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Dias atrás faleceu mais um amigo médico. Meu coração se encheu de tristeza, de questionamentos e outros tantos sentimentos que tomam o coração de quem perde um amigo, trabalhador. Parei, pensei como meus amigos médicos têm morrido cedo, e não só os homens. Minhas amigas médicas também têm morrido mais cedo ainda. Preocupada, fui investigar sobre o assunto, se era apenas uma observação isolada, pela minha dor, ou de fato está ocorrendo algo errado ou pelo menos evitável. Busquei publicações sobre o tema na internet, pensando que iria encontrar vários estudos e trabalhos publicados, afinal os médicos estão entre os maiores pesquisadores do Brasil e do mundo e, portanto, devem estudar mortalidade médica. Engano meu. Temos poucas publicações disponíveis sobre o assunto. Uma especial me chamou atenção, feita pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Com o título Estudo da mortalidade dos médicos no Estado de São Paulo: tendências de uma década (2000-2009), é baseada em dados provenientes do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (DATASUS).
A pesquisa foi feita com dados de 2.927 declarações de óbitos de médicos no Estado de São Paulo entre os anos de 2000 e 2009. É uma pesquisa detalhada, mas alguns de seus achados demonstram que minha observação estava correta. Os médicos (sexo masculino) têm morrido mais cedo do que a população em geral, cerca de dois anos mais cedo. E as médicas, no período estudado, morreram, em média, 10 anos antes do que os homens médicos. Entre as mulheres, a idade média de morte é de 59,2 anos, enquanto que entre os homens esta média é de 69,1 anos. Ainda no estudo chama a atenção o fato de a idade de morte das mulheres médicas ser bem inferior à dos homens. Esse é um dos principais dados desse estudo e leva à necessidade de reflexão sobre o estilo de vida dessas mulheres. Estariam os compromissos profissionais e o papel de mãe chegando a um ponto insustentável, refletindo-se no desenvolvimento de neoplasias decorrentes do estresse, visto que a maior parte das mortes ocorre na faixa de 50 a 59 anos e é decorrente de neoplasia? O estudo é muito interessante e preocupante. Embora apresente limitações como a maioria dos estudos, o trabalho científico faz questionamentos e apresenta questões importantes. É possível imaginar que a prática médica no Brasil tem se tornado cada vez mais difícil devido a um conjunto de fatores que têm produzido um aumento do estresse do médico.
Segundo os autores Nogueira-Martins & Nogueira-Martins, 1998 : "Alguns desses elementos que pressionam os médicos e que podem estar influenciando a qualidade e expectativa de vida desses profissionais, além da natureza já estressante da profissão, são a presença dos convênios médicos que oferecem baixa remuneração pelas horas de trabalho, a criação incessante de novas escolas médicas, levando ao aumento do número de profissionais e ao aumento da competição entre os médicos, a necessidade constante de atualização devido ao acelerado desenvolvimento de novos recursos diagnósticos e terapêuticos e a promulgação de novas normas e leis que favorecem o aumento do número de processos na esfera judicial.
Minhas preocupações são realmente relevantes, com amigos e amigas médicas que têm morrido cedo. Muito mais cedo do que os demais. Espero que novas pesquisas sejam feitas e que os médicos passem a cuidar mais de sua saúde e da forma que levam suas vidas, pois a vida passa muito depressa e parece que para eles e, em especial, para elas, muito mais. Cuidem-se médicos e médicas e cuidem mais desses profissionais. Eles também adoecem.