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PT e PSDB: almas gêmeas?

data-filename="retriever" style="width: 100%;">A confusão causada pelas prévias do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) nos remete às suas origens e à sua relação com o Partido dos Trabalhadores (PT). O PSDB foi fundado em 1988, ano da promulgação da nova Constituição, a partir de uma cisão do MDB que mesclava a social-democracia, a democracia cristã e o liberalismo econômico e social. No espectro ideológico, tinha afinidade doutrinária com o centro-direita. É inegável, na fase inicial do Partido, a influência das ideias de Tony Blair, líder do Partido Trabalhista inglês, e que foi primeiro-ministro do Reino Unido, de 1997 a 2007, e figura de destaque do chamado neoliberalismo.

O PT foi fundado em 1980, no momento mais crítico da ditadura militar, com o país à beira da hiperinflação, moratória da dívida externa e recessão batendo à porta. Ao mesmo tempo, era crescente o desgaste da ditadura junto à opinião pública, o que fortalecia os movimentos sociais, como a campanha pelas "Diretas Já". Nascido no berço do sindicalismo nacional - o ABC paulista, coração industrial do país - o PT congregou, no início, um leque grande de intelectuais de correntes de esquerda e centro esquerda e de trabalhadores conscientes de seu poder de, através de greves, obrigar os patrões a ceder às suas reinvindicações. No meio destes últimos, surge a liderança carismática de Lula. Entre os primeiros, muitos deixam o Partido ao perceberem que o socialismo nunca foi uma opção real para o PT. Aliás, o próprio Lula admitiu publicamente "jamais ter sido socialista".

A experiência do primeiro mandato de Lula comprovou o que ninguém em ambos os partidos jamais teve coragem de admitir publicamente: PT e PSDB seriam "almas gêmeas". A diluição das ideias originais do PT não foi por acaso. Dirigido pragmaticamente por um grupo hegemônico, o projeto do partido afastou-se da esquerda e aproximou-se, cada vez mais, da visão da social-democracia. Aliás, em razão de sua sólida base social e sindical, o PT identifica-se mais com as siglas da social-democracia europeia do que o próprio PSDB. Isso explica, inclusive, porque Lula foi tão bem recebido pelos líderes europeus em sua recente viagem à Europa.

Aparentemente, o PT aderiu a uma antiga tese do PSDB, de que o modelo econômico deve ser permanente. O que os partidos disputam nas eleições presidenciais são apenas competências para geri-lo. Assim, a ambição do PT era alcançar o poder para governar com mais sensibilidade social do que o PSDB. Essa visão ficou clara no primeiro mandato de Lula (2003-2006), onde a política econômica (com exceção das privatizações) foi a mesma do PSDB. Antes da posse, na célebre "carta ao povo brasileiro", Lula se dirigia ao mercado prometendo respeitar os contratos e obrigações do governo anterior, sinalizando que não haveria mudanças na política econômica. Dito e feito.

Mal comparando, PT e PSDB seriam equivalentes, respectivamente, aos partidos Democrata e Republicano dos Estados Unidos. E, assim, ambos os partidos se alternaram no poder no período pós-democratização. Havia diferenças pontuais, mas o jogo de poder era limpo. Tudo mudou quando o candidato derrotado nas eleições de 2014 (Aécio Neves) não reconheceu a derrota. Dali para a frente, O PSDB perdeu o centro e embarcou na aventura da extrema-direita que culminou com a vitória de Bolsonaro. Na eleição de 2018, de forma oportunista, candidatos do PSDB disputavam, despudoradamente, o apoio de Bolsonaro - casos dos candidatos pessedebistas Eduardo Leite e João Dória.

Mais preocupado em se vingar do PT, o PSDB não teve escrúpulos em reforçar o mantra do "antipetismo", sem o qual Bolsonaro não ganharia as eleições. Vale lembrar que, sem o apoio do PSDB, o impeachment de Dilma Rousseff não teria prosperado. Mesmo com todo o desgaste da "Lava Jato", o PT continua "de pé" e tem, pelas pesquisas, grande chance de vencer a eleição de 2022. Já o PSDB, tudo indica, não terá capacidade para liderar uma coalisão de centro-direita ou de direita, a chamada "terceira via". Provavelmente, uma candidatura outsider da política irá ocupar o seu lugar. Terá um final melancólico com a fuga de seus melhores quadros ou, por ironia do destino, será salvo pelo irmão gêmeo (PT)? Quem sabe foi sobre isso que Lula e Alckmin conversaram outro dia.

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