Eleições 2024: número de eleitores idosos cresce 58% em Santa Maria; confira o que os candidatos a prefeito propõem para este público

Caroline Souza e Tayline Manganeli

Em Santa Maria, o número de eleitores com idade acima de 70 anos aumentou nos últimos anos. Mesmo o voto sendo facultativo a partir desta faixa etária, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, em pouco mais de uma década, o índice subiu em 58%, passando de 18.244 em 2012, para 28.929 neste ano.


Esse é o maior número de eleitores idosos desde as eleições municipais de 2012, ano em que o TSE passou a registrar os dados. Em 2024, Santa Maria terá 3.264 mil eleitores idosos a mais, em comparação com o último pleito de 2020. Dentre os motivos para o crescimento gradativo deste público, especialistas apontam a mudança da pirâmide etária e o aumento da expectativa de vida. Como consequência, idosos buscam exercer o direito na busca por representatividade e atendimento a demandas e a necessidades.



O Estatuto do Idoso, assegurado pela Lei 10.741, de 2003, foi um marco para o reconhecimento de que as pessoas idosas têm direitos à dignidade, à igualdade e à não discriminação. Porém, na prática, ainda existe um longo caminho a ser trilhado, até que as regras sejam cumpridas por todos.

O gerontólogo social Jairo da Luz Oliveira, que coordena o Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Gerontologia, Serviço Social e Saúde da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), diz que o aumento da expectativa de vida e a consequentemente mudança da pirâmide etária pode ter contribuído diretamente para o crescimento de eleitores nesta faixa etária. 

As projeções de população do IBGE mostram que, de 2000 para 2023, a população idosa brasileira quase duplicou, subindo de 15,2 milhões para 33 milhões. A projeção indica, ainda que, em 2070, aproximadamente 37,8% dos habitantes do país serão idosos, o que corresponderá a 75,3 milhões de pessoas.

– Isso é uma mudança de paradigma de vida, mudança de família. Temos número menor de nascimento e aumento da expectativa de vida. A farmácia popular, o acesso à medicação gratuita, são fatores, por exemplo, que contribuem para isso – afirma o especialista. 

Somado a isso, a profissionalização e busca por conhecimento também podem ter favorecido que, cada vez mais, idosos caminhem em busca dos seus direitos. Desde 2012, o número de idosos eleitores com Ensino Superior completo cresceu em 96% em Santa Maria. 

Conforme Oliveira, existem diferentes envelhecimentos e que o mesmo público pode, por vezes, ter reivindicações diferentes, a depender de questões, como classe social, gênero e raça, mas que todos buscam por representatividade e atendimento de seus interesses e demandas. Segundo o professor, é preciso que candidatos olhem para o lugar que o idoso ocupa, para pensar o que será a pauta política desse indivíduo e o que ele está buscando em questões de sobrevivência, principalmente.

– A gente não costuma, mas é necessário olhar para a diversidade, para a condição geracional que o sujeito vive e que poderá ter uma qualidade de vida ou não. Se o trabalhador chega na sua condição de idoso dentro de uma perspectiva vulnerável, vai sobrecarregar mais ainda o serviço de saúde, por exemplo – observa Oliveira. 

O aumento do eleitorado idoso também pode impactar o voto e a procura por representatividade. 

– Por exemplo, um idoso com classe mais privilegiada, a tendência é que traga pautas mais conservadoras, porque não está disposto a mudar suas concepções de vida. Ao mesmo tempo, hoje quando eu olho pra minha aposentaria, e vejo que tem um teto, eu preciso olhar pra isso e analisar o que vem de discurso sobre a reforma da previdência, por exemplo – ressalta o professor. 


Direito acima da obrigatoriedade

Quando se fala em terceira idade, a busca por direitos é um desejo unânime. Os “jovens há mais tempo”, como se denominam, buscam por inclusão na sociedade e atenção as suas demandas.

