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Palavras sábias, meu caro Bobo!

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O Bobo disse ao rei Lear, quando ele lamentava os erros cometidos: "Não devias ter ficado velho antes de ficares sábio." Lembrei-me da afirmação de Shakespeare, escrita há 400 anos, ao ler o que Fernanda Montenegro, há alguns anos, falou em entrevista ao Canal Brasil: "Não tenho medo da morte, mas tenho pena de morrer. Vivi sempre muito intensamente. Eu não joguei fora nenhum momento. Eu me lambuzei de cada momento que eu vivi, que estou vivendo." Que mulher sensacional essa atriz que nós, os brasileiros, ainda temos o privilégio de tê-la em nosso meio. Ela tornou real o pensamento de Shakespeare, pois soube se tornar sábia antes de ficar velha!

Um texto de Francisco Daudt, há algum tempo, na Folha de São Paulo, tratou também da velhice. Ele me levou a pensar na vida e no tempo que passa. Afinal, é o tempo que passa ou somos nós que passamos pelo tempo? Fernanda Montenegro deixou claro que não tem medo da morte, mas, sim, pena de morrer. Entendo que assim fala só quem se sente feliz. A propósito, meses atrás, num fim de tarde, encontrei um amigo, no Calçadão. Conversa vai, conversa vem (amigos que se prezam se dão tempo para conversar...), caímos no assunto idade. Para minha surpresa, espontaneamente revelou que estava muito feliz! Logo, logo, percebi que ele puxou o freio de mão, como arrependido de ter dito o que dissera. "Noutro dia, acrescentou, falei a um colega que estava feliz e ele, como resposta, fez uma pergunta: "Mas você era infeliz antes?" Neste tempo tão cinza, tão repleto de afirmações falsas, não pude deixar de lembrar ao amigo, na conversa do Calçadão, que importava não se chamar ao silêncio, pois o mundo, especialmente a nossa Santa Maria, estavam cada vez mais carentes de pessoas felizes. Creio que gostou do que ouviu.

No texto de Daudt, a que me referi, o autor também comprova que se tornou sábio antes de ficar velho: "Então estou negando os perrengues que a idade traz? Claro que não. Só não quero levar, além da queda, o coice. Calvície? Nomes demoram a ser lembrados? Algumas dores articulares? Diminuição do tempo de sono? Ok! Paciência, mas achar que disso decorre uma retirada de erotismo e da curiosidade, do achar graça em viver?" É, meu caro Daudt, o que também penso. Esse é o caso, o desafio de todos nós ante os anos que se acumulam. Como conviver com as suas turbulências que o voo, no tempo, cobra de cada um de nós?

Como alimentar a vontade e o prazer de viajar no mundo, cultivando sonhos e novos projetos de vida? Como suscitar surpreendentes e prazerosas emoções, renovando um coração muitas vezes carregado de decepções e frustrações? Os infelizes nem sempre têm pena de morrer. Os felizes, sim!

Texto: Máximo Trevisan
Advogado e escritor

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