técnica era minha, pois eu tinha que dizer se saísse uma carteira, uma denúncia de uma carteira que era falsa, iria para o Detran, do Detran para fundação e, depois, para mim. Então, isso aí está virando muita incomodação. Dentro e fora da universidade.
Diário _ O episódio e a recente condenação ainda lhe incomodam?
Fernandes - Desde 2002, eu faço terapia. Tenho um terapeuta que é ótimo. Ele, inclusive, no dia que me prenderam, entrou lá e me disse: "Olha, José! As grandes figuras da história passaram pela prisão". (...) Eu tomo medicação até agora. É uma situação assim, quer dizer, é um processo. A juíza (Simone Barbizan Fortes, que aceitou a denúncia do MPF contra Fernandes e mais 39 réus, em 2008, foi transferida para Florianópolis em março de 2013) dali a pouco, ela se deu conta e pediu para sair. Aí foi o juiz (Loraci Flores) e deu uma sentença. Mas lá em cima (Brasília), a questão é constitucional. E outra: não houve prejuízo ao erário. Isso dito pela controladoria, Tribunal de Contas e Ministério Público.
Isso aí fizeram uma inflexão. Daqui a pouco até a competência. As fundações são privadas. Então é o Ministério Público Estadual que trabalha nesse assunto. Isso era uma provação que eu acho tinha que passar. Quem sabe.
Diário _ Como o senhor vive hoje? Como passa os seus dias?
Fernandes - Eu hoje vivo uma situação de um... Foi cassada a minha reputação. O que aconteceu é mesmo que a cassação dos direitos políticos, pois não há possibilidades de eu trabalhar, pois o meu trabalho é todo em cima de um conhecimento. Daqui a pouco me transformam em um pensador de maldades. Então não dá. Eu estou aposenta"