Com 92 anos, Maria Helena Cunha não abre mão de votar. Professora aposentada, ela conta que, quando jovem, foi incentivada a votar pelos pais que, mesmo sendo de orientações políticas diferentes, não a influenciaram a votar por partidos e, sim, escolher quem mais representasse suas vontades.

– Pra podermos reclamar, pedir melhorias, temos que primeiro votar. Aí sim temos o direito de reclamar das promessas – afirma.

Maria Helena Cunha, 92 anos, não abre mão de votar. Beto Albert

A aposentada não é mais obrigada a votar há 22 anos, mas segue exercendo o direito na busca pela atenção às necessidades da população mais idosa. Maria Helena diz que um dos maiores apelos é pela acessibilidade, com melhorias em ruas e calçadas, bem como aumentar o número de faixas de segurança e semáforos.

Também aposentada, a professora Irene Brondani Salin, 85 anos, segue o exemplo de Maria Helena. Eleitora há 67 anos, vota há 60 em Santa Maria e não abre mão do direito:

– No meu caso, não é mais dever obrigatório. Mas tenho o direito de cidadã de fazer minha escolha e colaborar com a democracia – argumenta Irene.

Questionada sobre suas reivindicações, ela diz que faz questão de participar da escolha política da cidade e pede por melhorias:

– É uma época da decadência dos idosos. Temos fragilidades e, às vezes, dependemos dos outros. É o caso da mobilidade, da segurança, precisamos ter liberdade de exercer nossos direitos enquanto moradores da cidade.

Irene Brondani Salin, 85 anos vota há seis décadas em Santa Maria. Beto Albert

A aposentada relembra que, no passado, o dia de votação era uma das datas mais importantes do ano, principalmente para as mulheres, que conquistaram o direito recentemente. Há décadas, Irene, que é mãe e avó, incentiva filhos e netos a não deixarem de votar.


Comissão Especial da OAB faz apelo aos concorrentes à prefeitura

Com o objetivo de unir esforços e propor mudanças, a Comissão Especial dos Direitos da Pessoa Idosa (Cedipi) da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Santa Maria, encaminhou uma carta solicitando maior atenção dos candidatos à prefeitura da cidade aos problemas que envolvem os idosos. A presidente, Elizabeth Braunstein Daniel, aponta que o primeiro obstáculo para que os idosos acessem seus direitos de forma plena está relacionado à forma como a sociedade os enxerga.

– Existe uma carência, uma falta de atenção e cuidado, e até de conscientização em relação às pessoas com mais idade. É como se o idoso fosse descartável – afirma.

Somado a isso, ela destaca a falta de prioridade destas faixas etárias no momento da elaboração de políticas por parte do poder público.

– Existe uma transformação demográfica muito grande, existem mais idosos e menos jovens. E percebemos que, em muitos casos, as pessoas que desejam representar a população ainda não se deram conta que este grupo de pessoas está crescendo e são votantes. Consequentemente, não há uma preocupação em promover mudanças direcionadas ao idoso – observa a presidente da comissão especial. 


Da saúde a segurança: os desafios enfrentados pelos idosos

A partir de encontros realizados com autoridades e representantes municipais das áreas ligadas aos direitos e proteção das pessoas idosas, foram debatidas e identificadas as principais necessidades dessa população. A carta entregue aos prefeituráveis tem, dentre as demandas: 

  • Necessidade da criação de centros-dia e centros de convivência, exigência legal para que as pessoas idosas tenham um local de lazer e atendimento
  • Conscientizar a população para respeitar a pessoa idosa nas travessias das faixas de segurança, prioridade nos estabelecimentos comerciais, nas instituições públicas e privadas, dando-lhes a atenção necessária
  • Adequar o tempo das sinaleiras de forma a permitir tempo de travessia segura de pedestres
  • Corrigir os obstáculos nas calçadas e vias públicas, como bueiros sem tampas, calçadas quebradas, colocando em perigo, não só a pessoa idosa, mas todos os pedestres que circulam nas vias urbanas
  • Cumprir a prioridade de atendimento em filas no comércio, em postos de saúde, instituições bancárias, hospitais, ônibus
  • Capacitar, periodicamente, disponibilizando palestras, cursos, e o que for necessário para todas pessoas que estão diretamente ou indiretamente voltadas ao atendimento do público de pessoas idosas
  • Facilitar o fornecimento de identificação do idoso e cartões de estacionamento sem cobranças de taxas nem exigências de renovações, uma vez que o idoso não deixará de ser idoso
  • Criar políticas públicas no município que visem ao atendimento da pessoa idosa
  • Divulgação periódica, ostensiva e facilitada de canais da atendimentos e ajuda às pessoas idosas que sofrem maus tratos ou são vítimas de golpes financeiros


