superação

VÍDEO: com bom humor, Fernanda Binato conta o dia a dia de uma amputada

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Foto: Rodrigo Ricordi (Diário)

Aos 10 anos, Fernanda Binato foi bicampeã estadual de tênis, curtiu a juventude repleta de amigos, apaixonada por atividades físicas, baladas, se formou em odontologia. Em 2017, aos 25, um certo dia, ao levantar da cama, a dor de ter o fêmur fraturado foi o estopim para uma mudança radical na vida da jovem. O diagnóstico era câncer no osso da perna direita. A solução: amputar o membro. Hoje, aos 30 anos, fez de um limão uma limonada e, sem perder o bom humor, ajuda outras pessoas com histórias semelhantes à dela em sua conta no Instagram, que tem mais de 27 mil seguidores, e em palestras. No YouTube, divulga vídeos do Diário de uma Perneta com falas descontraídas sobre como é a rotina e dá dicas de próteses. 


E AGORA, COMO LIDAR?

Com ar tranquilo, Fernanda conta sobre o dia que descobriu que tinha câncer e, em seguida, que teria que amputar grande parte da perna direita. Com o instinto de sobrevivência em alerta, decidiu abrir o coração e a mente para o que fosse o melhor para a saúde.

- Ali, a minha vida parou. Eu fiquei ainda três meses acamada, com fixador externo. Então, a perna já não estava "servindo para nada". Esse período foi importante para eu trabalhar a minha aceitação. E quando o médico disse que teria que amputar, eu aceitei na hora, o importante era eu ficar viva. E foi um alívio. Depois da retirada eu pude voltar a fazer coisas simples como ir ao banheiro, por exemplo - relembra.

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Fernanda admite que lidar com a falta de um membro não é uma missão fácil no início, fica mais leve com o tempo, mas, por vezes, o sentimento retorna:

- Às vezes, parece que eu caio na real. Porque as coisas aconteceram tão intensamente, que eu penso, "opa, eu não tenho duas pernas, opa, eu tive câncer". Então, tem dias em que fico mal com isso, mas eu nunca me deixei abalar. Prometo para mim que no outro dia eu vou estar com o sorriso no rosto.

Segundo a psicanalista Luciana Portella Kohlrausch a formação da imagem corporal, é feita numa fase muito inicial da vida humana e que essa imagem, quando afetada, pode desestabilizar psiquicamente o indivíduo.

- Cada caso é um caso e as maneiras de lidar com isso são por aí, que cada um possa se amparar em coisas que dizem respeito a sua história e que possam, de alguma forma, atualizar essa imagem - explica.

Um dos pontapés (como ela brinca) iniciais para a aceitar a nova condição e imagem foi ao ser fotografada. Mas isso é assunto para mais adiante.

DETERMINAÇÃO

Foto: Marcelo Oliveira (Diário)

O fisioterapeuta Ricardo Flôres, primo de Fernanda, foi quem a atendeu primeiro após a fratura do fêmur. O profissional acompanhou o processo desde o início e destaca a forma com que a prima lidou com a realidade da amputação da perna direita.

- Após o período de diagnóstico, eu tinha uma preocupação muito grande de como ela iria lidar com todo esse doloroso processo de reabilitação, adaptação e aceitação de tudo que estava acontecendo.E o que percebi foi que a pessoa mais forte durante toda a situação era justamente ela. Foi incrível a forma como ela lidou com tudo isso sem medo do que viria pela frente, sempre buscando pesquisar sobre o assunto de uma forma muito leve e segura - avalia.

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Ele ressalta que Fernanda, hoje, após todo o período de tratamento e fisioterapia compreende completamente todas as mudanças que a amputação e a quimioterapia implicaram nela:

- Ela faz tudo parecer simples e continua buscando constantemente evoluir fisicamente e mentalmente, ela é um grande exemplo de força e superação das dificuldades. E em nenhum momento deixou de falar do assunto com o mesmo sorriso no rosto de sempre, admiro demais ela pela garra e por tantas pessoas que ela inspira.

No ritmo acelerado da vida, Fernanda conta que se movimentar é quase um vício. Antes, jogadora de tênis, descobriu na água um novo meio para relaxar a cabeça:

- Eu nunca parei. Faço fisioterapia, musculação e descobri a natação, estou apaixonada. Não vou voltar a jogar tênis, mas dou umas raquetadas às vezes. Tudo é um desafio. Se me chamarem para escalar uma montanha eu topo. Posso não conseguir, mas vou tentar. 

FOTOGRAFIA

Fotos: Rodrigo Ricordi (Diário)

Dois meses depois da cirurgia, Fernanda teve a oportunidade de fazer um ensaio com o fotógrafo Daniel Becher. Um momento, que segundo ela, mudou a percepção sobre o corpo, que agora tinha uma parte faltando. Desde então, já fez alguns outros ensaios, inclusive para publicidade e é influencer da empresa que fabrica sua prótese.

- Pensei que seria uma oportunidade de me ver de uma forma diferente. Ali, me vi bonita, maquiada. É uma forma de se ver com mais profundidade. Ali eu vejo uma mulher forte e linda. Por trás daquelas fotos tem toda a minha história. O corpo não é nada, o que importa é o que somos por dentro, a nossa personalidade, a nossa essência. Mas acho muito importante a inclusão na moda, no mercado. Nós somos todos iguais, independente da cor, de quantas pernas temos. E isso é muito bom para as crianças entenderem essa diferença, que tem pessoas de todos os tipos, mas são pessoas. Hoje em dia, já tem desenho animado com personagens amputados, por exemplo, o que é muito bom.

O fotógrafo Daniel Becher conta que se interessou pela história de Fernanda após ouvir o relato da irmã dela. Como trabalha com fotografias que prezam pela naturalidade e mínimos retoques, resolveu desenvolver o trabalho.

- Ela dá um tapa de luva nas pessoas que reclamam da vida. Quando fizemos as fotos, ela cativou a equipe, mesmo sendo recente a amputação. Conversei com ela sobre os hematomas, sobre a gente deixar ela bem carequinha, pois já havia crescido um pouco de cabelo. Ela é um exemplo. Criamos uma grande amizade e pude fotografar ela em outras oportunidades - relembra o profissional.

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Fernanda conta que logo que soube que perderia a perna, já iniciou a buscar conteúdo na internet. Inspirada na modelo Paola Antonini, percebeu que havia poucas pessoas compartilhando experiências e vivências.

- Vi que aquilo me ajudou muito e pensei que também poderia ajudar outros. Foi muito natural, comecei a compartilhar o meu dia a dia, e as pessoas começaram a me procurar para falar sobre. Eu senti essa necessidade de mostrar que a gente consegue seguir a vida mesmo sem uma perna - relembra.

Segundo a influencer, ao compartilhar essa experiência de uma forma mais leve e divertida as pessoas conseguem se identificar mais. Para ela, é mais tranquilo falar tanto da amputação quanto do câncer, que é um conteúdo bem mais difícil de lidar:

- É um momento bem delicado. Tento sentir como as pessoas estão se sentindo, quando vai ser a cirurgia. A amputação não é o fim do mundo, existe uma nova vida depois. Não é fácil. A adaptação e a aceitação precisam de um longo trabalho. Mas a gente consegue seguir a vida, trabalhar, estudar, sair com os amigos. Com prótese ou não, o que é uma perna perto da nossa vida? Hoje, eu me sinto uma pessoa muito melhor.

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