claudemir pereira

Inconformidades internas na campanha

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Que ninguém imagine, só porque as convenções partidárias assim determinaram, que as agremiações e seus militantes estejam devidamente afinados, com os derrotados aceitando, acolhendo e assumindo a posição dos vitoriosos. Não, decididamente, não. Há, ainda, um punhado de divergências a ser resolvidas em meio à campanha, de maneira a não prejudicar o resultado final.

O que o primeiro dia de propaganda reserva ao eleitor?

De todo modo, quem, como parece ser o determinismo histórico, melhor começa a tratar o assunto, é o PT. Ainda há resmungos aqui e ali, mas se percebe aos poucos uma unidade se fechando, de maneira que as restrições à aliança com o centrista PSD e seu bolsonarismo aos poucos ficam no fundo do coração e o pessoal se apruma para pedir voto.

Também começam a se ajeitar os emedebistas recalcitrantes que, não obstante uma postura pública de unidade, faziam chegar ao repórter, com recados aqui e ali, sua inconformidade com o afastamento das decisões estratégicas das quais são sócios, com o majoritário PP de Sergio Cechin. Aparentemente, o conformismo com o óbvio se impôs e se busca a melhor convivência possível. Afinal, o consórcio se formou e o jeito é buscar a vitória - como disse um prócer ao escriba.

Assim, se petistas e emedebistas tendem a se acomodar, com outras duas siglas a situação está longe de ter solução prática. Do ponto de vista cartorial e legal, tudo resolvido.

Isto é, o Podemos, depois das escaramuças em meio às convenções, está mesmo formalmente ligado à coligação liderada pelo PSDB de Jorge Pozzobom.

Da mesma forma, acrescente-se, que o PSL. O partido que abrigou o presidente Jair Bolsonaro e o conduziu à vitória, em Santa Maria até mesmo o vice do tucano foi indicado e acolhido. No caso, o empresário e cristão novo na política Rodrigo Decimo.

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Isso significa, então, que tudo está as mil maravilhas entre podemistas e pesselistas? Creia: não está. Pode ficar, mas por ora, não.

No caso do Podemos, há uma situação não suficientemente explicada. Afinal, o partido tem poucos filiados em Santa Maria, mas contribui com bom tempo na propaganda de rádio e televisão. E o acordo foi "por cima". Cá embaixo, o cechinismo tem maioria. E na campanha, como será? Afinal, legalmente, o material de campanha terá de, obrigatoriamente, citar a aliança formal com Pozzobom.

E em relação ao PSL? Decimo e dirigentes locais a parte, há identificados com lideranças estaduais que até já fotografaram com Cechin, o preferido delas. Como ficará? Tem militante fazendo campanha para candidato a vereador do PSL e a Cechin para prefeito. Punição? Nesses tempos politicamente volúveis, improvável.

Os casos aqui citados - PT, PSL, MDB e Podemos - talvez sejam residuais. Mas, se não forem tratados, podem minar pretensões individuais e coletivas, como bem sabem os mais antigos. 

Romaria da Medianeira e milhares de pessoas eleitoras. Neste ano, não
Do que mais precisa um candidato a qualquer cargo? Voto, claro. E como consegui-lo? Ainda não inventaram jeito melhor que convencer quem vota, o eleitor. Gente, portanto. E onde se encontra eleitor? Afora os contatos individuais, a melhor chance é quando eles se reúnem massivamente. Quando a mensagem pode ser entregue ao mesmo tempo e no mesmo espaço. 

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Foto: Renan Mattos (Diário)

É onde entram, por exemplo, e desçamos à terra para falar do pleito de 15 de novembro, os normalmente lotados desfiles da Pátria e do Gaúcho, em 7 e 20 de setembro. Esses, porém, já passaram e sequer aconteceram. Chances perdidas, portanto, nesses tempos pandêmicos. A Avenida Medianeira lotada pela população, eleitores incluídos, fica só na memória.

Pois, agora, dois eventos que têm a Igreja Católica como origem também estão indo às cucuias. Um duas semanas antes da eleição. Outro, alguns dias depois do segundo turno (se houver).

O maior deles é a Romaria da Medianeira. Todos os seus atos serão virtuais ou, no mínimo, para lá de limitados. Do ponto de vista do devoto, uma tristeza. Pensando no eleitor, um desastre. Em vez de 200 mil (número modesto), 200 nas ruas da cidade. Tudo o mais será online, ou drive-thru ou o que for, menos no olho no olho, algo tão caro a quem quer convencer a votar nele.

