Cultura & patrimônio cultural

PLURAL: os textos de Serginho Marques e Francisco Queruz

O legado de Albertina
Serginho Marques
Relações públicas

Nos aproximando da semana santa, me reporto ao Distrito de Santo Antão, mais especificamente à capela de Santo Antão. Tradicionalmente, a encenação da Via-Sacra é realiza por sua comunidade nas sextas-feiras santas, o que movimenta a localidade com a chegada dos fiéis. É conhecido como o dia em que os devotos sobem o santo padroeiro para sua casa no topo do morro que, popularmente leva seu nome. Anos atrás, a cidade se movimentava para o grande ato. Ônibus saiam em frente da Catedral Metropolitana no centro de Santa Maria, famílias organizavam excursões em destino ao distrito e bem anterior a isso, até em carreta de boi os peregrinos chegavam para a via sacra.

Com a bela paisagem e o contato direto com a natureza, a capela de Santo Antão é uma das unidades religiosas mais antigas de Santa Maria. Entre as festividades, está a Romaria de Santo Antão, que ocorre desde 1848, sendo considerada a mais antiga do Estado. Nela, temos a descida do santo com a festa em sua homenagem no mês de janeiro. Outra é esta que abordamos, a via sacra da sexta-feira santa, em que ocorre a subida do santo ao morro, onde a comunidade realiza a prática piedosa recordando as 14 estações de crucificação de Cristo, intercaladas com rezas e devoções.

Em tradição familiar, assíduos frequentadores da procissão, os netos e bisnetos de Albertina Araújo Athayde seguem o legado deixado pela matriarca: acordar cedo do dia e ir à "sexta-feira do Santo Antão". Nas memórias da família e, deste bisneto que escreve, a frase: "se resvalar ou cair é um pecado sendo pago" era comumente utilizada pela bisavó, tendo em vista o momento de fé e meditação.

Além da devoção, o religioso evento é marcado pela ocasião de reunir os familiares e amigos e cultuar o legado passado de geração para geração. Subir o morro de Santo Antão sempre foi uma aventura de criança prazerosa que culminava com um reforçado café da manhã em formato de piquenique em frente a capela, com o passar dos anos passou a ter um significado diferente. Além de referendar o padroeiro, com reflexões e agradecimentos, é também um sinônimo de conforto e de lembrar os entes queridos e saudosos que nos ensinaram o valor da vida e da fé. 

Comphic: ontem, hoje e amanhã
Franciso Queruz
Arquiteto e urbanista e professor universitário

A manutenção de testemunhos é um dos argumentos mais caros para o nosso reconhecimento enquanto coletividade. A sociedade em que vivemos traz memórias de tempos passados que ajudam a definir quem somos, aquilo que lembramos com orgulho tudo o que guardamos para que sirvam de exemplos e não mais aconteçam. Esse, em parte, é o papel dos monumentos, edifícios e costumes, entre outros, que guardamos na nossa caixinha de lembranças preferidas, como sociedade. Qualquer pessoa ou grupo pode reivindicar a proteção de determinado bem, desde que a situação esteja prevista na legislação, e que as justificativas para tanto sejam consideradas adequadas. Mas quem tem o papel de avaliar a coerência desses pedidos, em esfera municipal?

Em Santa Maria, esse é um dos papéis desempenhados pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic). Na verdade, o conselho, hoje, tem um papel bem maior, de promover, articular e fiscalizar políticas, programas, projetos e ações que envolvam o patrimônio cultural na cidade.

Para compreender melhor essa situação, é necessário retomar o ano de 1996, quando entrou em vigor a lei municipal 3.999, que dispunha sobre a proteção do patrimônio histórico e cultural do município. O texto dessa lei, além dos regramentos gerais para o reconhecimento de bens, também criou o referido conselho, como um órgão de assessoramento, vinculado ao prefeito. Desde aquele tempo, há mais de 25 anos, diversos foram os conselheiros que atuaram como referências para garantir o que se mantém de bens até hoje. Contudo, vale lembrar que as representações reconhecidas pela sociedade no distante 1996 foram se defasando, os órgãos desaparecendo ao longo dos anos. O conselho chegou vivo, mas um pouco cansado a 2021.

A referência foi feita a 2021, pois entre agosto e setembro daquele ano é que entraram em vigor três novas leis que prometem ditar novos rumos para a preservação em Santa Maria, 6.561/2021, 6.565/2021 e 6.566/2021. Trata-se de um conjunto de leis que aborda não apenas os princípios básicos de preservação para o município, como também a criação de um fundo para arrecadação de verbas que financie ações ou projetos da área e, ainda, uma nova composição para o Comphic.

Às vésperas de uma primeira reunião da nova composição do conselho, agora revigorado com novas representações, cabe agradecer novamente a enorme força despendida pelos antigos conselheiros e saudar os novos membros, que tragam a vitalidade necessária e o comprometimento com a memória coletiva que Santa Maria merece..


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