Maioria dos candidatos a prefeito prevê ações para a população idosa

Dos sete candidatos a prefeito de Santa Maria, no plano de governo de seis deles constam propostas para a população idosa. Entre as políticas públicas previstas, há iniciativas mais concretas e outras nem tanto. Criação de centros de convivência, de referência para saúde do idoso e de lazer são algumas das propostas. 

Também há previsão de programas com foco na saúde e na atividade física, bem como de canais de atendimento e fortalecer o trabalho de organizações e órgãos ligados aos idosos.

Para publicação, foram priorizadas as ações citadas especificamente para esse público. A ordem é alfabética:

  • Giuseppe Riesgo (Novo)

-Garantir a existência de canais de atendimento adequados aos mais velhos, para que a modernização da saúde municipal garanta a inclusão da melhor idade nos serviços básicos;
-Buscar a individualização e adequação do atendimento e tratamento das pessoas dessa faixa etária;

-Estimular organizações que prestam assistência à terceira idade;

- Promover a valorização da pessoa idosa e a conscientização familiar quanto as suas necessidades e direitos.


  • Moacir Alves (PRD)

- Criar o Centro de Referência para Saúde do Idoso;

-  Projetos e programas de saúde pública e prevenção, que atendam o cidadão até a terceira idade;

- Ampliar programa de distribuição de refeições para pessoas idosas em situação de vulnerabilidade junto a cozinhas comunitárias e restaurante popular.


  • Paulo Burmann (PDT) 

- Recuperar o coral municipal da terceira idade para integração social dos idosos;
- Aperfeiçoar e ampliar programas de atendimento ao idoso, como foco numa divisão especializada na saúde do idoso;
- Buscar recursos junto à "política de promoção da atividade física para idosos";
- Criar o programa gerações digitais, de tutoria de jovens para estimular uso da internet e das redes sociais à população idosa, gerando melhor acesso aos serviços, inclusão digital e troca de experiências inter-geracionais.

  • Roberta Leitão (PL)

- Implantar o Programa da Saúde da Melhor Idade em parceria com o esporte na melhora da qualidade de vida, a partir da atividade física.

  • Rodrigo Decimo (PSDB)

- Criar um centro de lazer para idosos;

- Ofertar espaços públicos funcionais e bem cuidados para atividades ao ar livre com a reestruturação de áreas verdes que contemplem a terceira idade.

  • Valdeci Oliveira (PT)

- Fortalecimento das políticas para as pessoas em situação vulnerável, entre elas as idosas, por meio da articulação da rede de políticas de assistência social, saúde, educação, habitação, cultura, relação com sistema de justiça, conselhos setoriais e de direitos, entre outros;

- Valorizar o trabalho do Conselho Municipal do Idoso na construção, efetivação e fiscalização de políticas públicas a serem implementadas aos idosos;

- Transformar o Fundo Municipal do Idoso em instrumento ágil e eficaz para a captação de recursos públicos e privados para custear as políticas para os idosos a serem implementadas, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros no município;

- Empenhar esforços para a criação de centros de convivência, adequados para idosos dotados de autonomia, oferecendo atividades recreativas, culturais, educacionais, de inclusão digital e de lazer;

- Fortalecer o trabalho dos diversos grupos de terceira idade já existentes em Santa Maria.



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