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PLURAL: os textos de Neila Baldi e Noemy Bastos Aramburú

Sou mais Camobi
Neila Baldi 
Professora universitária

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Moro em Camobi desde que me mudei para Santa Maria, há quase quatro anos. Escolhi viver aqui porque estou perto da universidade e tem uma infraestrutura boa. Nos arredores da minha casa, muitas árvores e praças para caminhadas. Estou a duas quadras de paradas de ônibus e posso ir a pé à padaria ou ao supermercado. Além disso, o bairro conta com uma gama de comércio e serviços.

Noto, desde que cheguei, que o bairro passa por um crescimento desenfreado. A região no entorno da Universidade é um canteiro de obras. E é aí que está o problema. Apesar boa oferta de comércio e serviços, o bairro não tem infraestrutura de escoamento de água, convivendo, há anos, com alagamentos em diversos pontos. Soma-se a isso a falta de pavimentação em muitas ruas e o estreitamento das vias. O que significa que, sem planejamento urbano, o bairro não suportará a densidade populacional.

PROBLEMAS

Vejo no caso de Camobi algo que vi quando morei em Brasília: construíram uma "cidade", Águas Claras, a 18 km do Plano Piloto. Quando planejada, devia ter prédios de oito a 12 andares, no máximo. Deixaram construir prédios acima de 20 andares. Mas não replanejaram a infraestrutura viária... Resultado: congestionamentos até aos domingos e alagamentos.

Veremos o mesmo em Camobi. E, pior, com a anuência do poder público - e aplauso da imprensa. Em 2019, foi capa do Diário a reforma do Calçadão. Quem financiaria? A empresa que anunciava a construção de um condomínio de espigões na Avenida João Machado Soares. A outra contrapartida para a obra era a reforma do postinho de saúde do bairro. E o impacto viário, ambiental e na rede de tratamento de esgotos? Nunca vi uma contrapartida que não ataque os problemas que a obra traz à região. Mas, em Santa Maria, parece que tudo pode.

CONTRAPARTIDAS

A manchete mais recente foi a de que o bairro receberá um parque "doado" por uma incorporadora que vai construir um condomínio de luxo. Trata-se de medida compensatória, não tem nada de "doação". E, de novo, sem atacar os problemas que investimentos desse porte trazem à região. Pior, o parque ficará ao lado do condomínio e, portanto, servirá de área de lazer dos(as) moradores(as). Mas, a prefeitura e a imprensa festejam...

Eu, que não sou urbanista, sei que o aumento da densidade populacional traz problemas viários e precisa de ampliação da rede de esgoto. Mas parece que a administração da cidade não sabe.

Não sou contra os investimentos. Mas como camobiense por opção - com camiseta Sou mais Camobi, inclusive - quero o bem do bairro em que moro. Para mim e para todos(as) os que vivem aqui. 

O fim de algumas tradiçõesã

Noemy Bastos Aramburú
Advogada, administradora judicial, palestrante e doutora

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A geração da minha mãe esperava fazer 15 anos para poder usar saia e debutar, já que a ditadura da moda pregava que as meninas até essa idade deviam usar "vestidinhos", e o debut era a apresentação das meninas à sociedade, o que independia da vontade delas, já que era a família quem esperava por esta data. Já os meninos da época ansiavam fazer 18 anos para ganhar um carro e dirigir. 

MUDANÇAS

As meninas da geração seguinte, continuaram por algumas décadas a esperar pelo debut, enquanto os meninos, ansiavam por ganhar carro ou moto e tirar carteira. A minha geração não esperava mais o debut, mas, assim como os meninos, ansiava fazer 18 anos para poder ganhar um carro e dirigir, encerrando a tradição europeia que, na metade do século 16, criou o baile de debutantes para apresentar as meninas à sociedade. 

A geração das minhas filhas mudou em relação aos 15 anos, ânsia pelos 18 anos, para dirigir o meu carro, não deseja mais ter o seu próprio carro, por quê? O que mudou na atual geração? Muitas coisas. 

O carro deixou de ser considerado status, e é melhor dirigir o carro dos pais, porque o tanque está cheio, do que ter o seu próprio veículo e ter que abastecê-lo; as meninas começaram a fazer parte da sociedade e a frequentar bailes antes dos 15 anos; a ditadura da moda perdeu o seu poder de decisão, as meninas não têm mais idade para escolher quando usar saia ou vestido, enfim, estamos cada vez mais vivendo o que e como queremos. Este fato é bom ou ruim? Depende, pois nada é 100% certo ou 100% errado. 

Vejamos, era linda a apresentação das meninas à sociedade. Elas deixavam para esta data a primeira maquiagem e o primeiro sapato de salto. Hoje, a maquiagem, o uso de salto e a frequência a bailes noturnos são prática rotineiras para muitas meninas, inclusive, bem antes dos 15 anos. 

Por outro lado, a autonomia gerada pela carteira de motorista facilitou muito a vida dessas jovens, pois podem ir a qualquer lugar em qualquer tempo. Porém é interessante olhar nesta situação que o comportamento dos meninos era e é o mesmo, ou seja, tirar carteira de motorista, enquanto que a mudança da situação das meninas representa uma conquista da mulher, pois muitas não gostavam de usar saias ou vestidos, outras não gostam de bailes e não queriam debutar, mas por uma imposição social eram obrigadas a isto. Aliás, essa obrigação também recaía sobre os pais, que muitas vezes sem ter recursos, eram obrigados a bancar o evento. 

Entretanto, graças à Teoria de Darwin, meninas e meninos estão todo o tempo lutando para sobreviver em nossa sociedade, extirpando da sociedade o que não lhes convêm. 

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