“Parem de nos matar”: ato em Santa Maria ocupa o centro da cidade contra o feminicídio

“Parem de nos matar”: ato em Santa Maria ocupa o centro da cidade contra o feminicídio

Foto: Rian Lacerda (Diário)

Cartazes, falas, apoio e um pedido de basta. Foi com essas forças que centenas de mulheres e apoiadores contra o feminicídio se mobilizaram por boa parte da manhã deste sábado (13), no centro de Santa Maria, com o objetivo de denunciar a violência que atinge mulheres em todo o país e pedir por mais segurança e vidas livres de agressão.

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​O ato, realizado quase em frente ao Theatro Treze de Maio, reproduziu em Santa Maria o que ocorreu em outras cidades do Brasil. Denominado “Mulheres Vivas”, o ato público começou por volta das 9h e reuniu participantes de diferentes frentes, além de representações políticas. Placas estiveram presentes durante toda a mobilização, com frases como “Parem de nos matar”,“7 mulheres estupradas por minuto não é normal”, dados sobre feminicídio e “Mulheres não são prioridade”.

Estacionado na Rua Venâncio Aires, um caminhão de som ampliava as falas de lideranças sindicais, coletivos, comunidade palestina, mulheres negras, indígenas, pessoas trans, serviço público e entidades de defesa dos direitos das mulheres, que utilizaram o microfone para levar ao coração da cidade reivindicações como a ampliação das delegacias da mulher 24 horas, a defesa dos direitos reprodutivos, o fim da escala 6x1, remuneração para o trabalho doméstico, a real divulgação de dados sobre violência doméstica e o acolhimento especializado para mulheres negras, indígenas, trans e com deficiência.

Entre as falas, também estiveram presentes relatos de quem vive, na prática, a perda causada pelo feminicídio. Familiares de Luanne Garcez da Silva participaram do ato. Na noite do dia 9 para o dia 10 de abril de 2022, a estudante de Pedagogia, então com 27 anos, foi asfixiada e morta em via pública pelo próprio noivo. Quem utilizou o espaço do microfone foi a professora municipal e tia, Andrea Garcez, 54 anos, que falou sobre o crime e pediu por justiça. Ao lado dela estava a mãe, também professora, Daiane Garcez, 58 anos.

Foto: Rian Lacerda (Diário)

–  A pauta pelas mulheres vivas é uma pauta pela mudança da sociedade como um todo, é a pauta para que nós possamos pensar a vida de outra forma. As atrocidades que estão acontecendo contra as mulheres são reflexos de outras questões, como o extremismo, como o moralismo, como o fanatismo religioso, o preconceito e todas as fobias contra a liberdade da mulher e, sobretudo, a liberdade de vivermos cada um a sua realidade, a sua possibilidade. Este ato marca em Santa Maria mais uma frente, mais uma oportunidade de estarmos aqui em defesa das nossas vidas e em memória das que já foram retiradas de nós – disse a tia.

Diaine garcez, mãe de Luanne, disse ao Diário que a dor pela perda da filha nunca vai passar e que espera que a dor dela nunca seja sentida por outras mães. 

Foto: Rian Lacerda (Diário)

​– Hoje estamos em período de Natal, mas a falta que a Luane faz nunca vai ser descrita. Ela é uma filha amada e ela deveria estar aqui comigo porque ela era jovem e não é a sequência certa da vida. Então eu desejo que outras mães não venham sofrer o que eu sofro — disse.

A prefeitura de Santa Maria também se fez presente no evento por meio da assistente social Juliane Silveira, do Centro de Referência da Mulher (CRM), localizado na Rua Tuiuti, 1.835. O Centro atende mulheres maiores de 18 anos que têm medida protetiva ou por demanda espontânea. 

Juliane Silveira à direita. Foto: Rian Lacerda (Diário)

A gente tem psicólogo, assistente social e orientador jurídico, e traçamos com a mulher um plano para que ela enfrente a situação da violência, para que ela se desenvolva, para que ela busque e entenda que não está sozinha. Essa é a missão que a gente deixa enquanto centro de referência, enquanto prefeitura de Santa Maria, garantir que essa mulher tenha apoio para enfrentar o seu agressor – explicou.

O ato também serviu para alertar sobre a dimensão racial da violência de gênero. A enfermeira Leila Coutinho, presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir), órgão colegiado permanente e autônomo, de caráter consultivo, fiscalizador e articulador das políticas de promoção da igualdade racial, utilizou o microfone para relatar o cansaço diante da recorrência dos casos. Ela pediu por maior visibilidade para a mulher negra. 

Foto: Rian Lacerda (Diário)

–  Nós sabemos que quem mais morre neste país vítima de feminicídio são as mulheres negras. E a preocupação é como estão essas crianças. Falta um elemento racial, falta letramento de gênero. Todas as vidas são importantes, mas hoje, no nosso país, as vidas que mais sofrem e mais morrem são as mulheres negras, mulheres pretas, em sua maioria mães solo – afirmou.

O ato público seguiu até o fim da manhã, quando um grupo de capoeira entrou em cena, encerrando a mobilização no centro da cidade. A organização teve a cooperação de sindicatos e coletivos como Sedufsm, Cpers, Coletivo Ressignificar da Assufsm, Sinasefe, Sindibancários, Juntos! Juntas, Alicerce, UJC e UBM.

Foto: Rian Lacerda (Diário)

Feminicídios crescem no RS

O número de feminicídios voltou a crescer no Rio Grande do Sul. Entre janeiro e setembro de 2025, 57 mulheres foram assassinadas no Estado, conforme dados divulgados pelo governo estadual. No mesmo período do ano passado, foram 47 mortes, um aumento de 21%.

As tentativas de feminicídio também subiram. Foram 205 casos, alta de 23% em relação a 2024. Além disso, mais de 13 mil mulheres sofreram lesões corporais nos nove primeiros meses do ano, o que representa, em média, 48 vítimas por dia. Diante do cenário, o governo do Estado informou que estuda uma proposta que aposta na tecnologia como aliada para conter o avanço da violência de gênero.

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