O outro, bem mais ideológico, é a Feira do Cooperativismo, promovida e organizada pelo Projeto Esperança/Cooesperança. Já foi perdida a chance em julho, data habitual e que, bem em meio à pandemia, levou ao adiamento inevitável. Pois agora se sabe que também a de dezembro, com efeitos político-eleitorais mais estratégicos (e não pontuais, pois a eleição já terá ocorrido), será igualmente virtual.

Enfim, a vida dos candidatos, especialmente daqueles sequiosos por ser conhecidos, está cada vez mais complicada. Encontrar a massa? Só a da pizza. A das gentes, não.

A dura sina dos candidatos à Câmara de Vereadores
Desde esta sexta-feira, 9, e até a quinta-feira, 12 de novembro, que antecede o primeiro turno da eleição municipal, as emissoras de rádio e televisão locais exibirão 1.949 inserções dos candidatos a vereador. Começa aí o martírio dos 342 pretendentes às 21 vagas disponíveis, registrados no Tribunal Superior Eleitoral. 

Sim, eles têm, somados, 40% do total do tempo - sobrando um latifúndio para as seis duplas que disputam a prefeitura. Uma injustiça que precisa ser reparada, se considerar-se que, de lambuja, os pretendentes ao Centro Administrativo têm 100% do tempo, no caso dos dois blocos de 10 minutos diários (ou quatro, se considerados os dois veículos, rádio e televisão).

Quando você desce às minúcias, a situação fica ainda pior para os candidatos a uma cadeira no Palacete da Vale Machado. Tome-se um partido menor, com apenas três candidatos ao Legislativo, caso do PSol. O trio, somado, tem 48 inserções ao longo dos 35 dias disponíveis para o trololó. Cada um deles tem, respeitados os critérios partidários, 16 inserções. Algo como uma a cada dois dias, não se sabe que momento do dia.

Agora, pegue-se uma agremiação maior, com 31 concorrentes. O PSDB, por exemplo. A sigla tem 119 inserções. Divididas pela quantidade de candidatos, tem-se, arredondando, quatro inserções para cada um. Ou uma a cada oito dias. Convenhamos: é de chorar no cantinho. E em silêncio.

Nesse cenário, somente com muita criatividade e talento político para conseguir se destacar no meio de quase 350 concorrentes.

UM LADO E...
Está bastante clara a função de Rodrigo Décimo (PSL), na aliança liderada pelo atual prefeito Jorge Pozzobom (PSDB). Inclusive por sua atuação na presidência da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços (Cacism), Decimo é uma espécie de ponta de lança, que faz a intermediação política entre a chapa e o empresariado. Nesta semana, por exemplo, teve encontros diários com dirigentes do setor produtivo.

...OUTRO LADO 
Sem empresário na chapa, a dobradinha Sergio Cechin (engenheiro), do PP, e Francisco Harrisson (médico), do MDB, busca seus aliados próximos para tratar da relação com as entidades. E também tenta compensar isso com os contatos de parceiros próximos ou alinhados com os empresários. Essa questão pode não ser decisiva, mas há nítida importância em estabelecer pontes, reconhecem os articuladores.

PADRINHO
Se havia alguma dúvida acerca da importância dele para a coligação PT/PSD (Luciano Guerra/Marion Mortari), os primeiros movimentos da campanha iniciada na semana passada já deram a dica. Sim, Valdeci Oliveira é o grande padrinho da união, com atividades cotidianas via internet e mesmo ao vivo. O sucesso (ou não) da aliança está muito vinculado ao deputado.

PRIMEIRA BAIXA
A primeira baixa da campanha foi Marco Jacobsen. Com a repercussão intensa (e negativa) de seu vídeo negacionista e contrário ao cumprimento da Lei da Máscara, que viralizou na internet, viu-se afastado das funções que tinha na aliança Cechin/Harrisson, além de ver "aceito" pelo presidente Mauro Bakof (foto) e demais integrantes da Executiva, seu pedido de desligamento da vice-presidência do PP.

PARA FECHAR
Pode ter certeza: até 15 de novembro não há chance alguma de projeto relevante, muito menos polêmico, encontrar guarida na pauta da Câmara de Vereadores. Até lá, uma única preocupação move os parlamentares: garantir sua cadeira para o próximo quadriênio. Isso vale, inclusive, para os edis que não concorrem. Afora serem minoria, estão ocupados em angariar votos para seus candidatos a prefeito.

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