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OPINIÃO: Pais que inspiram

Marta Tocchetto

O talento com a bola era notado desde menino. Apesar do amadorismo, era disputado por todos os times de futebol de salão da cidade. Na época, os pais sonhavam menos com "Neymares" e "Messis". Sonhavam com filhos engenheiros, médicos e professores. Naquela época, o valor do estudo era maior do que o desejo de ser rico e famoso. 

O futebol, mesmo não sendo uma ambição profissional, era, sem sombra de dúvida, diversão e formação. Esporte complementa a educação formal e contribui para formar cidadãos e pessoas melhores. Assim foi a vida toda, apesar de ter sido curta – apenas 35 anos. Nem os compromissos da engenharia e os quatro filhos o tiraram das quadras. Ao contrário, a criançada cresceu acompanhando-o nos treinos. Futebol era diversão e educação. Tanto que resolveu montar e treinar um time que reunia os filhos e seus amigos. Um dos horários da quadra do Santa Maria que mantinha, há anos, era destinada aos treinos da gurizada. Era sua forma de ser pai e de transmitir valores, princípios e alegria.

Na época, o carro era uma Brasília, a mesma que havia ganhado quando passou no vestibular. Na noite de treino, os amigos eram pegos em casa. A festa começava ali. Na volta, o cheiro de suor se misturava às táticas exercitadas e aos gols feitos. Nos finais de semana, geralmente havia torneio, e perder não fazia parte dos planos. O time metia medo nos adversários, eram muitos os craques. O futebol que sempre foi parte íntima da família, foi o mesmo que a transformou. 

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O talentoso jogador amador, o pai treinador, o amigo de risada solta, o profissional que jogava na várzea, conversava e tomava cerveja com todos sem discriminação, foi brilhar em uma estrela, quem sabe, habitar uma nuvem ou, simplesmente, nossos corações.

Não bastava ser mãe. Era impossível ser pai, mas era possível ser uma família em que a mãe e o pai eram uma única pessoa, sem que isso fosse motivo para se sentirem menores ou marcados pelo destino. Ao contrário, tudo foi tão intensamente vivido e compartilhado que não seria difícil preencher o vazio com a multiplicação do amor. E assim foi. Não foram flores, tampouco espinhos. Foi árduo, sim. Desempenhar múltiplos papéis é capacidade exclusiva das mulheres. Não se trata de arroubo feminista, não gosto de segmentação.

Todos somos capazes de desempenhar múltiplos papéis. Tive que aprender a fazer churrasco e, sem falsa modéstia, o meu é o melhor (palavra de filho!). Tive que tomar as rédeas de nossos sonhos, porque desabar não era justificável. Viemos para sermos felizes, e a felicidade é uma questão de olhar, bem mais do que status. Há muitas mulheres que, por circunstâncias variadas, viram-se na mesma duplicidade. Os resultados, talvez, não sejam os melhores, mas foram e são, com certeza, demonstrações, exemplos de superação e inspirações para todos. Porque a vida é para ser vivida e não para ser passada. Minha homenagem aos pais que inspiram mães, filhos e famílias. Minha homenagem eterna ao pai dos meus filhos, Rogério Tocchetto.  

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