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Sobre as alegrias e as tristezas do mês de agosto

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Esse frio persistente e agudo dos últimos dias, de alguma forma, me fez, sem qualquer laivo de saudosismo, mergulhar nas invernias do tempo do eu-menino nas longínquas várzeas enregeladas do Empedrado, no Capão Grande, interior do interior de Dilermando de Aguiar. Certamente já escrevi sobre situação análoga em outros dos nossos ultimamente escassos invernos. Mas, vá lá, repitamos, afinal esta é uma maneira razoavelmente tranquila de começar uma crônica que se propõe recordar coisas que vão de uma vaga saudade de bergamotas e laranjas colhidas no quintal, e ali mesmo saboreadas, aos tristes episódios históricos de 6 e 9 de agosto de 1945.

Esclareço, como sempre faço quando um texto meu é publicado em data próxima ou coincidente com esses dias de agosto, que assumi comigo mesmo o compromisso de lembrar dos funestos acontecimentos de Hiroshima e Nagasaki, com o propósito de colaborar para que jamais nos esqueçamos do horror das bombas atômicas Little Boy e Fat Man e das dezenas de milhares de vítimas inocentes que pereceram nessas cidades japonesas, já nos estertores da Segunda Guerra Mundial.

Assumi tal compromisso quando entendi a trágica dimensão desses episódios históricos e suas inquestionáveis consequências não apenas no ordenamento geopolítico global, mas para a própria sobrevivência da humanidade e para o incerto futuro de nosso planeta.

Mas o mês, malgrado os epítetos que lhe pespegaram a natureza e as tragédias humanas ("mês do cachorro louco", "mês que mata cavalos velhos"), não é feito apenas delas. E, para além dos doces sabores da minha infância, pessoalmente, fui brindado com esperanças que novas vidas sempre significam. Uma das minhas filhas, Larissa, e minha neta Antonella nasceram em agosto. Em agosto também nasceram, casualmente no mesmo dia, dois dos irmãos mais queridos que a vida me deu - Paulo Alberto da Silva Mello e Maurício Baptista Berni -, ambos precocemente falecidos.

Para o Brasil, agosto trouxe o suicídio de Getúlio Vargas e, depois, a renúncia de Jânio Quadros, com as danosas consequências políticas, sociais e econômicas que até hoje enfrentamos. E também a estranha morte de Juscelino Kubitschek de Oliveira, que não pode ser dissociada dos eventos anteriores.

No mundo, mais remotamente, a França foi o palco da sangrenta Matança de São Bartolomeu (desde sempre, os homens matam e esfolam em nome da religião) e também foi em agosto que teve início a Primeira Guerra Mundial. E a renúncia de Nixon, pego com a boca na botija no escândalo de Watergate. E a invasão, pela antiga União Soviética, da então Tchecoslováquia, pondo fim à celebrada Primavera de Praga, que Alexander Dubcek liderou com apoio de intelectuais reformistas e dissidentes do Partido Comunista Tcheco.

É, amigos, como ocorre com todos os meses, em agosto, há fatos que alegram e fatos que entristecem. Pena que, frio de renguear cusco à parte, tenha sido em agosto, mês de algumas das minhas maiores alegrias, que a besta-fera habitante dos corações humanos mostrou, com requintada crueldade, sua nova e mais destruidora face.

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