Fotos: Cappa/UFSM (Divulgação)
À primeira vista, o fragmento não impressiona pelo tamanho: são menos de três centímetros de comprimento. Mas olhando bem de perto, vem a surpresa. O pequeno fóssil encontrado em um afloramento localizado no município de São João do Polêsine por pesquisadores do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica, da Universidade Federal de Santa Maria (Cappa/UFSM), revelou uma descoberta inédita para a ciência. O material corresponde ao primeiro registro conhecido de um rincossauro perinato, um filhote que acabara de sair do ovo, que viveu há mais de 230 milhões de anos. O estudo foi publicado no Journal of Systematic Palaeontology e divulgado pelos pesquisadores na última quinta-feira (11).
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Os rincossauros foram répteis herbívoros que conviveram com os primeiros dinossauros durante o período Triássico. Conforme o paleontólogo Jossano Rosso Morais, um dos autores do estudo, eram considerados fósseis-guia desse intervalo geológico, eram extremamente abundantes e ocuparam praticamente todo o planeta. Segundo ele, a morfologia desses animais era bastante característica, especialmente a estrutura bucal adaptada ao corte eficiente da vegetação. Essa peculiaridade também é destacada por Flávio Pretto, pesquisador do Cappa e coautor do trabalho.
– Eles tinham um aparato bucal muito peculiar, que lhes permitia cortar a vegetação com bastante eficácia, quase como uma tesoura de poda – afirma.

O que diferenciou o novo achado de outros fósseis de rincossauros já catalogados pela instituição foi justamente o tamanho reduzido.
– Rincossauros eram animais de porte relativamente grande, com mandíbulas de cerca de 20 centímetros de comprimento e um corpo que podia ultrapassar dois metros. O novo fóssil tem cerca de um décimo disso – explica Rodrigo Müller, também autor do estudo.

Processo de estudo
Devido à delicadeza do material, os pesquisadores recorreram à microtomografia de raio-X, uma técnica que permite analisar estruturas internas sem danificar o fóssil. A análise revelou dentes praticamente intactos, detalhe que foi importante para determinar a idade do animal.
– Ao longo da vida, os rincossauros desgastavam completamente os dentes ao ranger as arcadas superior e inferior durante a alimentação. Neste caso, quase não há sinal de desgaste, o que indica que se trata de um recém-nascido, que mal teve a chance de se alimentar antes de morrer – afirma Pretto.
A partir das características, o fóssil foi atribuído a Macrocephalosaurus mariensis, espécie do Triássico do Rio Grande do Sul e até então conhecida apenas por fósseis de indivíduos adultos. Trata-se, também, do rincossauro mais imaturo já descrito pela ciência. Conforme os pesquisadores, a descoberta permite compreender como a anatomia desses animais se modificava ao longo do crescimento.
– É um achado extremamente importante. Agora sabemos que o Macrocephalosaurus já nascia com duas fileiras de dentes na mandíbula, algo típico da espécie. A arcada superior, porém, ainda era incompleta e se desenvolveria ao longo da vida, o que provavelmente influenciava diretamente a dieta – finaliza Pretto.

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