Em 1951 nos mudamos para São Paulo e o pai me matriculou no quinto ano da Escola Americana, no Mackenzie. Depois, lá mesmo, o ginásio e o colegial (não o científico, o curso clássico de então).
Aluno do professor Massaud Moisés – hoje meu confrade na Academia Paulista de Letras! –, responsável pelo meu encanto pela literatura, decidi enfrentar dois cursos, um na Faculdade de Filosofia da USP, outro na Faculdade de Direito do Mackenzie. As duas frente a frente, na Rua Maria Antônia.
Por conta disso não prestei vestibular na Faculdade de Direito das Velhas Arcadas do Largo de São Francisco. Logo que as aulas começaram descobri, no entanto, que minha vocação era o Direito. Daí que assim que completei o bacharelado lá me fui para as Arcadas, onde fiz o doutoramento e, no dia 4 de maio de 1973, sustentei tese, com sucesso. Já no semestre seguinte, assumi a função de professor assistente doutor na cadeira de Direito Econômico! Deixei-a compulsoriamente, ao completar 70 anos.
Aposentado sim, porém, para todo o sempre professor da velha Academia do Largo de São Francisco. Lá onde mora a amizade, lá onde mora a alegria, no largo de São Francisco, na velha Academia. Trilhei vários caminhos em meus 77 anos, na magistratura judicial, como advogado, tentando fazer literatura. O que mais me comove, contudo – além de ser gaúcho de Santa Maria –, são as Arcadas!
Durante a última reunião da congregação da Faculdade de que participei, dias antes de me aposentar, meu coração falou por mim, expandiu-se. A tal ponto que eu gostaria de repetir um trecho do que disse então.
Disse, então, que ali era – e continua a ser, para sempre! – o meu lugar. Que ser professor das Arcadas foi o sonho da minha vida. Que penso comigo mesmo, ao divisar o busto de Álvares de Azevedo no Largo de São Francisco, que sou um homem simples. Simples, mas se alguém um dia lembrar-se de mim, no futuro, dirá: ele nasceu em Santa Maria da Boca do Monte e foi-se para longe, para ser professor das Arcadas; lá onde mora a amizade, lá onde mora a alegria! Sonhou com elas e as amou na vida.
Tudo o que fui, sou e serei resultou ☺– resultará, talvez, visto que ainda ando por aqui – do fato de eu ter nascido gaúcho e ter sido professor das Arcadas. O pátio, suas salas de aula, corredores, isso é que tem significado para mim. Aquela Faculdade é minha. Abraço-a e ela me toma em seus braços, amorosamente.
Glosando uma velha quadrinha, “a moça disse pra outra/ com o Eros eu não me arrisco/pois ele ensina Direito/no Largo de São Francisco!”. Ser das Arcadas! Vocês que agora leem o que escrevo no jornal da minha terra não imaginam o que isso significa para quem é enlaçado, como eu, por seus braços e as traz, estas Arcadas, para bem próximo ao peito.