A manifestaçãoGiorgio Forgiarini style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> "Opico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta", disse, ainda em maio, o presidente de uma das maiores financeiras do país. Não posso ser injusto e tirar essa frase de um contexto maior. Logo após essa frase notadamente comemorativa, prossegue o CEO (aliás, que sigla patética!) ao referir que "o desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela, o que acaba dificultando o processo todo".Preocupação com as pessoas das comunidades e favelas? Não! A fala é muito clara para quem se presta a interpretá-la. Se o coronavírus não faz distinção entre ricos e pobres, negros e brancos, a elite brasileira faz. A preocupação do CEO (repito, a sigla é patética) diz respeito às dificuldades que comunidades e favelas podem trazer "ao processo todo". Confesso, não sei o que esse rapaz quis dizer com "processo todo".
O QUE SE CONCLUI DA MANIFESTAÇÃO
As falas acima reproduzidas me sugerem dois pensamentos: primeiro, duvido que o CEO tenha se expressado mal. Trata-se de uma das 50 pessoas mais influentes do mundo, segundo uma revista lida por CEOs e puxa-sacos de CEOs de todo canto. Ninguém chega a tal patamar sendo equívoco ou dúbio em suas manifestações. Daí, chego a um segundo pensamento: chegou o CEO onde está justamente por fielmente expressar, talvez de maneira sutil, o sentimento de seus parceiros e clientes, majoritariamente cidadãos da classe média e classe média alta, que não estão nem aí para o povo que pega ônibus lotado.
OS RESULTADOS
A fala do CEO veio logo após o número de mortes de negros por coronavírus explodir, enquanto o de brancos parecia estabilizar, e pouco antes do recrudescimento dos movimentos, majoritariamente encabeçados por brancos ricos (ou pretensamente ricos) pela retomada das atividades econômicas. "Pretos e pobres também pediram para voltar a trabalhar", dirá o conformista. Sim. O festival de desinformação governamental veio justamente para isso. A miséria e a bagunça no pagamento do auxílio-emergencial também. Pretos e pobres foram coagidos e o resultado disso é óbvio. Segundo estatística da Prefeitura de São Paulo, o risco de morte de negros por Coronavirus é 62% maior em relação ao de brancos. Ainda em São Paulo, o Coronavirus matou 3,5 vezes mais pessoas no Grajaú e Cidade Tiradentes (bairros pobres) do que na Moema e Jardim Paulista (bairros ricos).
ESPÍRITO TACANHO E ESTUPIDEZ
Porém, além do espírito tacanho, a estupidez também é marca da elite brasileira. Não se aperceberam que, se pobreza e violência podem ser isoladas, o coronavírus não. Recém está caindo a ficha de que o vírus está se disseminando e podem faltar leitos, remédios e tratamento, inclusive, para quem tem dinheiro para pagar. Mas agora é tarde. Passamos tempo demais dando ouvidos a asnos. Alguém dirá que estou torcendo contra. Então, tá. |
Roger Scruton e a juventudeRogério Koff style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> A mídia deu pouca atenção a estes fatos, mas o mundo perdeu recentemente dois de seus maiores pensadores. A norte-americana Gertrude Himmelfarb faleceu em dezembro de 2019, aos 97 anos. Em janeiro deste ano, morreu o britânico Roger Scruton, aos 75 anos. É triste que nossas academias de humanidades desconsiderem estes verdadeiros intelectuais em seus currículos, por serem expoentes do pensamento conservador e críticos da esquerda. Com certeza, o leitor encontrará referências aos dois em meus futuros artigos. Scruton e Himmelfarb têm sido meus orientadores intelectuais e inspiram muito do que penso sobre as contradições de nosso tempo.
MAIO DE 1968
Roger Scruton estudou em Paris, na França, na sua juventude e testemunhou as rebeliões de maio de 1968. Ele afirmou que aqueles jovens rebeldes desfrutavam de uma vasta cultura ocidental e de todas as liberdades decorrentes daquilo que denunciavam como a "civilização burguesa". Apesar de terem todas as razões para reconhecer as vantagens e privilégios decorrentes do sistema no qual viviam, decidiram que o mais urgente naquele momento ela solapar a ordem vigente. Os rebeldes de 68 caíram no canto da sereia do marxismo econômico e cultural, que prometia um novo mundo no qual a propriedade e o modo de vida "burguês" seriam abolidos. O então jovem Scruton confessou que os eventos de 1968 constituíram a principal motivação para que, no futuro, se tornasse um filósofo conservador e crítico do marxismo.
NOSSA ATUALIDADE
A tragédia se repete, inclusive no Brasil. Por qual razão jovens de esquerda sabotam o único modelo de sociedade que lhes garante a liberdade? Por que flertam com regimes totalitários que suprimem as liberdades individuais? Conheço alguns que são admiradores do regime de Cuba e Venezuela, por exemplo. Acreditam na fábula da luta de classes, no socialismo e igualitarismo como formas justas de organização. Parecem desconhecer que o Muro de Berlim foi demolido. Não estou afirmando que todas as revoltas estudantis são injustas. Lembremos dos heróis chineses massacrados na Praça da Paz Celestial em 1989. Por ignorância ou ingenuidade, jovens são transformados em massa de manobra de partidos políticos, sindicatos e organizações de esquerda, muitas vezes doutrinados por militantes travestidos de professores. Para ser justo em minhas ponderações, devo admitir que conheço muitos que trabalham e estudam. Estes buscam o conhecimento para alcançar a emancipação financeira e intelectual. Palmas para eles. Mas existe também uma minoria barulhenta que promove invasão de prédios públicos, bloqueia rodovias e deseja fazer com que todo mundo engula suas ideologias ultrapassadas. São aqueles que, apesar de ocuparem vagas no sistema de ensino público e gratuito, não trabalham nem estudam. Apenas brincam de fazer revolução. Tudo às custas do suado dinheiro do contribuinte, é claro. |